22/08/2023
Guarapuava

O que esperar de uma viagem a "pequena Londres"

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– Hey man! Estamos pensando em visitar o H.O.G do chapter de vocês? O que acha?

– Claro. Podem vir, aproveitem o dia 16/07 que estaremos fazendo uma feijoada e todos serão bem vindos em nossa cidade e em nosso chapter! (via WhatsApp)

Antes de continuar, é importante esclarecer que H.O.G – Harleys Owner´s Group, significa Grupo de Proprietário de Harleys, fundado em 1983 nos E.U.A, possuindo hoje mais de um milhão de membros, em 130 países, fazendo do H.O.G. a maior organização do mundo de motociclistas patrocinada por uma fábrica. Já Chapter significa filial.

Escrito e lido a prosa relativa a visita ao H.O.G daquele chapter, eis que esse nosso amigo Gustavo, nos repassou o convite da viagem e decidimos nos embrenhar na referida data para a cidade de Londrina, cujo nome significa “pequena Londres”, em homenagem, por óbvio, a cidade inglesa, em reconhecimento aos ingleses e suas companhias/empresas, que por volta de 1928 subsidiaram grandes projetos naquele local, propiciando por fim uma notável e histórica reforma agrária e, por sua consequência, um rápido desenvolvimento da cidade e, acredite, sem muito barulho ou encrenca (tsc).

Sendo assim, às 05h15m da matina daquele sábado, lá estava eu arrumando minhas tralhas para a viagem, pois o combinado era às 06h30 estarmos acelerando rumo a estrada. Ao sair porta afora, em uma intensa escuridão, tive uma louca vontade de correr de volta para baixo das cobertas, pois estava frio, chovendo, com direito a raios e trovões. Logo pensei “Cara, esse povo vai amarelar, certeza”.

Ao chegar ao posto de combustível combinado, a minha surpresa ao ver a maioria pronta. De imediato as más noticias: “O Juba mandou mensagem que afinou” (medroso); “O Eduardo está com bronquite”(eu podia ter inventado essa primeiro!); “O conhaque não apareceu ainda!” (putz, vou ligar porque deve estar babando); “O Facão e o Estevão… adivinhe”. E sendo assim, com “apenas” uma hora de atraso por conta de nosso amigo sem despertador, motos abastecidas, capas de chuva colocadas, cafés tomados e cigarros fumados, iniciamos nosso “breve” passeio!

Seguimos então, à frente com nossa formação clássica do DC MCC, Reinaldo e esposa, eu, Conhaque, Morosini e namo, logo atrás nossos amigos, o espanhol, Gustavo e namo, Marião e, fechando o bonde das Harleys, direto de Floripa, nosso grande amigo J. C. Guerreiro.

Passamos cidades de Turvo e Pitanga, abaixo de muita, muita água e frio, com asfalto precário e tinha dúvidas se a situação podia piorar, mas então no trecho Pitanga – Faxinal, tive a certeza de que poderia sim, e muito! É difícil encontrar uma palavra que descreva aquele trecho sem escrever um belo palavrão. Pela mãe do guarda! Essa rota deveria ser proibida, ou então que fosse retirado o que resta do asfalto e que se colocasse de uma vez calçamento de pedras ou cascalho, em resumo diria “que nojo”. As péssimas condições da estrada nos obrigavam a mudar de pista, sacolejar, xingar, desmanchar nossa formação, xingar de novo, rezar para que as motos não se desmanchassem… e por certo eu não devo ter rezado o suficiente, porque logo passando a cidade de Faxinal, meu pára-lama rachou-se ao meio (em resumo) vindo abaixo com minha bunda e bagagem! Tem-se inicio então a momentos onde as viagens de moto realmente fazem sentido. Momentos em que se difere uma viagem com parceiros de verdade de uma viagem qualquer com várias motos e pilotos andando juntos. Durante as próximas duas horas desde o problema apresentado e a parada de minha “furiosa” até o regresso a estrada, foi apresentado um show de iniciativa, boa vontade, paciência e parceria, não como aquelas de frases prontas de Facebook (tsc), mas uma parceria verdadeira, como disse anteriormente, que dá sentido às viagens de motocicletas. Claro, junto a isso vem uma enxurrada de palpites furados e piadas sem graça pelo povo, mas estão perdoados.

De volta a estrada, agora com um pouco menos buracos e solavancos, fomos agraciados com um pouco de sol, o que bastou para tornar a viagem mais rápida e agradável. Já em Londrina, após muitas e muitas voltas não programadas, encontramos o local do evento, um belo e imponente condomínio residencial e seu salão de festas, onde fomos muito bem recepcionados pelos anfitriões do H.O.G londrinense, e lá estava ela, nos aguardando as 15h daquela tarde, maravilhosa e espetacularmente desejada como nunca, a Feijoada.

Como um bom guarapuavano que sou eu digo: “Pense num belo ambiente”, decorado com cores, balões, bandeiras, toalhas, roupas e objetos, tudo com a temática da HD e além da feijoada e da auspiciosa receptividade, dispusemos ainda da companhia do bom e velho rock and roll ao vivo e gabaritado, regado a chopp gelado “à volonté”.

Das pessoas que conheci naquela tarde, interagi mais com o Nelson, típico sujeito alto, barbudo e gente finíssima, londrinense, empresário, dono de uma fábrica de um delicioso choop e Presidente do H.O.G local, e logo após acabarmos com o que deveria ser alguns suínos e alguns hectares de feijão presentes na feijoada, prestativamente este nos convidou a conhecer o “Bar do Bob”, uma interessante estrutura central que mescla mecânica de motos e um Pub de muito bom gosto, o qual certamente indico a quem visitar a cidade. Ao chegarmos sentimos logo a “good vibrations” através de uma excelente banda que tocava de rockabilly a surf music (coisa boa ao nipe do Kingargoolas de Guarapuava). Obviamente a rua toda estava tomada por HDs para todos os gostos e sonhos… o que certamente tornava naquele momento a rua onde estávamos, a mais bela de Londrina. Então entre uma dose e outra, durante minha conversa com o Nelson, percebi logo que, me perdoem os que não concordarem, é apenas minha humilde constatação, o quanto estamos atrasados em relação ao “movimento moto ciclístico” em nossa cidade, isso pra mim ficou claro durante a exposição de fatos e números, como a quantidade de motociclistas/motocicletas na região, a qualidade e quantidade dos eventos, a diferença do apoio de secretarias e políticas locais e inclusive pela mentalidade dos próprios motociclistas. Além de outros motivos, acredito eu, isso pode se dar também ao fato de que grande parte dos Londrinenses adquirirem uma cultura mais paulista, inclusive acreditando que sua “capital de fato” é São Paulo e não Curitiba.   

Já com corpo e mente abastecidos no Bob Pub começamos nossa via sacra atrás de quartos de hotel já que nossa reserva havia expirado. Duas horas depois de voltas e desencontros aterrissamos no Hotel Londristar, do padrão muito bom, muito bonito e barato. Para minha infelicidade, percebi que toda minha bagagem estava com nosso Capitão de estrada (o qual levou pra mim em sua Ultra Glide após o incidente de minha motocicleta), do outro lado da cidade, ou seja, nem a pau. Banho Tomado e cueca virada ao avesso, borá dormir pra encarar o outro dia.

Na volta, acreditem, preferimos aumentar nossa viagem em pelo menos 170 kms, via Ponta Grossa, pra não encarar novamente a rodovia do buraco e do solavanco e com direito a recepção calorosa de mais três harleyros do D.C M.C.C no trevo de Guamiranga, que com cara de choramingo por não ter ido a viagem, nos acompanharam até o fim do trajeto por volta das 19hs do domingo, a uma temperatura congelante, mas enfim faço uma Confissão da Estrada, a viagem foi top e o movimento motorcycle na “pequena Londres” é do baralho!  

Cristina Esteche

Jornalista

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