22/08/2023
Guarapuava Segurança

Agente penitenciário depõe e revela fragilidade do CRAG

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Da Redação

Guarapuava – Um júri composto por cinco mulheres e dois homens está julgando os réus Jeferson Santos Alves, José Eziquiel Almeida dos Santos, Osvaldo Maira dos Santos, acusados por um dos mais ousados crimes de Guarapuava. Eles cortaram telas de proteção do Centro de Regime Semiaberto de Guarapuava (Crag), entraram no presídio e atiraram em agentes penitenciários que faziam a guarda na noite de 16 de março de 2014. Marcelo Fernando Pinheiro morreu. Estava com ele o também agente Rogério de Souza, o primeiro a prestar depoimento nesta segunda (21). O relato do agente revela a fragilidade do CRAG em 2014, que não possuía, sequer, câmeras de segurança.

A juíza Helênika Valente de Souza Pinto preside o Tribunal do Júri, tendo o promotor Wanderlei Gonçalves Custódio, da 5ª Promotoria, na acusação, com a assistência de Mário Francisco Barbosa (OAB).

De acordo com Rogério, a função de um agente é revistar os presidiários quando saem para o trabalho externo e quando retornam, além de cuidar da guarda do presídio. A revista de sacolas e de alimentos que entram no semiaberto, assim como de visitas, também faz parte das atribuições. No caso de mulheres, a vistoria é feita por agentes femininas.

A resposta foi em relação a pergunta feita pelo promotor, mostrando que não houve nenhum impasse que pudesse ter provocado o crime. De acordo com Rogério, na quinta feira que antecedeu o crime, houve o arrebatamento de “dois a três presos”. Era por volta das 3 horas da manhã quando, após terem cortado o alambrado, cerraram cadeados e levaram os presos. Nesse mesmo dia, durante o horário de sol, quando os agentes faziam a revista nos presos, um deles, Valdeci, não parou e tentou fugir. Ele portava droga que, segundo Rogério, seria distribuída no pátio. Valdeci foi levado para o isolamento e, depois, houve o arrebatamento.

No domingo, por volta das 23h40, segundo Rogério, ele, Marcelo e Rodrigo Menezes, estavam na sala de entrada do CRAG. “Eu e o Marcelo estávamos sentados num sofá e o Rodrigo em outra sala, mas minutos antes do crime, foi ao banheiro. Eu levantei para tomar água e quando voltei fiquei quase de frente para a porta”. Segundo Rogério, em menos de dois minutos ele viu um “indivíduo com arma em punho” e já atirando. “Ele tinha o Marcelo como mira. Me joguei debaixo de uma mesa e fiquei imóvel, pois achei que tinha sido atingido. Em seguida eu ouvi mais de dez tiros e o os outros agentes chegaram gritando e só então soube que o Marcelo tinha morrido. Muitos presos comemoraram, fizeram festa, depois que os tiros pararam”. Segundo Rogério, o atirador fugiu, mas foi recapturado. “Eu reconheci o Eziquiel. Foi ele que estava com a arma na mão”.

Agente com 9,6 anos de profissão, em seu depoimento, Rogério revela a fragilidade que envolvia o Crag, à época do crime. “Naquela noite estávamos em oito guardas de plantão para cuidar de cerca de 250 presos. Não havia câmeras de segurança. Se houvesse, a morte de Marcelo poderia ter sido evitada”.

A fragilidade do presídio à época se evidencia na continuidade do depoimento de Rogério. Segundo o agente penitenciário, as telas eram cortadas e na madrugada os presos recebiam sacolas com celulares, drogas e outros produtos de uso proibido no Centro. “Jogavam para dentro das celas ou entregavam nas mãos, mesmo”.

Um matagal a cerca de seis metros do CRAG, segundo o agente, agravava a situação de fragilidade do presídio. “Nós ficávamos à mercê do perigo, mas tínhamos que cumprir com a nossa obrigação. Hoje convivemos com  fugas constantes”.

Rogério disse que os próprios agentes ajudaram e câmeras foram instaladas. O número de presos também foi reduzido e chega a 170, atualmente.

Mesmo assim o trauma persiste. “Eu fui afastado por quase quatro meses, fiz tratamento e tive que tomar remédios. Outros pediram transferência e depois pediram exoneração. Mas ficamos marcados para o resto da vida”. De acordo com o agente, Marcelo era um profissional correto, que nunca enfrentou qualquer problema com os presos.

O julgamento continua durante a tarde e não há previsão do horário que vai acabar.

Cristina Esteche

Jornalista

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