22/08/2023
Brasil Cotidiano

Moradores de rua compartilham drama e solidariedade, em Guarapuava

imagem-112959

Cristina Esteche

Guarapuava  – Leandro, “Véio”, Nega Sheila, Corvo. Os nomes verdadeiros? Eles dizem que preferem esquecer. Estes são alguns do codinomes de andarilhos que vivem nas ruas da cidade  e que durante as tardes buscam se aquecer do frio sentados sob o sol nas escadarias da Igrejinha do Degolado. Às noites, o local onde existia um posto de combustível entre a Avenida Moacir Silvestri e a rua Saldanha Marinho, serve de abrigo.

Se para muitos a presença dessas pessoas incomoda, para outros, eles são, literalmente, invisíveis. “ Eles ficam bebendo, mexendo com quem passa”, diz uma das moradoras em frente à Igrejinha do Degolado e que esteve na redação da RedeSul de Notícias para reclamar da situação. “ Olha, pra falar a verdade, eles ficam ali bebendo a cachacinha deles e nunca incomodaram ninguém”, diz um senhor que também mora em frente à Igrejinha. Outra vizinha concorda com o morador. “A única coisa que eles fazem é pedir comida, mas eu bato o cadeado do portão e eles não me incomodam”.

“A gente mora na rua e fica aqui por causa do sol”, diz Corvo, o mais receptivo de todos. Dono de casa no bairro Xarquinho, ele não se considera morador de rua, mas parceiro de quem o é. “Eu passo o dia com eles. A gente toma a nossa cachaça, conversa, dá risada da vida”, diz.

Leonardo está na rua desde os 18 anos. Hoje possui 54. “Eu vim de Campina do Simão para servir os Exército, mas como sou analfabeto e tinha os dentes ruins fui dispensado”. Em busca de emprego e sem conseguir entrar no mercado formado de trabalho, Leonardo começou a beber. “Não me dou com a minha família e fiquei pelas ruas”.

O Véio é outro que compõe o grupo. “Não consigo emprego e não tenho onde morar. Então vivo na rua junto com os meus colegas”.

Para enfrentar o frio, principalmente, durante as noites e madrugadas, o melhor agasalho é o “cobertor de orelhas”. E foi justamente isso que Mancha e Nega Sheila fizeram. “Eu sou lá do Jordão e encontrei essa Nega pelas ruas e nos juntamos. Um esquenta o outro”, diz Mancha. “Eu tenho um alcochoado bem grande”, intervém o Véio, entre risadas de todos.

Se os problemas do cotidiano são divididos entre eles, a solidariedade também é compartilhada. “Você consegue ajudar esses dois? Eles merecem. A Nega Sheila é gente boa pra caramba e está nas ruas há muitos anos”, diz Corvo.

“Somos em 12. Se levassem a gente pra uma chacrinha pra agente se tratar e trabalhar, ia ser muito bom”, emenda Mancha.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.