22/08/2023

O AC/DC e a Igreja do Rock & Roll – parte 2: bacon fritando

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Da redação – Esta é a adaptação de um extenso artigo assinado pelo jornalista David Fricke e publicado na edição de novembro de 2008 da revista americana Rolling Stone, traduzido pela primeira vez para o português por Cleyton Lutz*. A matéria conta os bastidores dos ensaios do AC/DC para a turnê do álbum “Black Ice” ao mesmo em que traz detalhes da história da banda, uma das mais influêntes da história do Hard Rock/Heavy Metal e que esteve em São Paulo em Novembro do ano passado realizando um show espetacular. A matéria completa está dividida em seis partes e será publicada sempre aos sábados e domingos durante os três próximos finais de semana.
Em um dia quente de outubro, num local de ensaio no subúrbio na região Nordeste da Filadélfia, o AC/DC está se preparando para sua primeira turnê mundial desde 2001, tocando músicas do seu álbum mais recente, “Black Ice”, além de antigos hits como “Girls Got Rhythm” e “Whole Lotta Rosie”, gravados com o antigo vocalista Bon Scott, que antecedeu Johnson nos vocais – Scott morreu em fevereiro de 1980, engasgando em seu próprio vômito, dentro de um carro em Londres, depois de uma verdadeira maratona alcoólica. Em duas semanas, na noite de abertura em Wilkes-Barre, Pensilvânia, Angus, 53 anos, vestirá o uniforme escolar novamente.
Hoje, ele usa uma camiseta azul e calça jeans e está sentado em uma cadeira de metal dobrável. Está debruçado sobre uma Gibson SG e seus olhos estão fixados na sua mão esquerda, uma vez que a mesma desliza para cima e para baixo do pescoço. Angus treina incessantemente as seqüências de curvas e guinchos metálicos de “Rock N Roll Train”, single de “Black Ice”, os solos de “Smash and Grab” e o riff do clássico do período-Scott “Highway to Hell”. A única coisa que se move, com exceção dos dedos, é a perna esquerda, bombeando no compasso de Phil Rudd e no balançar constante de Cliff Williams. Quando Angus levanta da cadeira, ou é para ir fora do estúdio fumar – Rudd, Johnson e os irmãos Youngs soltam fumaça como chaminés – ou para voltar ao hotel da banda.
Após o ensaio, durante o jantar no qual os membros da banda comem pizza, Angus relembra uma sessão de gravação com o produtor Rick Rubin para álbum “Ballbreaker” (1995). Ele perguntou ao guitarrista se Angus ensaiava os movimentos. A resposta foi não. “Eu não estou indo fazer um show para mim – eu quero que a música venha primeiro”, continua ele, com orgulho na voz. “Eu preciso ter a essência primeiro, senti-la dentro de mim, antes que eu possa fazer o show”.
“Isso foi sempre a mesma coisa para mim – eu quero é tocar guitarra”, diz Angus com um sotaque característico que ele compartilha com Malcolm, uma mistura de escocês e australiano, que reflete a sua infância dividida entre Glasgow, lugar onde os irmãos nasceram, e Sydney, país para qual sua família emigrou em 1963. Sem essa satisfação, Angus confessa. “Eu nunca teria feito esforço para chegar lá, ter presença. Era muito mais tímido antes. Gostava de ficar atrás e tocar”. Ele sorri. “Mas a satisfação me move”.
“É como se ele estivesse flutuando no ar”, diz Malcolm, 55 anos. Ele e seu irmão Angus fundaram a banda em Sydney, em 1973. Sempre discreto, em pé ao lado dos amplificadores, Malcolm se diz feliz, enquanto seu irmão se torna o centro das atenções. “Angus está por todo lado. Mas não é como…” Malcolm faz um barulho, batendo a mão sobre a mesa. “Quando fizemos o vídeo de Rock N Roll Train, eles o colocaram na frente de uma tela verde. Realmente fiquei hipnotizado, observando-o ir e vir. Ele é um bom dançarino”.
O guitarrista do AEROSMITH, Joe Perry, viu muitas vezes Angus em ação nos anos setenta, quando o AC/DC abriu shows para o AEROSMITH. “Com toda essa ginástica, ele nunca perdeu uma nota”, diz Perry. “Se você fechasse os olhos, imaginaria ele ali, chacoalhando o pé. Ele está em todo o palco, por todos os lados”. Toda a equipe do AEROSMITH tinha um nome para Angus, quando via ele caindo de costas e bombeado as pernas no ar: “bacon fritando”.
O irmão mais velho de Angus e Malcolm, George Young, foi uma estrela do rock nos anos 1960, membro do Easybeats, a resposta australiana para os Beatles. Ele também co-produziu todos os primeiros registros do AC/DC ao lado do ex-guitarrista do Easybeats, Harry Vanda. “Uma das coisas que trabalhei foi o álbum ao vivo”, diz George, se referindo “If You Want Blood (Youve Got It)” (1978). “Quando eu escutei as performances, eu podia imaginar Angus fazendo aqueles movimentos em momento específicos. Se ele faz uma pirueta ou chuta o ar, você quase pode ouvi-lo nas notas que ele toca”.
“É difícil dizer que Angus é subestimado”, diz Brendan OBrien, que produziu “Black Ice”. “Mas não acho que as pessoas conseguem separar o personagem do fato dele ser um guitarrista espetacular. Se ele não estivesse no AC/DC e você o colocasse em outra banda, fazendo solos, as pessoas diriam, nossa, esse cara é um grande guitarrista”.
* Cleyton Lutz é jornalista, fã do AC/DC e esteve no Morumbi dia 27 de novembro de 2009, acompanhando o "maior espetáculo da terra"
Foto: os irmãos Young no início da carreira (Rolling Stone)

Cristina Esteche

Jornalista

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