22/08/2023




Guarapuava

A massa italiana ganha espaço na terra do churrasco

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Cristina Esteche

Guarapuava – Trabalho, mudanças repentinas de um Estado a outro, televisão, jornal impresso, sala de aula, e agora, a mão na massa. Esses ingredientes sempre pautaram a vida corrida do jornalista e professor Gilson Boschiero. E hoje, mais do que nunca, ele coloca a mão na massa, reinventa receitas, cria as suas próprias, numa alquimia que provoca água na boca e que, aos poucos, faz com que o hobby se transforme em negócio.

Filho de uma família com descendência italiana, como o sobrenome Boschiero delata, Gilson nasceu em Santa Bárbara do Oeste, interior de São Paulo, mas é filho do mundo. Rodou o Brasil até aportar em Guarapuava, em maio de 2007, onde diz que foi conquistado. “Cheguei à noite com uma temperatura agradável. O dia seguinte amanheceu cinzento, úmido e eu pensei: está parecendo Londres”.

Era o começo de uma história de amor conquistada com o público guarapuavano, pelo profissionalismo apresentado, literalmente, no jornal Paraná TV – 2ª Edição, da Rede Paranaense de Televisão (RPC). Mas ele apenas colocou em prática um know-how adquirido em 21 anos de profissão, numa carreira que começaria ainda na vida acadêmica quando foi trabalhar na CNT, como editor executivo e, paralelamente, como colunista social num jornal impresso. Iniciava ali uma caminhada “cigana” com passagens por afiliadas da Rede Globo em cidades paulistanas e em Manaus, TV Gazeta, Band News, sempre deixando a sua marca, “revolucionando” o jeito de fazer jornal na TV. O trabalho de campo também marcou o jornalista que já foi editor, pauteiro e repórter, com matérias emplacadas no Jornal Hoje, Fantástico, Jornal Nacional, Globo Esporte. Foi ele quem fez a cobertura do sequestro do empresário Silvio Santos e em primeira mão, a morte de Jorge Amado. Trabalhou também na TV Assembleia, em São Paulo, com 92 deputados.

A VINDA PARA GUARAPUAVA 

Morando em Manaus, num calor que chegava ao topo do termômetro, Gilson Boscheiro foi vencido pelo calor e pelo cansaço. “Surgiu uma cobertura de férias em Mogi das Cruzes e fiquei lá como editor chefe, mudando o formato do jornal. De lá mudei para São José dos Campos. acolhido na TV Vanguarda. Depois fui para Taubaté numa filial da emissora e em maio de 2007 recebi o convite para ir a Cascavel e no dia seguinte para Guarapuava”.

A vinda de Gilson Boschiero foi marcada por fatos providenciais. “No dia em que acertei o trabalho aqui, minha mudança chegou na casa dos meus pais e foi reencaminhada para Guarapuava já que o caminhão tinha outra entrega em Cascavel. Aluguei um sobrado à noite no bairro Santa Cruz, por um preço acessível, e lá morei por dois anos, até comprar um terreno e construir. Na manhã em que assinei o contrato de aluguel, a minha mudança entrou na cidade. Era para dar certo, mesmo, e vim para fazer o que queria.

Foram oito anos de trabalho à frente do jornal local na RPC, com ampliação do tempo, critério nas pautas e nas matérias levadas ao ar, até a sua demissão. “Um dia fui dispensado e até hoje não sei o motivo. Não me explicaram, só alegaram que fazia parte da reestruturação da equipe”. Segundo o jornalista, a partir de então, passou a dar aulas de várias disciplinas no curso de jornalismo da Unicentro, passando em primeiro lugar no teste seletivo para p[rofessor em 2015, tendo concluído mestrado no ano anterior.

A ALQUIMIA NA COZINHA 

Nas “janelas” da grade de aulas, entre um dia e outro, o jornalista tem outra pauta. Ele deixa de lado os livros e troca a sala de aula pela cozinha da sua casa, ali no Condomínio Kayná, no Alto da XV, em Guarapuava. Ouvindo música, ele junta ingredientes, dá o seu toque pessoal – afinal todo bom chef tem o seu segredo – e faz arte. Seus pratos apresentam harmonia entre a massa, o recheio, a cobertura e embelezam a mesa onde são colocados.

“Desde pequeno observei a minha mãe cozinhando e gosto de cozinhar”. De acordo com Gilson, ao sair da casa dos pais, aos 27 anos de idade, começou a fazer a sua própria comida, “por uma questão de sobrevivência”. Hoje ele coloca em prática tudo o que aprendeu. São pães doces e salgados (com recheios diversos e massa que somente ele tem o segredo), pão de batata, tortas de maçã, de banana, bolo de milho – que é ralado à mão – nega maluca, pudim, quindim, manjar branco, suspiro, arroz carreteiro, feijoada, torta salgada. E a massa que já é a sua marca registrada: macarrão colorido que, além de enfeitar a mesa, enche os olhos e conquista o paladar também de crianças. “Uma mãe me pediu uma porção porque sua filha estava com anemia e precisa comer massa, mas não queria. Por ser colorido, ter sabor especial e nutritivo, a criança aprovou”.

Mas são os pães que roubam a preferência do criador. “A massa do pão é viva. Eu vejo ela crescendo, tostando, assando, se transformando. Ela responde”.

Gilson Boscheiro vai para a cozinha sozinho e tudo é feito artesanalmente. Como passou a fazer postagens e lives nas redes sociais, os clientes começaram a aparecer e as encomendas só aumentam. Isso o levou a criar uma marca: Boschiero’s Bakery – Sempre boas receitas. Se ele pensa em ampliar a produção e ter um espaço físico da padaria? “Hoje isso seria uma pretensão”. Mas se depender dos elogios dos clientes, Gilson Boschiero vai ficar por muito tempo dividindo o tempo como professor, e entre farinha, ovos, leite, frutas e outros ingredientes. E como comentou uma das suas consumidoras, o carinho, o amor, a energia com que faz os seus quitutes sejam a diferença. Eu já experimentei e recomendo!

SERVIÇO – Encomendas pelo Facebook de Gilson Boschiero, inbox. Abaixo você uma deliciosa galeria de fotos com mais quitutes do jornalista/professor/chef.

Cristina Esteche

Jornalista

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