22/08/2023
Cotidiano Guarapuava

Depois de perder a filha, Mirian encontrou na dor forças para ajudar outras mães

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Taís Nichelle

Mais certo que a vida, somente a morte. É um ciclo natural: filhos enterram os pais e seguem vivendo os ensinamentos herdados. Mas, e quando a ordem natural é invertida? Quando são os pais que precisam enterrar seus filhos? Quando isso acontece, a revolta e a tristeza inundam a alma. Aprender a nadar em meio a tanta dor é difícil e Mirian Baitel sabe disso como ninguém. Há quatro anos, ela perdeu sua filha Mariana, que comemoraria seu sexto aniversário no mês que vem. “É um sofrimento que apenas quem passou por isso consegue entender. No início, há muita revolta. Cheguei a questionar Deus do por quê disso tudo”, relata.

Mirian não apenas conseguiu seguir em frente, como também encontrou forças para estender as mãos para outras mães que sofreram a mesma perda. “Em uma das minhas orações diárias, recebi um recado da Virgem Maria. Ela me pediu que fizesse algo para unir as mães de anjos. Então, decidi transformar a minha dor em amor”, conta emocionada. 

Depois do chamado divino, Mirian teve a ideia de organizar um ensaio fotográfico para ilustrar o processo de luto: da revolta, até a aceitação. A escolhida para executar esse trabalho tão sensível e complexo foi a fotógrafa Dani Leela. “Quando procurei a Dani para propor o ensaio, ela topou na hora e captou exatamente a essência. Nosso objetivo foi mostrar que, por mais doloroso que seja, é possível seguir em frente e ser feliz. A dor passa e o que fica é a saudade. É preciso aceitar que essa é a vontade de Deus e que nossos filhos cumpriram a sua missão aqui na Terra. Aprender a lidar com a dor e poder ajudar outras mães foi o propósito Dele para mim”.

As escolhidas para as fotos foram Karin, Mirian, Mariane, Mayara, Cíntia e Tatiana: seis mulheres e uma história de superação registrada pelas lentes de Dani em um ensaio fotográfico batizado de “Marias”. O nome foi escolhido para homenagear Maria, que assim como elas, também perdeu seu filho Jesus.

Uma das fotos do ensaio "Marias". Foto/Dani Leela

Além de materializar através da arte a luta diária das mães de anjos, as fotos têm como objetivo mostrar que esse não é um assunto proibido. “As pessoas acham que, porque estamos felizes, não devem falar dos nossos filhos. É como se eles pensassem que isso vai nos fazer mal, nos lembrar do que aconteceu. Muito pelo contrário, nós precisamos falar! É tão gostoso relembrar, falar sobre o tempo que eles passaram conosco”, admite. 

Dessa linda ideia, desabrochou algo muito maior. Desde que começaram a se reunir para discutir detalhes do ensaio, elas descobriram que juntas são mais fortes e decidiram montar um grupo de apoio. “Ao sofrer uma perda como essa, é natural que as pessoas procurem outras que já passaram pela mesma experiência, então nós estamos de braços abertos para receber mães que estão passando por esse momento tão difícil”, convida Mirian. 

Sempre digo que o jornalismo é um privilégio divino. Através dele, tenho a oportunidade de entrar (mesmo que por um momento) na vida das pessoas e transmitir o que elas têm a dizer. Mirian, não tenho palavras para agradecer pelo presente de compartilhar conosco a sua força, garra e amor! Tenho certeza absoluta de que a pequena anja Mariana está muito orgulhosa da mãe que tem!

 

P.S: O grupo de apoio ainda não tem sede nem data definida, mas as mães de anjos que tiverem interesse em participar, podem entrar em contato com a Mirian pelo número (42) 9915 0113, ou pelo facebook dela (clique aqui).

Cristina Esteche

Jornalista

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