Na célebre abertura do livro “O 18 Brumário”, Karl Marx pontifica: “Todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
Por mais que discordemos de Marx, e do marxismo, é inegável que foi extremamente feliz nessa ponderação. Vemos prova dela hoje no Brasil. Setores da política brasileira lançaram uma campanha por “diretas já”, numa evidente tentativa de remeter a memorável mobilização cívica ocorrida entre 1983 e 1984 que empolgou o Brasil e foi fundamental para a restauração da democracia no país.
Ao contrário da mobilização nacional dos anos 80, que uniu o Brasil, a campanha de 2017 é sorrateira e movida, principalmente, por interesses rasteiros. O mais evidente deles é a tentativa de livrar o ex-presidente Lula, réu em seis processos por corrupção, de se tornar ficha suja e do risco de acabar sua carreira na cadeia. O truque é fazê-lo disputar à Presidência em 2017, quando a Constituição prevê eleição em 2018.
Como Lula pode estar condenado em 2ª instância, e até preso, antes de se tornar candidato na eleição de 2018, o PT trama “diretas já” para livrá-lo desses perigos. Para atingir esse objetivo querem até mudar a Constituição… Interesses diversos, ou ingenuidade, levam setores não alinhados ao petismo a subscrever essa tese torta.
O caráter sorrateiro da campanha se evidencia pelo fato que Lula, aconselhado pelos seus advogados, recomenda discrição ao próprio partido. Não quer ser lançado oficialmente já. Prefere não constranger os aliados não petistas das ‘diretas’, nem provocar o Judiciário que poderia entender esse lançamento como o que é: uma tentativa de obstrução de Justiça.
O Brasil, que já vive uma gravíssima crise econômica e institucional, não pode se render a um casuísmo, uma mudança dessa gravidade nas regras do jogo, motivado por interesses tão subalternos. A memorável campanha das ‘diretas já’ da década de 80 não pode ser convertida em uma farsa em 2017. Nem o Brasil nem a história merecem isso.
(*) Ademar Traiano é deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa do Paraná e presidente do PSDB do Paraná