“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. (São Francisco de Assis)
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A visitação da Santíssima Virgem Maria à sua prima Santa Isabel (Lc I, 39-56). Eis o segundo Mistério gozoso o qual é um imenso caudal de significados em profundidade para aqueles que, seguindo o exemplo da Santíssima Virgem, humildemente entregam sua alma para a realização da Vontade do Pai Celeste.
O primeiro ponto que julgamos ser relevante destacar é o fato de Maria Santíssima se dirigir com pressa para a casa de sua prima, ou seja, sem perder tempo. Sem perder tempo para realizar um gesto de caridade, junto a alguém familiar. Ela ficou três meses junto de sua prima, que estava grávida.
Ainda sobre esse ponto, é interessante observarmos que a residência de Santa Isabel ficava em uma região montanhosa que, na simbologia tradicional, representa a morada do Altíssimo que é a direção para onde estão andando os passos apressados da Virgem, para atender prontamente os desígnios do Espírito Santo.
Podia ela, entreter-se com uma e outra questão que nos é suscitada o tempo todo pelos espíritos do mundo. Porém, ela, ao contrário de todos nós, é pura como nos explica o Dr. Martinho Lutero – em sua obra “A Liberdade do Cristão” e, por ser pura, tornou-se o trono da Santíssima Trindade devido a sua humildade em aceitar a realidade da vontade de Deus e devido a sua fortaleza em afastar-se, depressa, da futilidade do espírito do mundo.
Mais adiante, quando ela, que fora escolhida por Aquele que É para trazer ao mundo o Verbo Encarnado, chega na casa de sua prima, Maria a saúda e, também, mais do que depressa, o bebê no ventre de Santa Isabel, se manifesta e se agita, como todos nós bem sabemos. E isso ocorreu porque é assim que uma alma inocente reage quando está diante da presença da Verdade, quando Essa vem para iluminar a sua vida. Assim é a presença da realidade Divina em nosso ser quando esse se abre para Ele.
Santa Maria, cheia de Graça, como anuncia o anjo, faz-se como uma ânfora a derramar sobre aqueles que estavam a sua volta a Graça recebida do Espírito Santo e, neste momento, quem estava sendo lavada com as caudalosas águas era Santa Isabel e o fruto de seu ventre, São João Batista que, em idade adulta, tal qual a ânfora que o banhou com essas águas espirituais, depressa se dirigiu para o deserto, longe do espírito do mundo para com água batizar os que iam a sua procura. Banhando e anunciando que em breve viria Aquele que os batizaria com o Espírito Santo, o mesmo que lhe foi derramado quando ainda estava no ventre de sua mãe quando ela foi visitada pela mãe de Nosso Senhor.
De nossa parte, creio firmemente que temos o dever de não nos esquecer, jamais, que nós fomos feitos para servir a Deus em verdade e espírito. Por essa razão, devemos tal qual o exemplo que nos é dado pela Virgem e não perdermos tempo com as truculências do mundo, com os sofismas maliciosos do espírito mundano que, a todo o momento, nos convida dissimuladamente a deixarmos para depois aquilo que deve estar em primeiro lugar na nossa vida.
Por sermos levianos, permitimos que nossa vontade seja vergada frente aos ditames miúdos das rodas de “amigos”, das ideologias políticas de massa, das futilidades mercadológicas, da estética sem beleza exaltada pelo terror mutante da moda, em fim, permitimos que tudo isso, discreta ou diretamente, ocupe a primazia em nossa vida e acabamos, com pressa, deixando para outra ocasião, que a verdade reine em nossa alma. Ocasião essa que, em muitos casos, acaba ficando num último plano.
Acredito que vendo por esse prisma podemos compreender com maior clareza porque o Pai Celeste escolheu a humilde serva, Maria Santíssima, para receber o esplendor da Verdade que Se fez carne e porque nós, indignos pecadores, necessitamos urgentemente do Fruto de seu ventre e da intercessão de todos aqueles que com pressa procuraram viver de acordo com o Evangelho do Bendito Fruto do ventre de Nossa Senhora.
Isso! O fruto do ventre da Virgem é Bendito por Deus de tal maneira que sua simples vinda enche-o de graças e por isso, nos move a render homenagens a Deus para que toda língua confesse que o Senhor Jesus Cristo está na glória do Pai, como nos ensina São Tomás de Aquino em seus “Sermões sobre o Pai Nosso e a Ave Maria”.
Deus, por misericórdia, Se fez carne para nos salvar. Nós, de nossa parte, devemos permitir que seja gestado em nossa alma a Verdade para que possamos renascer sob a luz do Espírito Santo. Ou seja: “A união com Cristo – como nos explica Thomas Merton comentando a obra de Santo Ambrósio – implica Sua entrada em uma personalidade que tem perfeita unidade em seus três elementos tradicionais: corpo, alma e espírito – corpus, anima, spiritus”.
Deveríamos humildemente entregar a nossa alma ao espírito e subjugar o nosso corpo a luz que está a iluminar nossa alma, pois, como nos ensina o mesmo grande monge trapista, o homem apenas encontra a sua verdadeira realidade quando se lembra de Deus.
São João Batista no deserto gritava a todos para que nos lembrássemos Dele e nos convertêssemos ao caminho da Verdade. E seu grito continua a ecoar pelo deserto espiritual do mundo atual.
Ah! E não nos esqueçamos de que o Batista foi aquele que foi banhado pelo Espírito Santo e, seguindo o modelo da Virgem, não perdeu tempo para realizar a Vontade de Deus.
Quanto a nós, nos cabe é perguntar: com que pressa procuramos atender a Vontade de Deus? Em que medida estamos dispostos a ouvir a Verdade do Espírito? Ou, quanto permitimos que o espírito do mundo se assenhore de nosso horizonte?
No final das contas, com ou sem pressa, a decisão cabe apenas a cada um de nós e a ninguém mais.
[continuamos… uma hora dessas]