22/08/2023
Brasil

O dia em que conheci Kobe Bryant

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Quando nós nos conhecemos eu era apenas uma criança. Foi com esta frase que Kobe Bryant iniciou a carta onde anunciou sua aposentadoria e é com esta frase que inicio esse texto em sua homenagem.

Quando nós nos conhecemos eu era apenas uma criança, uma criança que acabava de mudar de escola e buscava desesperadamente encontrar um grupo para me encaixar. Logo percebi alguns meninos conversando sobre basquete e vi naquilo uma oportunidade de me aproximar.Comecei a pesquisar sobre o esporte e obviamente cheguei a NBA, mas confesso que minha primeira impressão não foi lá das melhores. Ainda sem entender o jogo não me animei muito com as primeiras partidas que assisti e até achei um pouco chato.

Mas tudo mudou quando vi Kobe e o Lakers pela primeira vez. Era um jogo comum da temporada regular que inesperadamente encontrei enquanto zapeava pelos canais da TV. Lembro-me que o uniforme roxo e amarelo foi a primeira coisa a me chamar a atenção, porém o estilo e a habilidade daquele camisa 8 foi o que me manteve ligado o jogo todo.

Como um menino que ganha sua primeira bicicleta, entusiasmado contei a todos sobre a minha descoberta, sobre aquele cara que jogava absurdamente bem e fazia coisas incríveis, porém, para minha grande surpresa, a maioria já conhecia aquele tal de Kobe Bryant e assim como eu adorava suas façanhas.

Pronto, tinha encontrado minha turma. 

Logo eu e alguns amigos começamos a discutir sobre Bryant, tentar imitar seus movimentos, acertar aqueles arremessos certeiros de três pontos como ele fazia, arriscar infiltrações, tentar o famoso fade away (marca registrada de Kobe e Michael Jordan), buscar dribles, enfim ser Kobe Bryant. Assim montamos um time na escola e começamos a treinar, realizar jogos e participar de campeonatos.

Acontece que àquelas horas nos treinos da escola já não eram suficientes para nós e passamos também a frequentar as escolinhas da Prefeitura e é claro o famoso 3×3 na Praça da Ucrânia. Levando-se em conta que na época não era assim tão fácil assistir a jogos da NBA e de estarmos em uma cidade do interior do Paraná, a milhares de quilômetros do que ocorria nos EUA, imaginava que só eu e poucos amigos e conhecidos jogavam basquete por aqui, mas nesses lugares encontrei muitas pessoas que também haviam sido infectadas pelo vírus do basquetebol, boa parte influenciada por Kobe Bryant.

O fato é que toda uma geração que começou a acompanhar esportes nos anos 2000 cresceu ouvindo histórias sobre Michael Jordan e Cia, mas nunca teve a oportunidade de vê-lo muito tempo em ação pelo Bulls, que também tinha os lendários Scottie Pippen, Dennis Rodman e outros em seu elenco. Para esta geração a primeira vez que puderam acompanhar o jogo sendo jogado em grande nível foi com Bryant e Oneal naquele fantástico Lakers que conquistou o tricampeonato da NBA (2000-2001-2002). Logo Bryant e toda a incrível safra de bons jogadores que surgiram com ele nessa mesma época (Iverson, Mcgrady, Allen, Vince Carter, entre outros) se tornaram referências para todos.

Por ser uma cria desta geração fica também bastante difícil fazer qualquer comparação imparcial sobre a qualidade técnica de todas as lendas da NBA, mas certamente Kobe esta e estará por muito tempo no rol dos 10 ou 5 melhores jogadores de toda a história (para mim briga com MJ pelo 1º lugar), contudo, isso nem é tão importante assim, o que a mim como apaixonado por esporte realmente importa são as emoções que você vive enquanto acompanha aos jogos, e quanto a isso meu amigo ninguém supera Kobe Bryant.

Foi Kobe que me ensinou a gostar de basquete, foi ele que me fez gritar em frente à TV com seus arremessos decisivos; foi ele que me fez sentir sensações como o êxtase, incredulidade, alegria, tristeza; foi ele que me fez ficar acordado até de madrugada várias vezes; foi ele que de certa forma me incentivou a estar aqui escrevendo neste espaço e isso certamente não tem preço.

Por já ter vivido tudo isso com o Black Manba (apelido de Bryant) sinto por diversas vezes que de alguma forma desdenho dos grandes jogadores desta nova geração como Curry, Westbrook, Kevin Durant, Paul George,entre outros, não por que eles não possuam um nível técnico tão alto quanto o de Bryant, mas por que jamais vou sentir com eles o que senti com Kobe

Sendo assim a despedida de Kobe é um momento bastante difícil, não somente para ele, mas para muitos fãs de basquete como eu. O alento é que nessa quarta feira (13) pude acompanhar a última partida de Kobe como jogador profissional (e que partida) e por uma ultima vez sentir todas aquelas sensações novamente,  buscando aproveitar cada segundo e guardar em minha memória o inesquecível Kobe Bryant.

PS:Em sua última partida, aos 37 anos, Kobe marcou nada mais nada menos do que 60 pontos, a maior marca individual da NBA na atual temporada, e ajudou o Lakers a virar uma partida com desvantagem de 12 pontos nos últimos minutos de jogo.È ou não é um verdadeiro mito.

Cristina Esteche

Jornalista

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