Que o caminho pro céu não seja de Metropolitano

Já estou na porta dos 40. Sempre me achei resistente a todas as dificuldades físicas que rodeiam nosso dia-a-dia. Mas só de pensar em Metropolitano me dá um xilique.
Vejo muitas pessoas entrando felizes no coletivo todos os dias. Claro, só o usam de vez em quando e ainda é em clima de festa (ou vão fazer compras, ou a reconsultas em médico, ou à Universidade).
Faz seis meses que uso o Metropolitano diariamente de Prudentópolis a Guarapuava (06h00) e de Guarapuava a Prudentópolis (18h00). Meus joelhos já têm calos de tanto raspar no banco da frente.
Engraçado é que você acaba criando laços distantes (mas próximos) com os demais usuários diários. Você acaba dando apelidos, por não saber o nome deles. Tem a “Juba” (uma diarista que insiste no alisamento do cabelo ruim). Tem o “Dentinho” (um auxiliar de pedreiro sem os dentes da frente). Também tem o “Esquerdinha” (um vendedor de doces que não tem a perna esquerda). E por ai vai.
Através dos dias você sabe onde há lombadas e onde ele irá parar. Não consegue mais pensar nas mesmas canções e nem preparar as atividades do dia.
Já criei até o melo do Metropolitano, que é: “Ando devagar, porque já tive pressa…”, Almir Sater que me desculpe.
Essa é a minha visão.
Os demais passageiros já devem ter me dado um apelido também. Deve ser “Zangado”, ou “Dunga”, ou “Entediado”, ou sei lá o que.
Mas, de Metropolitano, não há bom humor que resista.
Sei que o caminho pro Céu é difícil. Mas peço a Deus todos os dias que esse caminho não seja de Metropolitano.