22/08/2023
Guarapuava

Que Deus tenha piedade!

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O ser humano passa por uma fase de mutação e pra pior. Com a licença dos entendidos da área, mas é possível ver que trás das máscaras há faces facínoras, maléficas, destrutivas.

A posse de um tipo de poder efêmero transforma alguns em verdadeiros “galinhos de briga”, aqueles com o topete erguido, o peito estufado, e a certeza de que são os donos do mundo. Confesso que nunca vi coisa igual. E mais uma vez recorro a Herman Hesse quando ele diz que o homem é o lobo do próprio homem. É o único animal que massacra, que dilacera, que mata a própria espécie. Que lava as mãos com o sangue de uma vingança incógnita, de sei lá o quê.

Trato aqui, mais uma vez, do comportamento da maioria nas redes sociais. Lembro que há algum tempo, vi um comentário sobre quem é quem atrás do teclado e na Internet. Era um homem nu, gorducho, velho, mas com quem ele “teclava” dizia ser loiro, alto, esbelto, olhos azuis. Haja imaginação para um desejo contido que mostra o descontentamento sobre o seu biotipo. Ou seja, na net você pode ser quem você quer. Pode fantasiar ou tirar a máscara, se revelar.

Pode ser lugar comum, ou o mesmo da mesmice. Mas o que lê nas redes sociais tendo como pauta a morte de Dona Marisa Letícia Lula da Silva é uma coisa bizarra, absurda, inconcebível. Politizar uma morte com comentários grotescos, escritos com o ódio nas pontas dos dedos, confesso que foge de tudo o que li na minha vida. Mas infelizmente é o envolve as redes sociais, escritas, na maioria das vezes, por pessoas que são levadas por uma onda rancorosa. Já vi estudantes, por exemplo, que eu sei que são beneficiados com financiamentos criados pelo Governo do PT, cuja família também é beneficiária do Bolsa Família, que adquiriram bens somente com as facilidades do Governo Lula e do Governo Dilma, jogarem seus benfeitores aos leões ávidos. Porém, basta poucos minutos de conversa esclarecedora, de perguntas, para que os argumentos fracos sejam vencidos.

Quero crer que a falta de politização, que o analfabetismo político ainda impera no país, ao ponto de desferir ódio na morte de uma pessoa que deixou a dor da perda para esposo, filhos, netos e milhões de brasileiros que a conheceram e admiraram a sua história de luta.

Política? Cada um tem a sua ideologia – a minoria – , a sua concepção, se é direita, centrão, esquerda, anarquista, ou coisa que o valha. E isso deve ser respeitado e debatido no momento certo. Agora, porra louquice – me desculpem o termo, mas confesso que não encontrei outro melhor – , não dá pra aguentar.

A que ponto chegaram as pessoas que se acham no direito de julgar? Que não respeitam a opinião alheia, que desejam a morte do seu semelhante, que invadem perfis para dizer o que pensam – opa! Desculpe, elas não pensam – e escrachar com a opinião alheia?

Bem, se a ética médica não existe mais, e se há aqueles que prestaram juramento de que atuariam para salvar vidas, se acham no direito de comentar em grupos do Whats o que vazou nas redes sociais, em relação ao caso de Dona Marisa Letícia – que a considero uma grande mulher, sim -, vamos pensar o que dos pobres mortais que alimentam o ódio voraz que escorre pelos seus comentários? Que o deus de cada um tenha piedade das suas almas – dos seus corpos também – quando a lei da ação e da reação ver que chegou a hora de agir.

Cristina Esteche

Jornalista

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