22/08/2023


Brasil Geral

Falta de conhecimento é impulso para a intolerância religiosa

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“Senhor, piedade”. A prece presente no trecho da música “Blues da Piedade”, do cantor e compositor Cazuza, expressa, de forma literal, o pedido de milhares de cidadãos brasileiros que, mesmo vivendo em um país dito laico em sua Constituição Federal, temem expressar suas tradições e cultuar a sua religiosidade.

Após abordar o feminismo na redação do ano passado, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2016 propôs refletir sobre a intolerância religiosa. Logo depois das provas deste domingo serem entregues, o Inep anunciou que o tema da redação deste ano é "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil".

Neste domingo (06), os 8,4 milhões de estudantes tiveram 5 horas e meia para fazer provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, matemática e, é claro, a redação.

As redações precisam de cuidados especiais. Textos com sete linhas ou menos receberão nota zero e a estrutura deve ser dissertativo-argumentativa, ou seja, os candidatos precisam expor argumentos relacionados ao tema da redação de forma objetiva e coerente.

O tema remete à reflexão sobre o atual cenário brasileiro. Com a bancada evangélica na Câmara e representantes como Marco Feliciano, isenção fiscal para templos religiosos, regalias para pastores e bispos e, ao mesmo tempo, um retrocesso aos direitos humanos, como a legalização do aborto e direitos dos LGBTs, o Brasil hoje é palco de grande intolerância – principalmente para as religiões "marginalizadas", como umbanda, candomblé e espiritismo, alvos de discriminação e crimes de ódio.

Um estudo do Disque 100 revelou que denúncias relacionadas à discriminação religiosa aumentou 70% no ano passado, chegando a 252 casos, o patamar mais elevado desde a criação do Disque Direitos Humanos, que lidera as queixas relacionadas às causas sociais.

O diálogo sobre a intolerância religiosa foi aplaudido nas redes sociais. Enquanto alguns ironizaram a reflexão do tema entre os defensores da "família tradicional brasileira", outros criticaram a intolerância dos usuários para com religiões que também são taxadas de preconceituosas, como as evangélicas.

Cristina Esteche

Jornalista

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