22/08/2023


Brasil Geral

Negro, cotista e gay. Diego foi morto a pauladas dentro do campus da UFRJ

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Com revista Época,

Rio de Janeiro – A polícia investiga se homofobia foi o motivo do assassinato do estudante de arquitetura Diego Vieira Machado, de 30 anos, no sábado (02), no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O corpo de Diego foi encontrado por alunos da universidade, boiando na Baía de Guanabara. 

O estudante morava no alojamento da instituição, em uma área deserta da Ilha do Fundão, onde fica o campus. Na tarde desta segunda feira (04), seis amigos de Diego prestaram depoimento na Delegacia de Homicídios. O coordenador do Rio sem Homofobia do Governo do Rio de Janeiro, Cláudio Nascimento, acompanhou os estudantes. “Pelo relato deles, existia um clima de perseguição a gays, negros e cotistas dentro da universidade. Diego havia sofrido preconceito de racismo e intolerância sexual antes”, afirmou Nascimento. Ele pediu uma reunião com a Reitoria da UFRJ para tratar de casos de discriminação

O corpo do jovem tinha ferimentos, principalmente na cabeça, e estava nu da cintura para baixo. “O uso da força bruta, requintes de crueldade e a humilhação à imagem da vítima, deixando o rapaz nu, são características de homofobia”, disse Nascimento, que solicitará ao Congresso Nacional a criação de uma comissão para acompanhar o caso e também diversos homicídios de gays no país. “A cada 20 horas um LGBT é assassinado no Brasil. Precisamos de uma legislação mais rigorosa”, disse.

Em abril passado, Diego, que morava no alojamento da UFRJ, denunciara em sua página no Facebook a agressão contra um jovem dentro da universidade. “Os seguranças das obras do campo de rugby violentaram e torturaram um rapaz o deixando nu e humilhado na rua”, escreveu. Ele reclamou que a segurança interna da UFRJ não levou a vítima para receber atendimento médico, nem investigou o caso. A Delegacia de Homicídios apura se a mensagem tem alguma relação com o assassinato. Por meio de nota, a UFRJ disse que “acompanhará de perto as investigações sobre o caso junto às autoridades policiais”.

O delegado Fábio Cardoso, responsável pelas investigações, recolheu imagens das câmeras espalhadas pelo campus da UFRJ para tentar identificar os criminosos e descobrir os últimos passos do estudante. Diego manteve contato pela última vez com uma amiga na manhã de sábado. Ele disse que correria pelo campus.

Estudantes no alojamento denunciaram nos últimos dias o recebimento de emails com ameaças contra alunos LGBT's e negros. A mensagem dizia claramente "sabemos quem são vocês" e "queremos vocês fora daqui". Havia também uma ameaça velada a um estudante, que se suspeita fortemente que seja Diego. Depois do episódio, pichações homofóbicas foram feitas em um dos banheiros da instituição, no campus da Praia Vermelha. Em tinta preta, foi escrita a mensagem "Morte aos gays da UFRJ", substituída por artes de apoio à diversidade pintadas por alunas da própria UFRJ pouco antes do assassinato.

À noite, um grupo de jovens avistou o corpo boiando nas águas poluídas da Baía de Guanabara. A reitoria da universidade avisou a família de Diego, que mora em Belém, no Pará.

Cristina Esteche

Jornalista

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