22/08/2023
Geral Guarapuava

Jovens da periferia gravam longa sobre dois coronéis

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Cristina Esteche

Guarapuava –  Nenhum deles pensou um dia sequer em fazer cinema. Não possuem curso de teatro, desconheciam a linguagem cinematográfica. Porém, jovens e adultos que vivem no Jardim das Américas, Morro Alto, Jardim Veneza, Colibri, Tancredo Neves, Jordão, Centro da cidade, entre outras localidades, dão vida a 30 personagens de um longametragem com duas horas de duração.

Com roteiro de autoria do médico Antenor Gomes de Lima, Marcos Santos e Sergio Reis, que também dirigem as cenas, o filme de humor com temática nordestina, conta a história de dois coronéis que travam várias disputas. “Um logra o outro desde criança, mas ambos dominam uma cidade chamada Larifópolis [o nome remete a larifo, ou seja, esperto, malandro]”, diz Antenor.

Os atores encontram-se apenas nos finais de semana para gravar. Não há roteiro elaborado e nem falas para decorar. O roteiro é feito no momento das cenas e os diálogos são improvisados. “Não existem falas decoradas. Damos vazão à criatividade e ao talento de cada ator e atriz”.

O filme promete ser uma terapia de riso. Não existem momentos fortes. O conjunto da obra é engraçado e, ao contrário do que muitos podem pensar, não  tem a menor pretensão de remeter à política ou a políticos.  “Parece que é, mas não é”, diz o Antenor.

Durante as duas horas, não há cenas intermediárias, todas são intensas, trazendo, em meio o humor, temas sérios como o  preconceito, o machismo, a homossexualidade, a filha liberada, a malandragem.

“Tenho tudo na minha cabeça e quando surge a;go muito bom entro em contato com os outros produtores via WhatsApp”, diz o médico, agora produtor, deixando transparecer a sua paixão por aquilo que faz. “Sempre me debati com essa questão de vivermos num país tão rico e sermos tão limitados”, diz.  No Brasil há uma imposição cultural entre Rio e São Paulo e como Guarapuava tem uma riqueza imensa, com seus contadores de causos,  com suas histórias, suas tradições e passei a me questionar quantos talentos não estariam escondidos na periferia, no interior, não só de Guarapuava, mas da região”.

E foi olhando e colocando o desafio para os participantes dos projetos culturais que mantem que Antenor está, não apenas criando, roteirizando na cabeça, colocando em prática as ideias de todos, como também patrocinando as despesas. “Temos o talento, a criatividade, os equipamentos, a produtora. O que não temos cada um corre atrás. É assim com figurino, com cenários”. As gravações estão sendo feitas, principalmente, no interior de Guarapuava, Pinhão, Laranjeiras do Sul. E é nesses locais que a produção vai encontrando novos talentos e os incorporando ao elenco.

A trilha sonora é especial e inédita. As letras, melodias, arranjos são de autoria do agricultor familiar Joani, o Polaco, do município de Goioxim, e passa por vários ritmos, principalmente, os nordestinos. “O Joani é um grande talento. Costumo dizer que é o nosso Mozart”.

O filme está na fase final das gravações, faltando apenas duas cenas. A ideia é inscrevê-lo em festivais de cinema por esse Brasil afora. “Precisamos mostrar que cada um é capaz de fazer, basta a oportunidade. Precisamos mostrar que Guarapuava tem talentos. Precisamos soltar a nossa voz  e por isso, do nada fazemos tudo”.

Cristina Esteche

Jornalista

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