A repercussão da ação judicial que retirou famílias que viviam na área de 290 hectares em Pinhão é grande, mas era um fato anunciado há 13 anos. De acordo com o diretor-presidente das Indústrias João José Zattar, Miguel Zattar Filho, a área na Fazenda Alecrim, na localidade de Faxinal dos Ribeiros, há 30 anos estava ocupada irregularmente. O não cumprimento até então, segundo o industrial, se deve à morosidade do Governo do Estado em ceder o aparato policial para a reintegração. “O que aconteceu hoje era para ter acontecido em 2004. Não aconteceu porque o sistema não funcionou da forma como tinha que ter funcionado”. A Polícia Militar cumpriu, na última sexta feira (01) a ordem de reintegração autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), atendendo o pedido que vinha sendo feito há 20 anos pela indústria madeireira.
“Em 2004, as pessoas que estavam nessas terras foram informadas que tinham que sair. Nós, da empresa, esperamos por 13 anos uma ordem do Governador para que esta reintegração fosse executada, já que as pessoas que ocupavam o local se recusaram a sair quando o oficial de justiça apresentou o mandado do juiz. Todos sabiam que isso iria acontecer”.
Segundo Zattar Filho,em entrevista concedida apo Sindicato Rural de Guarapuava, houve uma tentativa de negociação com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas em nenhum momento o órgão aceitou a solução que a empresa ofereceu. “Sempre tivemos interesse na Reforma Agrária e que o Pinhão fosse pacificado na questão fundiária. Em 2006, fizemos uma oferta de 10 mil alqueires para que o Incra comprasse a área, para que estas pessoas pudessem continuar lá. Inclusive cedi aos pedidos da Associação de Famílias de Trabalhadores Rurais do Pinhão (AFATRUPI), já que tinha ofertado uma área menor. Mas o Incra não se interessou em comprar nenhum alqueire e a situação não foi solucionada”, explica o diretor presidente.
Casas, igreja e inclusive um Posto de Saúde Municipal foram demolidos durante a operação, já que todas as construções foram erguidas de forma irregular. “Esta área onde foi executada a reintegração de posse era uma das reservas mais abundantes de imbuia, mata fechada, que hoje eles converteram em agricultura. Cortaram tudo e transformaram em carvão e lavoura. Ou seja, cometeram um crime ambiental brutal e ninguém foi punido ao longo desses anos”, alega Zattar Filho.
As invasões às terras das Indústrias Zattar iniciaram na década de 1980, por um movimento de arrendatários destas áreas que começaram a contestar a propriedade dos imóveis da empresa. “Isso não procede. Todas as nossas terras são legais, temos toda a documentação, inclusive matrícula de todas as áreas. Sempre tivemos um diálogo tranquilo com estes posseiros e com os órgãos que apoiavam a apoiam estas invasões, como a Pastoral da Terra, a AFATRUPI criada naquela época e o Incra. Sempre esperamos o cumprimento da decisão judicial”, afirma o diretor presidente.
Atualmente, estima-se que três mil famílias ocupam as áreas da empresa. Na Justiça, ainda tramitam várias outras ações de reintegração de posse requeridas pelas Indústrias Zattar. “Para mim não foi um dia de felicidade, porque eu queria ter solucionado de outra forma. Mas a nossa paciência, de esperar os órgãos competentes resolverem, não pode ser questionada. Esperamos por 13 anos o cumprimento de uma decisão judicial que era simples. O que aconteceu hoje era para ter acontecido em 2004. Não aconteceu porque o sistema não funcionou da forma como tinha que ter funcionado”.