Por O Globo
Rio de Janeiro – Morreu na noite esta segunda (04) a atriz Rogéria, aos 74 anos. Segundo o biógrafo e amigo Mario Paschoal, Rogéria faleceu por volta das 22h15, no Hospital da Unimed-Rio, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Após ser internada com infecção urinária, a atriz teve uma crise convulsiva e foi vítima de choque séptico.
Rogéria deu entrada na UTI no início de agosto para tratar um quadro de sepse urinária. Ela chegou a ter alta no dia 25 do mês passado, mas voltou para o hospital após apresentar piora.
De acordo com Mario Paschoal, a atriz estava aguardando melhora para poder realizar uma operação nos rins, mas seu quadro se agravou, provocando problemas cardíacos e uma infecção generalizada.
"Ela estava aguardando para fazer uma operação nos rins, mas o quadro se agravou. Ela chegou a ter problemas cardíacos. O empresário dela está cuidando de tudo. Engraçado que na primeira vez que ela foi internada, eu me preocupei muito. Dessa vez, estava mais tranquilo e aconteceu isso. Vai fazer muita falta", lamentou.
Primeiro na Rádio Nacional, frequentando os programas de Emilinha Borba, sua maior referência artística. Em plena ditadura militar, aproveitando o surgimento das vedetes travestis, destacou-se como vedete nas boates de Copacabana e em apresentações consideradas lendárias no Teatro Rival. Em 1964, autou no primeiro espetáculo nacional de transexuais, “Les Girls”. Dirigido por João Roberto Kelly, trazia letras como: “Ser mulher é muito fácil para quem já é, mas pra quem nasce para ser João é um sacrifício a transformação”.
Depois de passar um período como maquiadora na TV Rio, que funcionou como uma escola de artes dramáticas pela convivência com atores e diretores, firmou-se nas artes dramáticas. No cinema, filmou com grandes cineastas: Eduardo Coutinho em O Homem que Comprou o Mundo (1968), Julio Bressane em O Gigante da América (1978), e José Joffily em A Maldição de Sampaku (1991). Em 1979, venceu um Troféu Mambembe (um dos prêmios mais importantes para a produção cultural na época) pela atuação na peça O Desembestado, contracenando ao lado de Grande Otelo.
Participando de programas de TV, Rogéria apresentou o universo do transformismo a um público mais amplo, tornando-se a “travesti da família brasileira”, título cunhado por ela próprio. Foi jurada em programas de auditório de grande audiência, como o “Cassino do Chacrinha”. Travesti na TV era uma novidade – e o pioneirismo foi bem aceito. Seu carisma e talento ajudaram a quebrar o preconceito, em uma época em que homens só podiam se vestir de mulher na rua durante o carnaval. Ainda assim, não foi presa nem precisou se exilar durante a ditadura.
Rogéria não quis fazer cirurgia para mudar o sexo e nunca injetou silicone para alterar o corpo. A artista, que dizia não se preocupar com discussões sobre representatividade LGBT, era conhecida por sair no braço com os colegas homofóbicos.
"Engajada? Eu preciso ser engajada? Eu sou o engajamento em pessoa! Se as outras travestis estão aí, agradeçam a mim, que sou uma bandeira, e os brasileiros gostam de mim", disse ela, em entrevista ao Globo no ano passado, quando lançava sua biografia “Rogéria – Uma Mulher e Mais um Pouco”, escrita por Márcio Paschoal.
Além da biografia lançada em 2016, Rogéria fez parte do grupo de travestis e transexuais retratado no documentário “Divinas Divas”, dirigido por Leandra Leal.
O velório de Rogéria acontecerá no Teatro João Caetano, no Centro do Rio: das 11h até as 13h para parentes e amigos, e das 13h às 18h para os fãs que quiserem prestar a última homenagem à artista. Rogéria será sepultada no município de Cantagalo. As informações foram postadas pela atriz Leandra Leal em sua página numa rede social.