22/08/2023




Guarapuava

Se as coisas estão assim é porque nunca fizemos política de verdade

De tanto ler e ouvir falar da crise política que assola nosso País e a quase total ausência de alternativas para reconstruir o Brasil em novas bases em curto período de tempo, advogo em favor do diálogo; da resiliência de alguns homens públicos que ainda não foram contaminados; do fazer política de verdade por parte de cidadãos comuns e de uma forma de vida incomum em todo e qualquer ambiente em que vivemos.

Ora, quem quiser melhorar nosso País, Estado e Cidade terá que investir grande energia de seu tempo na tentativa de recomposição da confiança recíproca e no diálogo entre os que acreditam em quatro causas consideradas vitais para a esfera pública, a saber: a inclusão social, o crescimento econômico, o respeito à sustentabilidade e o combate a toda e qualquer corrupção.

Não é com ódio, cinismo, falta de escrúpulo ou com fundamentalismo que esta tese poderá ser defendida.  

O brasileiro desconfiado é muito maior do que o confiante. Assim, entre tantos erros praticados voluntariamente, o grande problema do país neste momento está na ausência de diálogo entre aqueles que poderiam buscar na arbitragem uma saída honrosa;  a intoxicação de uma mídia cúmplice e a perda de confiança por parte das pessoas em toda e qualquer autoridade.

Se isto não ocorrer a toque de caixa, nossas chances diminuem muito e ficaremos na dependência de brasileiros que estão neste momento com medo e com os braços cruzados.

O que vejo é uma clara direita comportamental confusa no ataque, uma clara esquerda desorientada na defensiva e um fascismo crescente envolvendo pessoas normais em uma guerra civil verbal que não nos levará a lugar algum.

Veículos de comunicação comprometidos com o poder inventaram uma "opinião pública" que é simplesmente a opinião publicada de seus representantes.

O fato é que, segundo Roberto Amaral, a verdade toda ainda não foi exposta à luz do dia e a cada dia que passa nos encontramos em um labirinto comandado pelo poder econômico internacional. Cada vez sabemos mais e fazemos menos.

A promiscuidade que envolvia empresários e políticos pode agora estar apenas nas mãos de empresários que ocuparam e ocupam a política para deixarmos nus por inteiro.

A ostensiva campanha de criminalização da política tem um claro interesse por aqueles que propagam o vírus da antipolítica que dependendo da escolha de cada de um nós poderá recair em  uma ditadura do judiciário perverso ou no autoritarismo de um empresariado banda podre.

As coisas estão sendo feitas com tanta velocidade na política formal com a assinatura de brasileiros sem qualquer leitura e reflexão que o futuro parece estar lançado: voltaremos a ser uma colônia e voltaremos a ter escravidão. Voltaremos a ter Senhores de Engenho com uma Casa Grande e muitas senzalas.

Os sinais são claros: reformas que não são propriamente reformas, mas sim decisões unilaterais que acabam com o presente e comprometem o futuro; uma silenciosa campanha para abortar parte de um judiciário ainda decente para uma absolvição coletiva de políticos investigados e a decisão por parte do poder dominante de que não há outra alternativa senão curvar-se diante do que fazem para o bem de todos.

Se as coisas estão assim é porque nunca fizemos política de fato (um enfrentamento competitivo e viável) e porque mantemos ainda uma forma de vida inadequada aos padrões civilizatórios. Nos acostumamos com as coisas erradas.

Precisa-se com urgência urgentíssima de ‘fazermos política de fato’ e da expressão de uma forma de vida incomum onde em cada ambiente possamos fazer a diferença com justiça e ética. Enquanto isto não acontecer, bye bye Brasil.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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