Os desfiles de 7 de Setembro já não são mais os mesmos. Lembro dos tempos – e não faz tanto tempo assim – quando eu e meus irmãos, Tuto, Fernando, Mariângela, Paulo, estudávamos nos colégios Tupy Pinheiro – berço da nossa formação -, Francisco Carneiro Martins, Agrícola, distribuídos nessas escolas. Eu e eles passamos pelas fanfarras, porta-bandeiras e, no caso, meu e da minha irmã, até balizas.
Quando se aproximava a Semana da Pátria, minha mãe Olympia, meu pai João Maria – o velho “Paraguai” – se empenhavam como podiam para que fizéssemos o melhor na parada cívica. Sempre foi assim em tudo. Jalecos engomados, sapatos brilhando, tênis branquinhos – de doer os olhos.
Mas muito mais do que esses atendimentos, nos prepararam para vida, para uma trajetória cidadã. Aprendi, assim como meus irmãos, a lutar pelo que acredito, a trabalhar dignamente, a andar de cabeça erguida, mesmo quando o pior dos obstáculos – a infâmia – se coloca à minha frente. Sei quem sou, sou consciente de tudo e como faço. E como cidadã lamento o desbotar de um patriotismo, que vê o seu amor à Pátria de esvair pelos vãos dos dedos daqueles que gritam, que esbravejam, que destilam veneno, perante um público ínfimo, que demonstra a sua covardia, a sua submissão, ficando calado.
Como se vê, não são apenas as paradas cívicas que já não são mais as mesmas. Perante um mar de corrupção que avança feito onda, de norte a sul, de leste a oeste, as cores da pátria se empalidecem. Os símbolos são deixados de lado. No desfile deste ano, o presidente Michel Temer deve abrir mão da faixa presidencial e do carro aberto Rolls Royce, assim como no ano passado. A festa da próxima quinta em Brasília custará R$ 787,5 mil e será preparada para 30 mil pessoas – o menor valor em sete anos. Grande coisa mediante as manobras, os desvios, os furos, o maniqueísmo, a corrupção. É, realmente, os desfiles de 7 de Setembro não são mais os mesmos. O toque do tambor das fanfarras promete ser abafado por protestos. No Paraná, a APP-Sindicato promete gritar contra o Governo. E nos palanques? O que dirão nossas autoridades?
Bem, eu estarei lá. No lugar das baquetas, caneta e bloco, mas nos pés um par de tênis branquinho. Entre os toques das fanfarras, o compasso das crianças que desfilam sob o sol escaldante, alguns, sem saber ao certo porque estão ali; entre empresas que aproveitam a ocasião para fazer a sua propaganda – oficial ou não – vou deixar vir à tona um patriotismo que resiste, que não surge apenas em anos de Copa do Mundo ou de Olimpíadas, mas um patriotismo que encontra a sua essência nas belezas de um país rico – mas que vê a maioria do seu povo, sentir fome, ser violentado, ser roubado, ser preso, ser assassinado, ser discriminado. Um patriotismo que, apesar de tudo, não deve esquecer de que o Brasil é muito maior do que todos os desacertos que o envolvem.
Vou deixar tudo passar, como num filme, em preto e branco, talvez, enquanto ouço e vejo as fanfarras do Carneiro Martins, do Manoel Ribas, e outras, darem o compasso para os alunos que seguirão: direito, equerdo, direito, esquerdo…