22/08/2023
Brasil

O momento pede algo mais. Comecemos por reprovações públicas.

A grande notícia de 2016 é que a cada dia que passa sabe-se melhor o que de fato aconteceu com nosso País. Mesmo sem colocá-lo no divã, naturalmente as coisas estão ficando mais claras e o veredicto é transparente: gregos e troianos da política nacional são iguais. Numa época em que só se colhem notícias ruins, acontece ao menos uma coisa boa, pois como lembrou Goethe, “do que vale olhar sem ver?”. Agora, diferentemente, precisamos saber tirar proveito disto tudo e em vez de um esquecimento que nos deixa na eterna ignorância, melhor uma memória capaz de trazer novos encaminhamentos através de novas formas de associação política, evitando o caos futuro e até permitindo corrigir falhas do tempo presente. Já temos muitas informações sobre os escândalos no Brasil. Nunca se soube tanto. Não se passa um dia sem que algo seja acrescido. Saber de tudo isto pode ser um presente de grego, uma armadilha, pois neste cenário há muitos lobos revestidos de ovelhas.

Portanto, a grande sacada do momento é que dia após dia desmancha-se uma edificação suspeita para fazer com que apareçam as suas reais estruturas, suas nervuras, mostrando a precariedade ruinosa de uma estrutura que se queria e que se quer passar por salvadora da pátria.

Três coisas me preocupam: a ascensão da “antipolítica” com intenções também suspeitas e nebulosas; o aprofundamento da radicalização bestial e diabólica e a criminalização da política pelos eternos vampiros da sociedade. Todos perdem com isto. É uma grande insanidade lógica acreditar que haverá ganhadores com tudo isto que está acontecendo nesta terra brasilis.

Há muitos que gastam energia demonizando a política como uma peste, mergulhando a sociedade em uma profunda ojeriza, preconceito e desqualificação de todo e qualquer homem público. É bem verdade que o atual sistema político, promíscuo, virou as costas para a economia, para o sofrimento social e para as finanças públicas, mas não será com esta radicalização que resolveremos o problema. Sabe-se que o dispositivo do sistema político pode ser ajustado. Está provado que o mal uso do sistema político pode acabar a economia e com a expectativa de um mundo melhor.

É urgente abrir espaço para pessoas desinteressadas do poder em si para escrever e dizer a verdade, seja ela dura ou amena. Como já escrevi anteriormente, são nestes momentos de transição que podemos clarificar  a verdade e ajudar a promover uma verdadeira revolução democrática. Sabe-se que esta essência democrática não vem simplesmente pelo voto, mas principalmente da possibilidade de um governo melhor e de um parlamento melhor. Penso que, nos dias de hoje, não faz mais sentido falar em governo e oposição como coisas distintas. Tudo foi padronizado negativamente.

Ao que parece, os cidadãos e cidadãs não querem se contentar com o voto e sua autorização para governar. Descontentes e mais esclarecidos, os cidadãos querem mais: querem governos limpos que saibam escutar a base, querem um sistema administrativo e político legíveis.

Carente de pessoas íntegras e dispostas a participar do processo eleitoral, a sociedade prepare-se para uma revanche onde tudo pode acontecer, até mesmo injustiças com alguns homens públicos.

Mesmo sabendo que a justiça tenta fazer seu trabalho, apesar da politização da justiça em alguns casos, o momento pede algo mais.

Mais que delações/falações, mais que prisões e devoluções financeiras, precisamos urgentemente de mais reprovações públicas.

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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