22/08/2023
Cotidiano

Ministério da Saúde lança tecnologia de ponta que chega a ambulâncias do SAMU

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Guarapuava – O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o diretor-geral do Hospital do Coração (HCor), Dr. Adib Jatene, lançaram nesta quinta-feira (28), o Sistema Tele-Eletrocardiografia Digital, uma tecnologia de ponta que vai ajudar a salvar vítimas de doenças cardiovasculares graves, como infarto e arritmia. O serviço estará disponível nas ambulâncias do Serviço de Atendimento de Urgência e Emergência (SAMU 192) e atenderá os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em 10 estados brasileiros, inicialmente. No Paraná, apenas Curitiba terá o benefício com 11 unidades. Guarapuava, portanto, está fora.
O Sistema Tele-Eletrocardiografia Digital permite ao profissional de saúde obter um diagnóstico mais preciso do paciente ainda em casa, antes do deslocamento para o hospital. O procedimento pode reduzir em até 20% o número de mortes por doenças do coração.
Cada ambulância do SAMU será equipada com um pequeno aparelho (tele-eletrocardiógrafo digital portátil) capaz de transmitir o eletrocardiograma via telefonia celular ou mesmo por telefone fixo. O exame realizado no paciente em sua residência ou na ambulância é transmitido para a internet e analisado na central de Telemedicina do Hospital do Coração (HCor). O laudo retorna para a ambulância de origem. Todo esse processo dura, em média, cinco minutos. A central dispõe de 16 médicos para a leitura dos eletrocardiogramas do SAMU 24 horas por dia. Além disso, o médico que está atendendo o paciente pode discutir o caso com os especialistas de apoio no HCor. O trabalho é realizado diariamente em tempo real.
“O serviço é de extrema importância para a população brasileira atendida pelo Serviço de Urgência e Emergência. Ele alia conhecimento médico com tecnologia de ponta. Permite agilidade, precisão e redução do tempo de atendimento, diminuindo as sequelas e mortes por doenças cardiovasculares”, explicou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, durante o lançamento do sistema, em Brasília. “É como se cada ambulância do SAMU que dispõe de médico tivesse um cardiologista para dar orientações. Se o resultado do eletrocardiograma recebido confirmar o infarto, toda orientação de medicação e de encaminhar o paciente para o hospital já é feita, ou seja, ganha-se muito tempo no atendimento do paciente”, ressaltou.
O projeto-piloto do Ministério da Saúde é uma parceria com o HCor, que detém a tecnologia digital, e faz parte da iniciativa Hospitais de Excelência a serviço do SUS, lançado pelo governo federal em 2008. O serviço que foi assumido pelo Hcor como parte dos projetos de filantropia, por meio do projeto Hospitais de Excelência. Os recursos de isenção de impostos dos hospitais de excelência são investidos no sistema público.
Os benefícios diretos dessa tecnologia são a redução do tempo de atendimento, a análise mais apurada do quadro do paciente e a realização de uma triagem ainda na casa da pessoa ou na ambulância, para o encaminhamento mais ágil ao chegar a um hospital. Estudo publicado na revista Circulation estima que metade das mortes por infarto ocorre nas primeiras duas horas e que, a cada 30 minutos perdidos no atendimento, o risco de mortalidade aumenta em 7%.

FUNCIONAMENTO – Na primeira fase do projeto do Ministério da Saúde e do HCor, foram adquiridos 450 kits com eletrocardiógrafos e telefones celulares. Um kit serve uma ambulância. No momento, o serviço está em 37 cidades de 10 estados brasileiros. Por enquanto, 86 kits já estão em funcionamento ou em fase de instalação. Até o dia 19 de janeiro, foram realizados 243 atendimentos com o apoio do sistema, nos estados onde funciona o serviço.
A meta é expandir essa tecnologia para todas as 147 centrais de regulação do SAMU, que abrangem 1.347 municípios e alcançam cerca de 106 milhões de pessoas em todo o Brasil. Os kits são destinados prioritariamente às ambulâncias de suporte avançado. Atualmente, existem no SAMU 326 veículos desse tipo. O Ministério da Saúde tem 1.445 ambulâncias em funcionamento e comprou, em 2009, mais 1.850 novas unidades móveis, que circularão em todos os estados e no Distrito Federal em 2010, beneficiando mais de 90% da população brasileira. “Estamos em plena universalização do SAMU. Com as novas ambulâncias, vamos ampliar o acesso da população ao Serviço de Urgência e Emergência”, ressaltou o ministro.
Esse diagnóstico digital permite a segunda opinião de um especialista em cardiologia e, consequentemente, maior segurança e precisão no diagnóstico e tratamento. Pesquisas internacionais mostram que a interpretação de um eletrocardiograma realizado por um cardiologista (em vez de um médico generalista) reduz de 9% para 5% o número de infartos não-diagnosticados.
Os investimentos no projeto do Sistema de Tele-Eletrocardiografia Digital são de R$ 6,9 milhões em três anos, aplicados na compra de aparelhos, treinamento de equipes do SAMU e manutenção de equipamentos.

AVANÇO – Alguns países da Europa, como a Itália, utilizam tecnologias a distância para acelerar o tratamento de pessoas cardíacas. A revista científica Cardiovasc Med (Hagerstown) divulgou, em 2008, que os pacientes atendidos com o apoio de um sistema de tele-eletrocardiograma reduziu de 148 para 81 minutos o tempo total de atendimento. Outra publicação científica Am J Cardiol informou que, na Dinamarca, o tempo para encaminhar o tratamento adequado foi reduzido de 127 para 74 minutos.
O serviço também vai melhorar a gestão do atendimento na rede hospitalar do SUS. Muitos pacientes que apresentam dor no peito não têm necessariamente doença cardiovascular ou não precisam ser internados. Nos Estados Unidos, a ausência de triagem correta é responsável por cerca de cinco a oito bilhões de dólares de gastos desnecessários por ano. O diagnóstico eficiente pode evitar que essas pessoas sejam hospitalizadas desnecessariamente.

COMO FUNCIONA O SISTEMA DE TELE-ELETROCARDIOGRAMA DIGITAL
1. O médico ou o enfermeiro conecta os eletrodos no peito do paciente;
2. O tele-eletrocardiógrafo (aparelho decodificador digital portátil) capta e grava a frequência cardíaca do paciente em apenas dez segundos;
3. O profissional de saúde entra em contato com a Central do HCor por um telefone 0800 e informa os dados do paciente, como nome completo, RG, data de nascimento, antecedentes e sintomas;
4. Repassadas essas informações, o atendente do HCor dá o OK para a transmissão do eletrocardiograma. O exame gravado no aparelho portátil é decodificado em sinais sonoros e transmitido ao HCor por um celular (smartphone), aparelho que permite a transferência de dados em alta velocidade;
5. A Central recebe os sinais, que são decodificados para o traçado do eletrocardiograma, no computador. O tempo total estimado do trâmite é, em média, de cinco minutos;
6. Os cardiologistas do Hcor analisam o exame, elaboram o diagnóstico e o enviam com sugestões de tratamento adequado;
7. O profissional de saúde, que está na casa do paciente ou na ambulância, recebe a informação em formato de mensagem de e-mail. O laudo também é repassado automaticamente para o médico da central de regulação do SAMU local;
8. Pela tela do celular, é possível visualizar o traçado do eletrocardiograma e todas as outras informações sobre o tratamento do paciente. O sistema digital permite o aumento da amplitude do traçado em até 4 vezes
Se achar necessário, o profissional de saúde pode retornar a ligação para o HCor. O médico do hospital estará disponível para discutir e sugerir condutas baseadas em evidências científicas. Todos os dados são arquivados em bancos de dados com sigilo e segurança, conforme recomendações internacionais e do Conselho Federal de Medicina.

DOENÇAS DO CORAÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO
Estudo do Ministério da Saúde constatou que as doenças do coração, como o infarto, e o acidente vascular cerebral (AVC), são a principal causa de morte no Brasil. Essas doenças mataram cerca de 300 mil pessoas em 2006, quase 30% do total de óbitos registrados. Entre 1990 e 2006, houve queda de 20,5% no número de mortes de doenças do coração e AVC no país. No mundo, elas também são as principais causadoras de morte. Em 2005, foram responsáveis por 30% dos óbitos em todo o planeta – o que significa a morte de 17,4 milhões de pessoas por ano.

SAIBA MAIS: PROJETO HOSPITAIS DE EXCELÊNCIA A SERVIÇO DO SUS
O sistema Tele-Eletrocardiografia digital faz parte do projeto Hospitais de Excelência a Serviço do SUS. É uma parceria firmada em 2008 entre o Ministério da Saúde e seis hospitais de referência para humanizar e melhorar o atendimento aos pacientes do SUS. O convênio com esses hospitais envolve a aquisição de novas tecnologias, capacitação profissional, pesquisas e consultorias na área de gestão com a cooperação de hospitais do país de reconhecimento nacional e internacional. A parceria prevê o desenvolvimento de 114 projetos em três anos.

PESQUISA INÉDITA
O Sistema Tele-eletrocardiografia digital vai permitir ainda a produção de uma pesquisa inédita no país. Com as informações registradas nos computadores centrais do sistema, será possível levantar dados sobre o tempo de atendimento dos pacientes, número real de casos, gravidade das doenças e impacto na redução das complicações clínicas e da segunda opinião de especialistas. O estudo será coordenado pelo HCor e deve começar ainda neste semestre. A previsão é que os primeiros dados sejam divulgados no segundo semestre deste ano.

Cristina Esteche

Jornalista

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