22/08/2023
Guarapuava

As pinhas do pinheiro de Maquiavel

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A PINHA DE MAQUIAVEL – 1

A arte da política, para aqueles que almejam retomar o poder perdido, consiste em fazer vista grossa frente aos seus malfeitos e em passar um pente-fino em tudo aquilo que seus adversários, empoleirados no poder, cogitem realizar. É sempre assim. Apenas muda-se o tom, a intensidade das cores e, é claro, os papéis que são interpretados pelos atores dessa infindável opereta bufa.

A PINHA DE MAQUIAVEL – 2

Almejar a grandeza sem perder a decência, procurando sempre mais servir que ser servido. Essa é a regra de ouro dos grandes estadistas. Dos grandes homens dum modo geral.

Todos aqueles que dedicaram-se a leitura dum bom punhado de biografias de homens dessa envergadura sabem muitíssimo bem do que estou falando e o quão raros são esses tipos na atmosfera política brasileira. Hoje mais do que nunca.

Agora, cobiçar o engrandecimento pessoal e a usurpação de bens materiais para si e para os sequazes de sua matilha, perdendo toda a vergonha, que poderia ter um dia existido nas ventas, é a fórmula mais que perfeita do canalha politiqueiro, do oportunista populista que tanto infecta a vida pública nacional.

Pior! Essa raça de sicofantas crê que a defesa de seus interesses particulares e de seu covil seja a mesmíssima coisa que a defesa do interesse público. Creem mesmo? Acho que não. Não mesmo.

A PINHA DE MAQUIAVEL – 3

Uma coisa que, aparentemente, nem os indivíduos que mergulham de cabeça no lamaçal da política brasileira, nem os cidadãos incautos entendem é o tal Nicolau Maquiavel. Principalmente quando ficam citando o referido pensador florentino para justificar os atos dum caudilho ou para explicar as estripulias de canalhas desvairados que tem como esporte a avacalhação geral da coisa pública.

Ele, Maquiavel, afirmava em sua obra que os fins deveriam justificar os meios; sim, porém, os fins justificariam os meios para a realização da razão de Estado e do bem comum e não, como frequentemente vemos nessa terra de desterrados, para justificar toda e qualquer prática desavergonhada, toda e qualquer imoralidade que visa realizar tudo o que for possível para favorecer os mais vis interesses egoísticos e beneficiar os cínicos negócios de uma facção de parasitas que fazem troça da razão de Estado e carneiam o bem público de maneira bestial.

Enfim, seja como for, Nicolau Maquiavel não era santo, porém, não chegava a ser diabólico como muitos de nossos (des)governantes o são.

A PINHA DE MAQUIAVEL – 4

Há pessoas que juram fidelidades mil à grupelhos políticos que, no fundo, não passam de organizações mafiosas da pior estirpe. Em tal tipo de lealdade, não há dignidade alguma não. Não mesmo. O que há nesse tipo de fidelidade é apenas uma vil cumplicidade criminal que tenta ridiculamente se apresentar de maneira honrada. Enfim, no frigir dos ovos, tudo isso é tão somente uma sinistra piada.

A PINHA DE MAQUIAVEL – 5

A única lealdade válida, digna de respeito, é aquela firmada frente a verdade e em nome dela. Todo resto que contradiga essa obviedade não passa duma rasteira safadeza. Só isso e olhe lá.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

Cristina Esteche

Jornalista

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