22/08/2023
Brasil

O que diria Aristóteles?

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Os últimos acontecimentos políticos na região de Guarapuava, com assassinato em Cantagalo, toque de recolher nesse município, e em Goioxim e Virmond, a tentativa de assassinato do prefeito Neri Quatrin, em Foz do Jordão, brigas e agressões nas ruas de várias cidades vizinhas, nos mostram que estamos retrocedendo. E o que dizer das mortes de candidatos em cidades do Paraná e de outros estados, a exemplo do Rio de Janeiro e Goiás? Não estamos vivenciando, ou melhor, fazendo parte do cenário opressor de séculos passados?

Em pleno século XXI, quando a tecnologia, a rapidez da informação derrubam fronteiras, inclusive a do tempo, a impressão que nos dá é de que estamos revivendo a época do coronelismo, mas agora de uma maneira mascarada.

Vamos entender um pouco mais. O coronelismo surgiu no século XIX e foi uma das bases de sustentação do domínio oligárquico na época da República Velha. Era a época do “toma lá dá cá”,  ou como costuma se dizer: uma mão lava a outra. Mas isso entre os coronéis, pois a grande maioria era deputado e contribuía de forma decisiva para eleger o governador. Ah! E ainda tinha o voto de cabresto, ou seja, quem podia menos – no caso, os empregados – era obrigado a obedecer as ordens daquele que podia mais. E quem cumprisse poderia morrer, perder o emprego e outras punições do gênero. Alguma semelhança com os dias atuais é mera coincidência? Acho que não. Tudo bem que os tempos mudaram, que temos uma Constituição democrática que assegura a liberdade da escolha pelo voto secreto e tantos e tantos outros direitos, mas o medo da perda fala mais alto.

Ouvindo conversas, analisando, noticiando fatos que acontecem em Guarapuava e região, debatendo com os jornalistas com os quais compartilho o dia a dia na redação, e que no caso de alguns, moram em outras cidades, chego a conclusão de que o tempo passou, mas que nesse sentido poucas coisas mudaram. O uso da força, a prática da coersão, podem até pertencer ao passado. Hoje o estilo é outro, atua mais no emocional, faz com que a esperança, a tranquilidade, a ideologia, sejam substituídos pelo medo. 

Explico essa afirmação para aproximar mais o fato. Trabalhando em um município próximo a Guarapuava, num desses finais de semana assoberbados, ouvindo algumas pessoas, foi possível perceber que o eleitor está amedrontado, não quer expor a sua opinião, ou seja, pelo medo de perder o emprego, de prejudicar alguma pessoa da família, de ser perseguido  se o seu candidato não for o vencedor, e por aí vai. Até lembrei agora da implantação de uma sala – acho que era 45, não sei ao certo – onde o ex-prefeito Fernando Carli, na sua primeira gestão, encostava alguns funcionários indesejados pela sua administração. O assédio moral era tão intenso que muitos pediram a conta, alguns entraram em depressão, e por aí foi.

Entendo que é por isso que as pessoas não querem saber qual é o caráter deste ou daquele candidato. É o “salve-se quem puder” nesta imensa selva de pedra, recheada à corrupção, a legislar em causa própria, a desafiar a justiça, a lei. A ouvir “políticos” bradarem aos quatro cantos que possui esta ou aquela autoridade judiciária nas mãos. Sim! Já ouvi isso diversas vezes num local público onde prestei assessoria. Será que isso acontece na real? Pois são esses que já foram e continuam sendo alvos de investigações, que mentem, que inventam e que continuam a comandar os currais eleitorais que tratam o eleitor como se fosse gado, a quem se dá um pouco de ração a cada quatro anos. Mas quem continua engordando cada vez mais?
O que diria Aristóteles de tudo isso? Não foi que disse que  "a moral dos indivíduos somente se realiza na política e é nela onde se desdobram suas virtudes e onde se pode alcançar a felicidade”?  Será isto possível sem a participação comunitária, sem o exercício da cidadania, sem o voto livre, sem o grito de liberdade que pode ser dado neste dia 2 de outubro? Pense bem nisso!  A hora é agora! Escolha o seu candidato olhando para a frente, com a cabeça erguida, sem olhar para o próprio umbigo. Não tenha medo, mas a consciência de que a liberdade só existirá a partir de uma sociedade onde os valores, a ética, a moral, a igualdade, o bem comum, possam andar de mãos dadas com a política. 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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