Cristina Esteche
Guarapuava – Local de manifestações de fé, a capela do monge João Maria, no Parque Recreativo Jordão, está sem manutenção há anos. Parte do telhado está destruída pelo tempo e expõe a falta de cuidados com o espaço que para muitos é sagrado. “Eu batizei os meus três filhos aqui e já recebi muitas graças”, diz Ana Maria Prado, frequentadora do Jordão. “Sempre que posso venho aqui e levo um pouco dessa água benta. Já curei reumatismo na perna só lavando com essa água”, intervém Maria do Belém Prestes, outra frequentadora. "Sempre levo garrafas com água para casa e dou para toda a família beber".
Se o visual externo já expõe o descaso, no interior da capela o desleixo é ainda maior. A sujeira nas paredes de pedra esconde a beleza da obra humana. No chão, o lixo espalhado demonstra que nem mesmo os fieis se preocupam com o local onde manifestam a sua fé. Retratos, muletas, velas, fitas, fotografias, flores de plástico, bengalas, peças de roupa, e outros objetos entregues em troca de graças recebidas estão amontoados em espaços que eram vazios. No chão, o limbo gerado pela umidade é outra face da falta de manutenção. O cheiro de urina também impera.
O que chama a atenção ainda mais são os copos com galhos de arrudas deixados sobre a fonte de onde escorre a água considerada benta. É uma demonstração de que os batizados acontecem semanalmente naquele local. “Ah! Tem uns três batizados por domingo”, diz Sebastião de Jesus, antigo frequentador do Jordão. “Moro ali 'pros' lados do Banhado”, diz.
O secretário municipal de Obras, João Edson de Lima, no final de semana ao passar pelo local, viu o estado lastimável da capela. “Precisamos cuidar desse local”, disse em entrevista à RedeSul de Notícias.
A gruta construída na década de 70 pelo ex-prefeito Nivaldo Kruger é apenas um recorte no cenário do parque recreativo e é um tributo ao monge João Maria, peregrino cristão, de origem italiana que passou por Guarapuava.
É comum ler relatos da época, imortalizados por pesquisas de historiadores locais, falando sobre o monge. Uma dessas histórias, diz que João Maria teria abençoado uma fonte de água que nascia ao pé de uma imbuia, no Vale do Rio Jordão. Quando o monge passava pela cidade, costumava acomodar-se exatamente neste local. Com o tempo, a árvore foi cortada, mas o olho d’água permaneceu. “Construí a capela em cima da fonte, correspondendo à crença popular de que o monge era, de fato, milagroso”, contou Kruger em entrevista ao perfil Guarapuava Histórica. Há relatos também de que o monge costumava pernoitar debaixo de pés de figueiras, onde brotavam os olhos d´água.
De acordo com o Guarapuava Histórica, João Maria levava uma vida peregrina e vivia de donativos das pessoas que acreditavam em sua santidade. Ele pregava o bem, atendia doentes e acreditava-se que era capaz de fazer milagres. Além disso, era identificado como um homem que caminhava de pés descalços, possuía uma barba longa e era bastante severo. O monge tinha por costume abençoar ou amaldiçoar o local por onde passava, conforme era recebido pelas pessoas.
Era comum que São João Maria abençoasse olhos d’água e fontes dos locais por onde caminhava. A estas águas é atribuído um caráter milagroso, de cura. A fonte localizada às margens do rio Jordão, em Guarapuava, é um exemplo disto.