Da Folha Ilustrada
São Paulo – Na safra de (quase) anônimos que acumulam milhares de fãs virtuais, Zack Magiezi não mostra tanto o rosto quanto a maioria de seus colegas.
Seu discurso nas redes sociais é em forma de poesia – gênero raro entre os mais vendidos nas livrarias, mas que já lhe rendeu mais de 370 mil seguidores no Instagram. "A ideia tem que ser sucinta. É um soco", diz o autor.
Os poemas são produzidos na máquina de escrever que o autor ganhou de um amigo. Datilografados, os textos são fotografados com um celular para chegar à web. "Tem esse paradoxo do antigo e do novo. Poesia é isso: encontrar uma maneira de ser atual, independente da época."
Ele diz que não lê muito o gênero – prefere contos – e que seria pretensioso se considerar um escritor. Mesmo assim, o paulistano conseguiu o que muitos nomes na internet almejam: partir para o impresso. Em fevereiro, seu livro de estreia chega ás livrarias pela Bertrand Brasil.
Magiezi não é o primeiro. Uma leva de escritores que fazem sucesso com poemas rápidos na internet têm conseguido publicar seus livros.
O mais conhecido deles é Pedro Gabriel, 31, autor do projeto "Eu Me Chamo Antônio". Ele começou na internet em 2012, postando poemas feitos em guardanapos. O formanto nasceu quando, certo dia, esqueceu de levar seu caderno ao bar carioca onde costruma escrever. Hoje, o ex publicitário tem mais de 1,6 milhão de seguidores no Facebook e Instagram.
Gabriel lançou dois livros pela Intrínseca, em 2013 e 2014. Vendeu 200 mil exemplares. "Não é só escrever uma frase curta, colocar uma imagem e dizer que é poesia. Há muita coisa na internet que é motivacional, autoajuda, o que não é problema. Mas as pessoas confundem", afirma.
Para ele, o sucesso tem a ver com a linguagem acessível. E o alcance de público vale ouro para as editoras – tanto que Magiezi, Gabriel e outros como Lucas Grande, de "É Cada Coisa que Escrevo Só pra Dizer que te Amo", e Clarice Freire, de "Pó da Lua", foram procurados por casas interessadas em seus títulos.
"Eles têm o dom de se comunicar de forma que o leitor se sinta um cúmplice, se identifique", avalia Lívia Almeida, editora de títulos nacionais da Intrínseca. "Alguns acham que, porque jovens gostam e compartilham, (a obra) tem valor menor, diz Gabriel. "O poeta não precisa ser um senhor grisalho da Academia. Pode ser popular, carismático."
Se é arte? Magiezi ameniza: "Se toca alguém, pode ser. Mas só o crivo do tempo vai dar a palavra final".