22/08/2023




Cotidiano Guarapuava

Voluntários acolhem e alimentam moradores de rua, em Guarapuava

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Cristina Esteche

Guarapuava – Um dos maiores exemplos de doação, solidariedade e amor incondicional tem um nome em Guarapuava: Grupo Vida para Vidas. São jovens e adultos que se unem diariamente para cuidar de moradores de rua.

“Eu sou campista do Sorriso de Maria e sempre quis fazer alguma coisa pelos mais necessitados e quando me formei, encontrei esse grupo que era tudo o que eu queria”, diz o  agrônomo Diego Rigoni.

O ponto de encontro é a Paróquia Santa Cruz. Há um ano eles se reúnem para fazer e entregar marmitas às pessoas que moram na rua. “Começamos a fazer sopa durante o inverno. Nos reuníamos um na casa do outro”, conta Luciano José Rodrigues. Mas como a fome ignora as estações do ano, o grupo decidiu estender a boa ação para o ano todo. O cardápio também foi incrementado. Para cozinhar o arroz, o feijão, a carne e fazer salada, a equipe começa cedo. A primeira tarefa é arrecadar os ingredientes. “Buscamos doações, mas quando falta a gente compra”, diz Luciano. Segundo o benfeitor, a maior dificuldade é ganhar carne, cuja necessidade é de sete quilos por dia para as 25 marmitas diárias e mais as refeições de 11 moradores que hoje estão na Casa de Passagem. “Também precisamos de gás”.

Enquanto os hóspedes assistem televisão na sala de estar, homens e mulheres trabalham na cozinha. Cirlene Bastos, Eulina da Cruz, Edna Veviurka, Gean Carlos dos Santos Oliveira, eram alguns dos voluntários que estavam na cozinha numa das noites da semana passada. “É muito gratificante”, diz Cirlene. Quando a refeição fica pronta, os acolhidos são convidados à oração. Depois se servem, se alimentam e ficam à vontade até a hora de dormir.

Para os voluntários é hora de preparar as marmitas e o chá quentinho. Depois da refeição, é chegado o momento de sair às ruas, em comboio, em busca de quem está com fome e depende daquela, que é única refeição do dia. “Nós sabemos todos os pontos onde eles [moradores de rua] ficam”, diz Marielly.

Em cada lugar onde são encontrados, os moradores de rua esperam ansiosos pelas marmitas. “Dá uma vontade de começar a comer, mas precisamos fazer a oração”, diz Jakson Chaves Antunes de Souza. “Eu falo mesmo. Estou na rua porque minha família não me aceita porque sou alcoólatra”, diz o jovem. É ele quem faz a oração na noite fria de sexta feira (13).

E assim a noite segue para os voluntários do Vida por Vidas. Em cada parada, uma pessoa é alimentada, uma conversa acontece. São dramas que se escondem atrás de cada um e que encontram alento nos poucos minutos de atenção que ganham, no prato de comida que sacia a fome. “Estamos fazendo a nossa parte”, diz Diego Rigoni.

CASA DE PASSAGEM

O local fica anexo à Igreja Santa Cruz. E foi cedido pelo padre Alan Felício. Lá os 11 hóspedes cumprem as regras, das quais, é não chegar embriagado ou ter consumido droga. “Eles [moradores de rua] ficam aqui por determinado tempo até retornarem ao convício familiar, ou encontrarem um trabalho e terem condições de seguir em frente”, diz Marielly. Na casa eles tomam banho, recebem três refeições diárias, assistem televisão e pernoitam. “Hoje estamos procurando voluntários que desenvolvam atividades durante o dia para que não fiquem na ociosidade”, diz Luciano. As tarefas diárias são compartilhadas, tudo sob a supervisão do padre. Durante a noite, jovens se revezam e dormem na casa para quem cuidar de quem ali está.

Tiago Alves dos Santos, 24 anos, morava no Boqueirão em Guarapuava, mas o vício em bebida alcoólica o fez a perder a mulher e a filha. A rua foi o local onde encontrou alento. “Morei na ruas uns dois ou três anos, se não foi mais. Perdi minha mãe aos 13 anos. Aos 16 fiquei sem meu pai e meu irmão me tomou o lote que tinha e aí o álcool me adotou. Dormia na rampa da Igreja Santa Terezinha e fui resgatado por estes abençoados aqui”, Na Casa de Passagem há 12 dias, Tiago já frequenta o AA e agora procura emprego como pintor fichado, profissão que sempre exerceu. “Tenho que agarrar esta oportunidade e me levantar”, diz.

Assim como Tiago, cada homem que ali está tem uma história em comum pra contar. Todos estão sendo consumidos pelo vício, quer seja no álcool ou nas drogas – em muitos casos, os dois. Se todos desejam uma oportunidade? “Olha, nós já recuperamos uma pessoas, colocamos no mercado de trabalho, arrumamos casa, mas meses depois veio a recaída e…”, diz Marielly.

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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