Imprevisível, vulnerável e oscilante.
Nesta mísera discussão "se é golpe ou não é golpe" [o caso do impeachment], nossa economia está se esfacelando a olho nu e num ritmo crescente.
Até onde consigo enxergar [está nebuloso], só não corremos o risco de ver o noticiário dar algum sinal de esperança nas próximas horas, próximos dias ou próximas semanas. Se o caro (a) leitor (a) consegue ver alguma solução no horizonte, alguma saída razoável para este impasse, não se intimide, me avise, avise o País.
O fato é que se ela [Dilma Rousseff] conseguir evitar o impeachment [há fortes indícios que conseguirá], não resolverá os problemas do Brasil e se o impeachment passar [pouco provável], também não. A proposta de Marina Silva, mesmo que alguns torçam o nariz, continua sendo a mais sensata: ‘a necessidade de novas eleições já’. A tese é que para jogar a água suja da banheira e salvar o bebê, não dá para separar água suja do Governo Federal e da Câmara Federal. Não se sabe qual está mais suja.
O quadro é patológico. Está tudo fora de ordem e de lugar. Sejamos realistas, nenhuma solução apresentada até agora é possível de ser colocada em prática nos limites constitucionais em curto prazo. A infantilidade do Ministro do STF Marco Aurélio e manutenção do atual Presidente da Câmara é uma piada. Com o atual Congresso, com este sistema político esgotado, com a barganha explícita na compra e venda de partidos fisiológicos, seguramente nenhum presidente consegue governar o País. Nem Marina Silva, nem Ciro Gomes, nem Álvaro Dias, nem Fernando Haddad, nem Joaquim Barbosa. Este é o nó do impasse. Com as atuais regras será um equívoco trocar um tumor maior por outro semelhante.
A grande verdade é: nosso destino ficou nas mãos do Judiciário e da Operação Lava-Jato. É triste? É antidemocrático? O amanhã nos responderá.
Maquiavel já dizia-nos "Discorsi" que é preciso supor que todos os homens são péssimos e que os homens só fazem o bem quando a necessidade os dirige para elas. Neste caso está difícil esperar algo de lá. Mesmo assim, em uma avaliação simplista: “como fica o cidadão em tudo isto?” Uma afirmativa razoável seria dizer que é difícil responder se o "povo" é melhor ou pior do que seus representantes. Como sabemos graças a Lacan e sua psicanálise, as pessoas desejam o que lhes falta. Acredito que está chegando o momento da exigência de um novo modus operandis dos governantes de plantão.
Mesmo assim não podemos esperar que os cidadãos estejam sempre alertas, dispostos a dedicar seu tempo e sua energia em debater e decidir sobre todas as coisas. É por isso que os gregos antigos haviam acordado uma premiação para a participação dos cidadãos na vida pública e um conjunto de castigos para quem se omitia ou recusava participar da vida democrática pública. Por fim quero compartilhar um comentário do Professor Renato Janine Ribeiro sobre o impasse ideológico e suas muitas distorções:
“Muita gente que pensa em refazer a esquerda, pensa numa esquerda sem o compromisso com o capital, quando na verdade foram esses acordos que permitiram a ele ter ganhos sociais. A esquerda vai fazer o que quando sair do governo? Vai retomar política de reivindicações e solicitações sem dizer de onde virá esse dinheiro? Ou vai tentar outra política, que no fundo seria uma social democracia?”.
Vida que segue.