22/08/2023
Brasil

Game of Thrones, NBA e Roteiros

“Nunca há nada de bom passando na TV nos domingos”

Esta frase poderia ter sido pinçada de qualquer diálogo de uma família brasileira durante o fim de semana, já que a programação televisiva durante esses dias parece não agradar a mais ninguém.

É bem verdade que os programas vespertinos de televisão (utilizando-me das letras do rei Roberto Carlos), em especial na TV aberta, estão em profunda decadência e são alvos de críticas por boa parte da audiência. Contudo, com muita procura e alguma sorte é possível assistir algo bom na televisão durante o fim de semana, sem necessariamente apelar para locadora de filmes e Netflix.

Um bom exemplo disso foi o último domingo, onde pude acompanhar dois verdadeiros espetáculos pela telinha. O primeiro foi o nono episódio da sexta temporada da aclamada série Game of Thrones. Neste episódio, chamado de “A Batalha dos Bastardos” os fãs foram agraciados com uma das melhores cenas de batalha de toda a história da TV e do Cinema, fazendo jus ao imenso sucesso da série.

O episódio foi tão marcante que rapidamente o assunto se alastrou pelas redes sociais chegando a ser um dos assuntos mais comentados em todo o mundo. Críticos e fãs elegeram o episódio como não apenas o melhor da série, mas também o colocaram na liderança das séries mais bem avaliadas no respeitadíssimo site IMDb.

Outra grande batalha, com direito a gigantes, muita emoção e tudo mais, também foi ao ar nesse domingo a noite, mas não estamos mais falando de Game of Thrones e sim das finais da NBA.

O sétimo e derradeiro jogo da finalíssima da NBA ocorreu nesse domingo e definitivamente entrou para a história do esporte. Continuando com a relação com Game of Thrones, podemos dizer que esse jogo também foi Holywoodiano, aliás, consigo facilmente imaginar que em breve a história deste confronto estará nos cinemas.

Quem sabe Cleveland não se torne a nova Hollywood e passe a produzir obras como:

LEBRON JAMES, THE KING OF CLEVELAND:

A jornada do herói personificada em Lebron James: A grande estrela do basquete que surge em Ohio para trazer glória ao Estado, mas que fracassa; deixa então sua cidade e seu estado para buscar a provação no mundo, supera seus desafios, evolui e conquista títulos com o Miami; volta para casa afim de provar a todos que é sim o salvador daquele povo, falha, tenta de novo, por pouco não põe tudo a perder, mas na hora decisiva é fenomenal e enfim acaba com a maldição de 50 anos da cidade de Cleveland sem ganhar um mísero troféu. Um verdadeiro herói.

Nesse meu mal escrito roteiro, não sei exatamente o porque, imagino o próprio Lebron (daqui uns 10 ou 20 anos) prefeito de Cleveland ou governador de Ohio dando entrevista sobre aquele jogo 7 em Oakland. Duvida que ele pode chegar lá? Dê só uma olhada nas fotos de comemoração do título, onde mais de um milhão de pessoas foram as ruas apenas para vê-lo, Detalhe: Cleveland tem cerca de 400 mil habitantes.

Crédito: Cleveland.com

Acreditem em mim, esse cara é o Rei de Cleveland.

THE BLOCK

Se Michael Jordan espantou o mundo  com o famoso “The Shot”, porque Lebron não pode ser lembrado pelo “The Block”. É certo que jogadas ofensivas, por natureza, tem mais popularidade e importância do que as defensivas, porém, existem exemplos no esporte que contrariam esse ponto. É o caso, por exemplo, da defesa de Gordon Banks na cabeçada de Pelé em 1970, ou dos pênaltis defendidos por Taffarel em 1998 diante da Holanda. É o caso do tocasso de Lebron em cima de Iguodala.

O lance, que pelas circunstâncias lembra muito o de Michael Jordan, aconteceu quando a menos de dois minutos do final do jogo sete, a partida estava empatada e o Warriors partiu para o contra-ataque rápido com Curry, que logo encontrou um passe para Iguodala que livre para fazer uma bandeja fácil e colocar a equipe da Califórnia a frente no placar. O que ele não contava,porém, era o trem descarrilado chamado Lebron James que vinha  na sua cola e que com um “tocasso” impediu a cesta.

Na sequência do lance a bola chega a Kyrie Irving que encesta de três pontos e praticamente encerra o jogo dando o título ao Cavaliers.

O lance emblemático fez os fãs não apenas relembrarem de Jordan, mas como de outros personagens, digamos assim, mais selvagens. A perseguição de Lebron, o salto e o ataque à bola fizeram muitos fãs e jornalistas a compararem-no com os grandes felinos africanos naqueles documentários do Discovery Channel, quando correm atrás de sua presa e as atacam de forma fulminante.

UNCLE DREW

Uncle Drew é um personagem vivido por Kyrie Irving em alguns comerciais de refrigerantes. Drew é um jogador de basquete idoso que desafia os jovens em quadras ao longo dos Estados Unidos. Com dribles incríveis e arremessos certeiros, Drew surpreende a todos que não acreditavam que aquele velhinho batia um bolão.

Dos comerciais diretamente para a NBA, Drew, ou melhor, Kyrie Irving parecia estar jogando como seu personagem e fez os jogadores dos Warrios muitas vezes parecerem como um daqueles jovens amadores nas praças americanas. Como jogadas impressionantes, Irving foi decisivo para o título, chegando a marcar 41 pontos em um dos confrontos finais.

THE GREAT DEFEAT

As histórias geralmente nos são contadas sobre o viés dos vencedores. Porém, há no cinema alguns casos onde conseguimos visualizar fatos importantes sobre outros olhares, é o caso de filmes como “Cartas de Iwo Jima” de Clint Eastwood que retrata a 2º Guerra Mundial sobre a ótica dos japoneses.

No caso da batalha da NBA, o confronto sob a ótica dos Warriors também daria um ótimo filme. Afinal, o time da Califórnia bateu, nesta temporada, o recorde do Bulls de 1995 conseguindo incríveis 73 vitórias na temporada regular. Nos playoffs a equipe passou fácil pelo Houston e Portland, mas tomou um grande susto diante da fortíssima equipe de Oklahoma City. O favorito Warriors chegou a estar perdendo a série por 3 a 1, mas venceu as últimas três partidas e virou a série chegando a final da NBA.

Após esta virada, achou-se que Golden State estava vacinado contra qualquer surpresa que pudesse ocorrer na decisão da liga. Concentrados os Warriors abriram facilmente 3 a 1 na série e foram muito superiores a Cleveland nos primeiros jogos, mas então algo aconteceu.

O time que foi o responsável por uma virada histórica e tinha o título nas mãos, deixou-o escapar e dessa vez foi a vítima de uma derrota implacável.

THE CURIOUS CASE OF SCOTT PIPPEN

Depois de Nostradamus um novo grande e improvável profeta surgiu, seu nome: Scott Pippen.

Pippen foi um dos maiores jogadores da NBA e fez parte do incrível time do Bulls com Jordan, Rodman e outros. Aposentado desde 2004, Pippen não entrou em quadra nas finais, mas viu seu nome ser bastante falado após a derrota do Warriors.

Isso porque uma imagem sua vestindo uma camiseta com os dizeres: “Dont mean a thing without the ring” ou seja “ Não significa nada sem o anel” se tornou Meme após o Warriors baterem o recorde de número de vitórias em uma temporada do Chicago Bulls.

A imagem foi usada pelos torcedores de outras equipes como provocação e até mesmo como previsão de que o Warriors sairia da temporada sem o troféu. Depois de confirmada a derrota a imagem viralizou ainda mais nas redes sociais, com os rivais zoando e menosprezando a boa campanha do Golden State nesta temporada.

O detalhe é que a foto e a camisa em questão não tem nada a ver com a temporada de 2016, mas sim com a de 95-96 quando o Bulls atingiu 72 vitórias e bateu o, até então, recorde da Liga. Naquela temporada, Pippen utilizou a camiseta como forma de motivá-lo a permanecer focado nas finais mesmo com o favoritismo obtido pela fabulosa campanha.

Rivais do GSW, contudo, continuam afirmando que desde 1995 o profeta Pippen sabia que o Warriors não iriam a lugar algum.

Cristina Esteche

Jornalista

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