22/08/2023


Geral Guarapuava

"Fui eu mesmo", disse autor de disparos que mataram agente penitenciário

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Da Redação

Guarapuava – “Fui eu mesmo. Tudo é verdade. A pistola é minha, tinha comprado há duas semanas”. Estas foram as primeiras frases do depoimento de José Eziquiel Almeida dos Santos, 28 anos, acusado de assassinar o agente penitenciário Marcelo de Oliveira, em 2014.

Eziquiel está sendo julgado pelo Tribunal do Júri, nesta segunda (21), no Fórum Desembargador Guarita Cartaxo, em Guarapuava. Réu confesso, Eziquiel tenta isentar Jeferson Santos Alves e seu irmão Osvaldo Maira dos Santos, o 'Gordo'. Em contrapartida, busca dividir a culpa com Eliton José de Almeida, o motorista que participou do crime, transportando os acusados e que seria responsável pelo auxílio na fuga. Eliton, porém, já está morto.

O depoimento, entretanto, é marcado por contradição entre as declarações dadas em juízo na primeira audiência e as desta segunda. Ele se contradiz, por exemplo, no valor que diz ter pago pela pistola 9 mm, utilizada no crime. Num momento fala que pagou R$ 3 mil e em outro, R$ 4,8 mil. Ele não soube dizer de quem comprou a arma, já que viu a pessoa somente no momento da compra.

Num relato frio, truncado pela falta de coordenação na forma de se expressar, Eziquiel disse que o crime foi motivado por agressões sofridas quando cumpria pena no Centro de Regime Semiaberto de Guarapuava (CRAG), entre 2011 e 2012, e depois no dia em que matou Marcelo. “Os guardas xingam com palavrão, batiam, não respeitam. Quando tem visita em dia de chuva deixam as pessoas lá fora. E no dia do crime eu estava conversando com um amigo, ali perto do CRAG, quando uns sete agentes passaram numa Kombi [eles costumam ir buscar pizza], xingaram e me bateram. Aí eu pensei: eu vou voltar ali”. Eziquiel disse que foi até a sua casa, na Avenida Castelo Branco, buscar a arma e que no caminho encontrou com Eliton. “Ele perguntou onde estava indo, contei e ele disse que estava com uma arma e que ia comigo”. Em casa, o réu confesso pegou um alicate, a pistola 9 milímetros, além de dois pentes carregados, cada um com 17 tiros. “Cortei o alambrado e quando entrei já vi a cara do Marcelo. Ele estava deitado, assistindo televisão e vi que ele tinha me xingado e me dados uns chutes. Comecei a atirar. Disparei 17 tiros, recarreguei e dei mais três. Não sei se o Eliton atirou”.

Logo após ser preso, Eliton depôs que foi contratado para levar Eziquiel e mais um até o CRAG. Inicialmente, disse que não sabia qual seria o motivo, e que teria pensado que era um roubo, mas depois assumiu que sabia do que se tratava. No momento da fuga, entretanto, Eliton acabou batendo o carro contra um barranco a poucos metros do Centro. Na versão de Eziquiel, os dois estavam fugindo, mas Eliton disse que tinha esquecido algo e retornou ao veículo, sendo preso em seguida.

Para isentar Jeferson, que também é suspeito de participar do assassinato, Eziquiel disse que, embora se conheçam desde o tempo em que estudavam à noite no Colégio Cristo Rei, os dois possuem desavenças e que desde 2007 não se falam. “Quando um está num lugar e o outro chega, um sai”. Porém, os dois cumpriram penas juntos no CRAG, no período entre 2011 e 2012, quando Jeferson saiu em liberdade.

Quanto ao seu irmão Osvaldo, preso sob a suspeita de ser o dono da arma utilizada para matar o agente penitenciário, Eziquiel assegura que ele, Osvaldo, não sabia de nada. “Quando eu fugi, me escondi numa área de uma casa no Cristo Rei. O primeiro número que me veio à cabeça foi do meu irmão. Liguei e pedi que ele fosse me encontrar e entreguei a pistola enrolada numa blusa. Só pedi para ele guardar. Ele pegou e saiu”. O motorista de táxi, que levou Osvaldo até a casa no Cristo Rei, disse que ele levou a mulher e o filho. “Ele me chamou pra fazer a corrida. Estava normal, entrou e voltou conversando, até que fomos parados pela polícia e na delegacia fiquei sabendo do ocorrido”. O taxista disse que sempre costuma fazer corridas para Osvaldo e a esposa.

TESTEMUNHAS

As testemunhas de acusação, dois policiais civis e um militar, que trabalharam no caso, relataram o que aconteceu após o crime. Os policiais civis, asseguram que o primeiro a ser reconhecido por Eliton foi Jeferson. Falam também de mensagens trocadas entre Eziquiel e uma sobrinha, Jesibel, sobre a “logística” para a saída deste da cidade. Ele nega.

As testemunhas de defesa se limitaram a Jeferson e Osvaldo. De Jeferson muito pouco foi falado. O que mais chamou a atenção foi de uma que disse ter encontrado com ele e mais um na mesma noite do crime, na Danceteria FreeWay, mas não soube dizer o horário. Quem depôs a favor de Osvaldo foi o motorista de táxi, que disse conhecê-lo, já que é seu cliente.

COMOÇÃO

No plenário, agentes penitenciários, comovidos falam do colega. “Ele era uma pessoa íntegra, honesta e justa”, disse um deles. “Você imagina um agente lavando o sangue de um colega morto, e chorando? Não dá pra esquecer”, comenta outro. Alguns vestem camiseta com a foto de Marcelo.

O julgamento continua e deverá entrar noite adentro, com previsão para acabar por volta da meia-noite.

Cristina Esteche

Jornalista

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