Diretores do Carneiro Martins deixaram cargo após pressão do NRE, diz comunidade escolar

Três dos quatro colégios que integram o programa ‘Parceiro da Escola’ em Guarapuava estão sem diretores após renúncias. Os diretores do Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins deixaram os cargos após reunião com a Chefia do Núcleo Regional de Educação (NRE). José de Alencar Rocha Loures Jr. e Patrícia Padilha dos Anjos entregaram os pedidos de afastamento no fim da tarde da última terça (27). De acordo com relatos de professores, a decisão foi tomada sob pressão, com prazo para renúncia “voluntária” até as 17h, sob risco de abertura de sindicância.

Professores ouvidos pela reportagem apontam que a saída não foi espontânea, e sim resultado de um ambiente de cobrança intensa por metas consideradas “inatingíveis”. A frequência escolar no Carneiro Martins era de 87,88%, acima da exigência mínima de 86% estipulada para escolas do programa, que recebe apoio da empresa privada Apogeu, de Minas Gerais, na gestão. Ainda assim, conforme os relatos, a pressão por resultados aumentou nas últimas semanas, com foco em avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB)

“O grupo de professores apoiou os diretores. Mas eles voltaram da reunião com a Chefia arrasados. Disseram que, se não entregassem o cargo até as 17h, haveria sindicância”, afirmou uma professora, que preferiu não ser identificada. “Assédio moral puro”, definiu.

Os dois diretores permanecem oficialmente no cargo até 21 de junho, período em que cumprem férias. Depois disso, devem retomar atividades docentes em até seis escolas diferentes cada um. Enquanto isso, o colégio segue sem nova direção nomeada.

A saída dos diretores do Carneiro Martins se soma a outros dois pedidos recentes: no Colégio Estadual Liane Marta da Costa e no Colégio Estadual Antônio Tupy Pinheiro. Em todos os casos, a decisão ocorreu após encontros com a Chefia do NRE. Para professores, há um padrão de “remoções disfarçadas” que compromete o ambiente escolar e afeta a saúde mental das equipes gestoras. Entre os parceiros da escola, a única direção que continua no cargo é do Colégio Estadual Cristo Rei. “Um dia antes, foi aprovada uma lei que obriga empresas a cuidar da saúde mental dos colaboradores. E na educação, estamos na contramão”, criticou a docente.

REPERCUSSÃO

Entre alunos, ex-alunos e pais a reação também é de perplexidade. Um vídeo de despedida, produzido pela turma de Marketing do Colégio Francisco Carneiro Martins, circula nas redes sociais com mensagens de apoio a José de Alencar e Patrícia.

Pais expressaram apoio à antiga gestão, apontando preocupação com a falta de clareza na saída dos profissionais. “Eu, como mãe de aluno, acho que deveriam fazer uma reunião pra explicar o que aconteceu. Porque eu não entendi nada. Mais algum pai ou mãe que está sem saber?”, diz um comentário. “Nós, como pais, fomos ignorados? Nossa opinião como pais de alunos não tem importância? Depois de tudo o que fizeram e fazem pelo colégio?”, questiona uma mãe.

Durante a sessão desta segunda (2), as vereadoras Professora Cris Wainer e Professora Terezinha usaram a tribuna para defender a autonomia das escolas e repudiar a condução da gestão educacional no Estado por uma empresa privada. “Precisamos garantir a gestão democrática nas escolas”, afirmou a Professora Cris. Já Terezinha declarou: “Autonomia pedagógica é um direito constitucional. O que está ocorrendo no Paraná é um crime contra o ensino público.”

Elas também mencionaram a morte da professora Silvaneide Monteiro Andrade, que sofreu um infarto durante o expediente no Colégio Estadual Jayme Canet, em Curitiba, na sexta (30). Segundo as vereadoras, a sobrecarga e a pressão por metas têm afetado diretamente a saúde mental dos profissionais da educação.

Nesse mesmo dia 30, alunos e professores realizaram uma cerimônia simbólica de despedida aos diretores, que comandaram a escola por nove anos. Um discurso emocionado, assinado pelos professores e alunos, destaca: “Nesta mala, vão também os frutos invisíveis da missão cumprida: os saberes transmitidos, os valores ensinados, as marcas profundas deixadas em cada um de nós.”

Ex-estudantes também se manifestaram. “Eles faziam de tudo pelos alunos, enfrentaram ocupações, pandemia, greve, tudo, e sempre estiveram presentes. A indignação é grande demais. Não só alunos, mas também pais e professores que votaram para que os professores escolhidos tomassem a direção se veem de mãos atadas e pedem veementemente por ajuda. Nossas escolas e educação, não deveriam e não devem ser mercadoria para o estado”, contou a ex-aluna Helena Maluf ao Portal RSN.

MOVIMENTO ESTUDANTIL

Na sexta (30), a antiga gestão do Grêmio Estudantil do Colégio Carneiro Martins, com o apoio da chapa recém-eleita e do Grêmio Estudantil do Colégio Cristo Rei, publicou uma nota de repúdio, criticando a falta de transparência da Seed. A nota questiona a versão oficial, que aponta pedido de desligamento por parte dos diretores.

A comunidade escolar não foi avisada previamente, impedindo qualquer organização para transição. Essa medida abrupta interrompe projetos importantes como a reorganização da Banda, a eleição do Grêmio e o planejamento das Provas PR

O texto denuncia ainda “assédio moral” contra diretores e professores, diante de metas consideradas “abusivas e inalcançáveis”. Em tom contundente, conclui: “Despedidas forçadas não apagam legados. O Carneiro Martins não aceita injustiças.”

Estudantes ligados à União Guarapuavana dos Estudantes Secundaristas (UGES) devem encaminhar à APP uma proposta de mobilização em resposta à situação.

NÚCLEO REGIONAL MANTÉM VERSÃO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

O Portal RSN entrou em contato com o Núcleo Regional de Educação para obter posicionamento. Em resposta, a Chefia informou que quem responde por todo o processo é a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed), e encaminhou a seguinte nota oficial:

NOTA

Os diretores dos colégios estaduais Francisco Carneiro Martins, Antônio Tupy Pinheiro e Liane Marta da Costa, de Guarapuava, decidiram voluntariamente se desligar das funções de direção escolar.

Os profissionais permanecem atuando como professores da rede estadual, em suas respectivas instituições de lotação.

Questionada se a Chefia do NRE gostaria de acrescentar algo ao posicionamento da Seed, a resposta foi negativa.

A reportagem também procurou a APP Sindicato para comentar o caso, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

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