22/08/2023
Política

Kruger contraria PMDB do PR e é aplaudido em convenção nacional

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Guarapuava – Contrariando resolução do seu partido no Paraná, que determinou o não comparecimento dos seus representantes na convenção nacional realizada em Brasília no último dia 12 de fevereiro, Nivaldo Krüger não só participou do encontro, como também fez um discurso que arrancou aplausos dos peemedebistas tradicionais.
Como fundador do extinto MDB nos “anos de chumbo” da ditadura, o discurso de Kruger relembrou o tempo considerados heróicos do partido, hoje PMDB, lamenta a deterioração ideológica do presente e defende a candidatura própria para a Presidência da República. E lembra que o nome do governador do Paraná, Roberto Requião foi defendido por lideranças de cinco estados do sul na convenção de Curitiba no final de 2009.
Durante o pronunciamento, José Sarney retirou-se do plenário.
Confira a íntegra do discurso:
“Sem desprendimento e espírito público não se constrói uma nação.
Convido-os para fazer uma breve reflexão, além deste ato convencional do nosso partido.
Encontro de companheiros açula saudades, e reverencia aos ausentes. Cultivemos lembranças daqueles que não mediram sacrifícios, não se renderam nem se atemorizaram diante dos golpes de força. Inspiremo-nos também na memória dos que, por serem fiéis a princípios, por ideais elevados, foram violentados, banidos, cassados e mortos. Fizemos história nesses 40 anos. Sofremos reveses, vivemos intensamente, vencemos, perdemos, e marcamos épocas.
A justiça, os objetivos claros, o respeito à ordem político-partidária, nortearam sempre o nosso rumo. É a luta pela consolidação democrática, que não sobrevive fora dos quadros partidários. São neles que a democracia se assenta, e eles nunca devem afastar-se nem desvincular-se da linha ideológica, histórica e social, e muito menos extraviar-se nos meandros do oportunismo conveniente.
A honra pessoal e o dever cívico não convivem com questões escusas, e questões escusas decompõem a confiança na política e na democracia. Aquelas dão solidez ao comportamento, estas desacreditam não só os agentes públicos, o homem em si. Muito pior, abalam a confiança na democracia. E é preciso atenção para os fatos deploráveis que vêm desmerecendo o político, e a política. Em recente pesquisa confirma-se que apenas 20% das pessoas ainda acreditam neles.
Em pesquisa da Igreja latino-americana constatou-se ser o Brasil o país onde o maior número de entrevistados optou pela volta da ditadura. Sem dúvida um nefasto efeito dos escândalos propagados a partir dos mensalões, e de tudo o mais que conhecemos na área da compra e venda de parlamentares e executivos.
Por onde andará o honroso legado cristão, de nossas remotas origens ibéricas? Por onde andarão os ideais dos nossos fundadores? Por onde andarão?!
Julgo importante, num momento como este, lembrar os feitos heróicos dos antepassados, dos guerreiros do Estado de Direito, como Oscar Passos, ou Ulysses Guimarães, honra de nosso partido e principal astro da Constituinte de 1988. E também para considerar a história da humanidade não como um lago sereno, estático, mas como um caudal que se arremessa incontido no leito mutável do tempo. Ali as ondas das gerações se sucedem, deixando marcas de avanços e de retrocessos.
Pois foi num desses retrocessos que surgimos como sobreviventes de 1964. Sem nunca renegar os ideais democráticos, sobretudo nas expressões humanística e de justiça. Embora ainda dispersos, movia-nos a força da razão ofendida e a indignação contra a violência.
Foi em 1966 que nos reunimos pela primeira vez, sob a sigla do MDB. Éramos poucos. Inicialmente muito poucos, diante daquilo que se auto-qualificava como “Revolução Redentora”, com o poder absoluto das armas e dos meios de comunicação e das massas manobradas.
Estava eu iniciando o mandato de prefeito de Guarapuava, eleito pela coligação PRP/PTB, e não aderi. Fiquei onde o povo, 30 dias antes do golpe, havia me colocado. Vi correr o rio do adesismo, inchado de oportunistas, de covardes e de traidores, e também de pessoas de boa fé.
Como surgiu o partido? Primeiro consumou-se em 1965 a extinção de todos os partidos provindos da Constituinte de 1946. E já em 1966 estávamos nos movimentando com os que, então, divergiam do estamento dominante. Nesse mesmo ano de 1966 nasce o Movimento Democrático Brasileiro. Alegro-me de estar aqui e poder dizer: “Eu estava lá, e também estive nos atos de formação do partido em São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Exerci sete mandatos sob esta gloriosa legenda”.
Desde então, onde ficaram os nossos ideais cívicos? Onde a confiança nos políticos? Onde a confiabilidade na Justiça? E a majestade do Parlamento? E a dignidade dos mandatários? E a democracia representativa?
“O maior partido das Américas”. Já ouvi esta proclamação, estufada de arrogância: “A Arena é o maior partido das Américas”, segundo seus arautos. Assim começou a sua derrocada. Simplesmente por haver deixado de ser um partido. Era uma aglomeração de oportunidade, com falsa identidade. Despersonalizada, acabou dividida em três corpos (sublegendas), com uma só cabeça, vestida de farda e quepe.
Sim, o nosso hoje é o maior partido do País. Isso é bom, mas não é suficiente. Precisamos mesmo é ser o mais justo, o mais responsável, o mais democrático, o mais confiável. Só assim seremos de fato o maior.
E aí poderemos com justo orgulho proclamar perante a Pátria: “cumprimos o nosso dever, nosso partido pertence aos brasileiros, e certamente não está à venda, não é mercadoria”.
Em A História de um Rebelde, Tarcísio Delgado denuncia:
“O PMDB, ao completar seus 40 anos de existência, vive uma grave crise existencial. Nos últimos 20 anos, ingressaram no partido, nos diversos estados da União, lideranças regionais que não tinham e não têm qualquer compromisso com sua história. Na verdade, são lideranças que, de modo geral, estavam do outro lado quando da luta pela redemocratização do país, nos primeiros 20 anos de sua existência.
Essas lideranças ganharam posições e agora, em meados de 2006, quando da decisão sobre candidaturas às eleições gerais de outubro, conseguiram manipular o comando partidário e impedir que o PMDB tivesse candidato à Presidência da República, ou sequer fizesse coligação com qualquer outro partido”.
Ao persistir até aqui nessa longa senda de 44 anos percorrida pelo nosso partido, entre as fraquezas e fragilidades próprias do ser humano, escolhi como inspiração os exemplos dos fortes, dos corajosos e coerentes, que deram ao PMDB as bases de sua construção. Sobretudo a sua generosidade e nobreza ao acolher a todos que lutavam pela volta do estado de Direito. E que no futuro viriam, como vieram, alinhar-se em outras siglas partidárias.
Foi em inesquecível convenção de 4 de abril de 1966 eleita a primeira Executiva Nacional, presidida pelo senador Oscar Passos. Aí cravamos os primeiros alicerces, contidos no 1º Manifesto à Nação: “O partido é e será a voz do povo”.
Não éramos muitos, mas sabíamos serem muitos os sonhos, aspirações, e esperanças reprimidas. Com esse povo comprometíamos a palavra de representá-lo. E no resgate desse compromisso muitos foram perseguidos, deportados, cassados e até mortos.
Nosso compromisso ali assumido não pode ser renegado, nossa missão ainda não está completa. Há muito por ser realizado. E é por isso que haveremos de lutar sem tréguas.
E agora? Quando somos o maior partido do Brasil seria compreensível que não quiséssemos apresentar ao povo brasileiro um candidato oriundo das nossas hostes?
Nomes qualificados são muitos. Homens testados no desempenho bem sucedido da vida pública os temos, senadores, deputados, ex-ministros, ex-governadores. Homens com longa experiência, profundo conhecimento, e de conduta ilibada, não nos faltam.
Eu venho do Paraná. Como tantos aqui de seus estados de origem. É de lá de onde vivemos e trazemos nossas experiências.
Tivemos no Paraná três governadores peemedebistas: José Richa, Álvaro Dias e Roberto Requião, este que agora vai encerrando seu terceiro mandato, com excepcionais resultados em benefício do povo paranaense. Optando, conforme Puebla, preferencialmente pelos pobres. E assim foi que nasceram programas como:
Luz Fraterna, Leite das Crianças, Tarifa Social da Água, Isenções tributárias para pequenas empresas, Trator solidário, Centros de Saúde da Mulher e da Criança, 40 novos hospitais, Saneamento básico, Programa Florestal, Compra de 1.100 ônibus p/transporte de alunos.
Nestes últimos sete anos o Paraná consolidou-se como líder na geração de empregos formais, com carteira assinada. Para que se avalie o significado da política de desenvolvimento do Estado, vejamos:
De 1995 a 2002, nos 8 anos do governo anterior foram criados no Paraná 37.882 empregos com carteira assinada. Esse número – de oito anos – foi superado apenas pelas contratações do ano passado (2009), contudo a crise vigente no País.
E nos sete anos de nosso governo foram criados 17 vezes mais empregos formais do que nos 8 anos do governo anterior.
A tarifa social da água alcança um milhão e quatrocentas mil pessoas. A redução de impostos às pequenas, e imposto zero às microempresas, que representam 78% das empresas paranaenses, estão nesse programa. E elas respondem por 83% dos empregos em nosso Estado.
O programa “Bom Emprego” dilata em até 8 anos o recolhimento do ICMS. Esse programa já atraiu mais de três milhões de reais de novos investimentos.
O leite das Crianças distribui um litro de leite por dia às famílias de menor renda.
Esses programas, conjugados, fizeram com que o Paraná seja o Estado onde há a maior queda de mortalidade infantil em todo o País.
O Luz Fraterna fornece energia de graça a mais de um milhão de paranaenses pobres.
Do programa habitacional, diz o governador: “Enfim, trouxemos os pobres para o primeiro plano, revelamos a sua existência, e eles passaram a fazer parte dos planos e ações do governo”.
A Fundação Getúlio Vargas, em estudo recente, revela ter sido o Paraná o estado brasileiro que mais reduziu os níveis de pobreza. Em 2003 havia aqui um milhão e seiscentas mil pessoas vivendo abaixo do nível de pobreza. Em 2008 esse número havia caído pela metade.
O Paraná hoje tem o maior salário mínimo do Brasil. O rendimento bruto dos paranaenses saltou de 321 reais em 1998, para 810 reais em 2008. Descontada a inflação do período, um aumento de 57%.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o economista Marcelo Néri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, declarou que o Paraná “está 25 anos à frente do Brasil na redução da pobreza”.
A repercussão destes fatos incontestes levaram o nome do governador Roberto Requião a cogitações políticas mais amplas. E aí é que, em reunião na cidade de Curitiba em fins de 2009, surgiram manifestações importantíssimas dos diretórios do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Mato Grosso do Sul, e de São Paulo, apontando o seu nome como o político ideal para representar o partido como candidato às eleições à presidência da República.
Primeiro, discutiu-se a tese da candidatura própria à presidência, e em seguida a indicação do nome de Roberto Requião à pré-candidatura do partido à presidência da República. Naquela ocasião, o governador, sensibilizado, disponibilizou seu nome como pré-candidato à presidência da República.
Assim, o maior partido do Brasil levanta a bandeira da candidatura própria, pelas mãos dos cinco estado sulinos. Entre tantos nomes ilustres, destaca-se o do governador Roberto Requião, quer pelo seu passado parlamentar e administrativo, quer pela lucidez de suas convicções democráticas e concepções avançadas sobre a democracia na modernidade.”

Cristina Esteche

Jornalista

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