22/08/2023


Brasil Geral

E se nada der certo?

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Por Maurício Bento, para o Huffpost Brasil

Alunos do colégio IENH, em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, promoveram um evento com a temática "E se nada der certo?" como dos típicos trotes do terceiro ano do ensino médio. No evento em questão, eles se vestiram com uniformes de profissões que consideram opções caso tudo dê errado.

Vendedores, garçons, garis, atendentes de supermercado, mecânicos, cozinheiros, faxineiros… Essas foram algumas das profissões de que jovens da elite gaúcha tiraram sarro.

Alguém tem de lembrá-los que, em grande medida, são pessoas nessas profissões que pagam as universidades públicas "grátis" que esses alunos sonham em entrar por meio do Enem ou do vestibular.

A própria Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem um custo mensal de R$ 3 mil por aluno (graduação e mestrado/doutorado). Esses custos, financiados por impostos, são pagos em grande medida pela população mais humilde, exatamente a que ocupa as profissões citadas acima.

Como mostra um estudo do Instituto Mercado Popular, universidades públicas aumentam a desigualdade no País, pois os alunos têm uma renda familiar per capita duas vezes mais alta que a dos que não vão para a universidade. A classe alta é super-representada nas universidades públicas.

Para ilustrar a diferença cultural, em outros países, como os Estados Unidos, é comum que profissionais experientes do setor público ou privado tenham tido experiências no McDonald's ou em outros restaurantes atuando como garçons, ou em outras das profissões malvistas pelos alunos do IENH. Alguns, inclusive, usaram o salário para pagar as contas durante os anos na universidade. Não há vergonha alguma, mas orgulho do que aprenderam nesse tempo. Para dar alguns exemplos:

O primeiro emprego de Michael Dell, fundador da marca de computadores Dell, foi lavador de louça.

O primeiro emprego de Marissa Mayer, CEO do Yahoo, foi caixa de supermercado.

O primeiro emprego de Doug McMillon, CEO do Walmart, foi descarregador de caminhão no almoxarifado da empresa.

Eles deram certo duas vezes, por reconhecerem a dignidade dessas profissões, como por terem aproveitado as oportunidades e crescido na carreira.

Quem não deu certo foi Eduardo Cunha, que já foi presidente da Câmara, mas foi cassado e preso.

Quem não deu certo foi Antonio Palocci, que já foi ministro da Fazenda de Lula, mas está preso.

Quem não deu certo foi Aécio Neves, que foi grampeado pedindo dinheiro ilegal, contribuiu para a prisão da própria irmã, Andrea Neves, teve seu mandato suspenso e pode ser preso a qualquer momento.

Quem não deu certo foi Dilma Rousseff, cujas políticas destruíram a economia do país, abriram espaço para corruptos como Joesley Batista se tornarem grandes e que acabou em impeachment.

Quem não deu certo foi Marcelo Odebrecht, que já foi presidente de uma das maiores empreiteiras do mundo e hoje está preso.

As pessoas humildes e honestas que ajudam e servem mais de 200 milhões de brasileiros diariamente, essas deram muito certo. Jovens que não reconhecem isso é que podem acabar dando muito errado.

Cristina Esteche

Jornalista

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