Da Redação, com O Globo
Berlim – A Alemanha elegeu nesse domingo (12) como presidente, seu ex-chefe da diplomacia Frank-Walter Steinmeier, apresentado pela imprensa como um "anti-Trump" após multiplicar as críticas ao novo presidente dos Estados Unidos.
O cargo de presidente na Alemanha é, sobretudo, de honra, enquanto o poder está nas mãos do chefe de Governo e do Parlamento. Mas tem valor de autoridade moral do país.
Cabelos brancos bem penteados e óculos de aro, o líder social-democrata foi eleito por 75% dos votos de uma assembleia de 1.260 grandes eleitores, parlamentares de ambas as Casas e alguns representantes da sociedade civil.
Em seu primeiro discurso como presidente, preferiu não fazer refência direta aos Estados Unidos.
"Quando as bases (da democracia) vacilam, é preciso mais do que nunca apoiá-las", afirmou, ressaltando que a "coesão da sociedade" é primordial "nesses tempos tumultuados onde o mundo não parece mais girar em círculos".
Frank-Walter Steinmeier, de 61 anos, era apoiado por seu partido, o SPD, e pelos democratas-cristãos da chanceler Angela Merkel, aliados na coalizão governamental e que controlam a maioria dos votos.
Ele, que foi ministro das Relações Exteriores por pouco mais de sete anos (2005-2009, 2013-2017), até o final do mês passado, mas derrotado por Merkel na chancelaria nas eleições de 2009, irá suceder o presidente Joachim Gauck, um ex-pastor dissidente da Alemanha Oriental.
TRUMP
Conhecido por seu discurso franco quando esteve à frente da diplomacia, Frank-Walter Steinmeier distinguiu-se no ano passado por suas investidas contra Donald Trump.
Durante a campanha eleitoral americana, ele chamou o bilionário de "pregador do ódio".
"Eu quero, na função de presidente, ser um contrapeso na tendência sem limite de simplificação", prometeu esta semana em Munique, "este é o melhor antídoto aos populistas".
"Steinmeier quer ser um presidente anti-Trump", resume o jornal Berliner Morgenpost, enquanto o chefe de Estado americano multiplicou seus ataques contra a Alemanha.
Muito popular na Europa Ocidental, é menos querido no leste europeu, onde as suas posições por vezes consideradas pró-Moscou causam preocupação. Neste sentido, criticou no ano passado o reforço da Otan nas fronteiras com a Rússia.
MERKEL
Internamente, a eleição de Frank-Walter Steinmeier é um novo sinal da perda de força política de Angela Merkel, a menos de sete meses para as eleições legislativas, desta vez contra os social-democratas.
"Do ponto de vista dos social-democratas, a eleição de Steinmeier é o prelúdio de algo muito mais importante: a vitória nas urnas em setembro contra Merkel", que parecia até pouco tempo "impossível", considera Michael Bröning, analista político da Fundação Friedrich Ebert.
A chanceler conservadora teve de se resignar no ano passado em apoiar o seu antigo rival, não tendo conseguido apresentar um candidato de consenso e forte o suficiente. Merkel encontra-se mais do que nunca em perigo.
À direita enfrenta a concorrência do movimento nacionalista AfD, apontado com entre 10% e 12% das intenções de votos, e as críticas de seu próprio campo político. Em causa: a sua decisão, em 2015, de abrir as portas do país para centenas de milhares de migrantes.
E à esquerda, onde Angela Merkel tinha, até então, atraído apoio por sua política centrista, os social-democratas têm se recuperado nas pesquisas desde que nomearam um novo líder, ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz.
Fogo de palha? De toda forma, o SPD cresceu em duas semanas dez pontos nas pesquisas e encontra-se ombro a ombro com o partido da chanceler.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Emnid e publicada neste domingo pelo jornal Bild credita o SPD com 32% dos votos, contra 33% do partido da chanceler.