Por Ana Carolina Leonardi para a Superinteressante
Não existe razão nas coisas feitas pelo coração – e quem diz isso é a ciência.
Dificilmente há um casal fictício na música brasileira mais icônico do que Eduardo e Mônica. Se você está entre os que já dedicaram esta canção a um alguém especial, temos más notícias. É que, na vida real, seria difícil que o boyzinho que tentava impressionar e a menina que tinha tinta no cabelo durassem muito como casal, de acordo com as descobertas da psicologia e dos estudos comportamentais sobre o amor.
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade
Como eles disseram
Você já deve ter ouvido falar que as pessoas têm ritmos circadianos diferentes. Algumas são noturnas, e seu pico de energia e produtividade acontece de noite – e elas tem uma dificuldade bem maior de acordar cedo. Ficam deitadas, vendo que horas eram… Como nosso amigo Eduardo. Já a Mônica parece bem mais matutina (e possivelmente alcoólatra).
Até aí, tudo bem. O problema é que um estudo da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos mostra que casais com padrões de sono diferente também são aqueles que brigam mais. Além disso, eles tendem a passar menos tempo juntos, ter menos conversas sérias e, como cereja do bolo, transam menos.
Festa estranha, com gente esquisita
– Eu não estou legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
A Mônica pode ter achado engraçado ver o Eduardo bêbado no primeiro encontro, mas para a psicologia, isso é uma má ideia. Uma pessoa alcoolizada fica mais neurótica (“é quase duas, eu vou me ferrar”), menos consciente e empática e, para completar, tem a ilusão de estar mais atraente e desinibida.
Assim como na questão do sono, casais são mais felizes quando seu estilo de beber é parecido. Para as mulheres que bebem, ter um parceiro que não acompanha nos drinks gera uma grande insatisfação especialmente intensa com o relacionamento em geral. Não é a quantidade e, sim, a vontade e a capacidade de beber que precisam ser parecidas para os dois. Se o Eduardo não conseguiu segurar a onda na festa estranha com gente esquisita, uma Mônica da vida real provavelmente ia seguir tomando conhaque sozinha no outro canto da cidade.
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Vamos supor aqui, com certa liberdade poética, que a Mônica era mais velha que o Eduardo – ela é mesmo incrível, mas cursar medicina com 16 anos ou menos é uma baita raridade. E aí as estatísticas, novamente, não estão a favor do romance de Renato Russo. Um estudo da Universidade Emory mostra que a chance de divórcio aumenta quanto maior a diferença de idade do casal. Ela cresce 3% com um ano de diferença, 18% para 5 anos, 39% para 10 anos e assim progressivamente. Quando a mulher é mais velha que o homem, os números são ainda mais radicais – se a diferença for de 5 anos para cima, o risco de divórcio triplica.
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes
Do Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Godard e a lanchonete. Novela e Van Gogh. A música marca o tempo inteiro a diferença entre o casal, para dizer, no fim, que eles se completavam como feijão com arroz. Já os estudos comportamentais dizem o contrário: a redundância, no amor, vale muito.
Os opostos até se atraem. Mas, se a gente puder escolher, prefere as pessoas mais parecidas com a gente. E essa aposta tende a render. Um estudo Universidade do Kansas e do Wellesley College mostrou que as relações que duram mais e têm mais intimidade são aquelas nas quais hábitos, gostos e traços de personalidade são parecidos.
Curtir músicas parecidas é especialmente importante. Uma pesquisa comportamental mostra que a maioria das pessoas discute seus gostos musicais porque eles são uma das melhores formas de refletir sua personalidade. O gênero musical também tinha uma relação forte com as características psicológicas das pessoas – casais que curtem tipos parecidos de música não só se dão bem entre si como passam uma impressão melhor para o outro. O negócio é torcer para que tocasse Caetano na trilha sonora da novela do Eduardo.
Construíram uma casa uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Supondo que Eduardo e Mônica, mesmo com tudo diferente, tenham conseguido superar a fase inicial do namoro… Eles ainda inventaram de construir uma casa! Uma obra ou reforma é um estresse tão grande que, mesmo entre os casais mais felizes, 12% considera o divórcio só por causa disso – não interessa se a culpa é do arquiteto, do empreiteiro ou da decoração.
O fator filhos é um outro ponto polêmico na ciência dos relacionamentos, com vários grandes estudos mostrando que casais sem filhos tendem a ser mais satisfeitos com a sua vida amorosa, apesar das mães estarem entre as pessoas mais felizes individualmente.
Mas nem essa contradição salva Eduardo e Mônica: os casais com filhos gêmeos tem uma chance de divórcio ainda maior do que aqueles que tem um filho só. É possível que seja consequência do estresse dobrado quando, por causa da recuperação do Eduardinho, a família inteira ficou sem viajar nas férias.
Nem tudo está perdido
Se as evidências contra um dos grandes casais do faz-de-conta brasileiro foi demais para o seu coração de fã, não se desespere. Ao longo da sua jornada, Eduardo e Mônica também fizeram algumas coisas certas para ajudar a equilibrar os maus auspícios do seu relacionamento.
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro e artesanato e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Além de ter aprendido a beber (sobre o cabelo comprido, o método científico tem pouco a acrescentar), eles se encheram de atividades desafiadoras que faziam juntos. Especialmente para os homens, o efeito de dividir hobbies e aprender coisas novas como casal aumentava a intimidade. Ponto para natação, fotografia, teatro e artesanato.
O hábito de viajar merece até uma menção separada. Uma enquete com mais de 550 casais mostrou que sair para conhecer o mundo deixou 72% das pessoas mais satisfeitas com seu relacionamento. Para 28% delas, até o sexo melhorou depois da viagem e, para quase metade dos participantes, os efeitos positivos das férias em dupla foram permanentes.
Se tudo isso falhasse, Mônica podia apelar para as práticas milenares de relaxamento. A meditação faz com que as pessoas se sintam mais seguras em um relacionamento e tenham menores níveis de cortisol, o hormônio do estresse – inclusive imediatamente depois de uma briga. Também, só com muita mindfulness mesmo para não mandar o bobão do Eduardo ir jogar futebol de botão lá na casa do avôzinho dele.