22/08/2023
Geral

Casos de repercussão ajudam doação de órgãos

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Lizi Dalenogari, da Redação

A vice-presidente da ONG Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote) no Rio de Janeiro, Amanda Costa, afirma que quando um caso de morte encefálica e doação de órgãos tem repercussão na mídia, ocorre um aumento de autorizações por parte da família dos possíveis doadores. Ela lembra que, no Brasil, mesmo que a pessoa deixe por escrito o desejo de doar os órgãos, a ação só é concretizada após autorização familiar.

“Para falar de doação, precisa falar de morte, e as pessoas têm um pouco de dificuldade para falar disso. Então, todas as vezes que acontecem casos desses, como o caso da Eloá [em 2008, em Santo André], da escola de Realengo [em 2011, no Rio de Janeiro], toda vez que você tem alguém que evolui para um quadro de morte encefálica e há a possibilidade de doação de órgãos e isso entra na mídia, faz com que a população converse um pouco mais a respeito disso nas suas casas, com os seus familiares, e facilita na hora da doação de órgãos, caso essa possibilidade aconteça com você”.

Amanda destaca que no Brasil, de forma geral, as taxas de doação de órgãos são baixas, e as condições que possibilitam a doação são muito específicas. “Geralmente são vítimas de acidente, trauma ou acidente vascular cerebral, o que torna ainda mais difícil. Não são pessoas que estão doente a muito tempo, e que a família já espera que evolua para um quadro de morte, mas é alguém que saiu de casa bem, sofre um acidente e daqui a pouco chega a notícia para a família, que ela evoluiu para um quadro de morte encefálica e há a possibilidade de doação. Então a família já está em um contexto de perda, onde ainda está sendo solicitada em um momento difícil, a doação. Então, isso torna um pouco mais difícil a avaliação da família”.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, a negativa familiar ainda é o principal empecilho para a doação de órgãos, chegando a quase 50% no estado. Os principais motivos são a falta de consenso entre os parentes e a falta de compreensão de que a morte encefálica é irreversível.

“Saber que as pessoas vão ler a nossa história e se sensibilizar com ela não é tão importante quanto sabermos que muitas vão ser tocadas, conscientizadas e irão pensar mais sobre o assunto”, diz Thaiana Vangliati Tilchler, mãe da pequena Celine Vagliati Tilchler, de 1 ano e 4 meses, que após uma queda de escada, teve traumatismo craniano, passou por cirurgia, esteve seis dias internada no Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, em Guarapuava que constatou seu óbito na tarde deste sábado (14). Os pais autorizaram a doação de órgãos de Celine que beneficiará quatro crianças. “Um ato que ameniza a dor da perda”, diz comovido o pai de Celine, Jeferson Tilchler.

Por que doar órgãos?

• As principais religiões entendem a doação como um ato humanitário.

• Antes de ser declarada a morte encefálica (confirmada por exames clínicos e de imagem), todos os esforços são feitos para salvar a vida do paciente.

• O processo de doação dura, em média, apenas 24 horas.

• A doação não impede que se mantenha o caixão aberto durante o funeral.

• Planos de saúde e SUS cobrem alguns tipos de transplantes.

• Apenas 28,25% das famílias consultadas rejeitam a doação.

Cristina Esteche

Jornalista

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