22/08/2023
Brasil

Eis a saída

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Em política brasileira não existe acaso, coincidência ou destino. Tudo o que está acontecendo tem uma razão de ser. Foi muito feliz o articulista político Bruno Carazza quando sentenciou: “Está na hora de encararmos o fato de que os Geddéis não tomaram a República de assalto por acaso: eles são frutos do sistema”.

Vem de longe o questionamento do por quê [ ? ] que homens decentes, conhecedores da ciência política, comprometidos com a teoria do véu da ignorância [ legisladores que pensam e agem com os olhos vendados para os interesses pessoais, onde os mesmos nada sabem sobre o lugar que pudessem ocupar na arena pública, fazendo de tudo para que todo cidadão na pior posição que ocupem, possam viver dignamente ] não são eleitos ou quando isto ocorre não conseguem sobreviver neste ambiente hostil. 

Vem também de longe a pergunta do por quê que criminosos conseguem se reeleger mandato após mandato mesmo sendo encurralados por denúncias de corrupção ao longo de sua história política?

Que mistério é este que faz com que observemos tudo isto e nada fazemos para reverter este quadro? Os cidadãos brasileiros são tão idiotas ou tão coniventes com tudo isto que mesmo vendo sua curta existência neste planeta passar com necessidades elementares [sem qualquer perspectiva de um amanhã melhor] e agirem como ‘camelos’ que aceitam passivamente desertos impostos, sendo fiéis ao imperativo: ‘tudo deves viver assim e pronto’?

Enxergando além das margens podemos compreender que não se trata dos cidadãos em si, diretamente, mas sim do sistema operante, gestado por alguns homens com muitos interesses, com a assinatura exemplar de pessoas que se beneficiam do mundo sistêmico e com o aval involuntário de homens normais, de carne e osso, considerados pelos sociólogos de plantão como pessoas do senso comum.

Tudo aponta para a tese de que não são os brasileiros em sua essência, mas sim instituições brasileiras permissivas com este tipo de conduta. Como todos sabem, desde o Brasil Colônia fomos muito bem institucionalizados, muito bem amedrontados em relação a toda e qualquer autoridade. Esta sequela assemelha-se a um gato de sete vidas.

Estou cada vez mais convencido de que não se trata de trocar pessoas no alto comando da política nacional, mas sim de um novo grito de independência que nos livre do atual sistema político em uma ruptura exemplar.

Infelizmente com as atuais regras vigentes ou a serem implantadas nos próximos dias com o pomposo título de reforma política, não sairemos do poço em que nos colocaram. Nosso grande inimigo não é Lula, Temer, Aécio, Joesley ou Bolsonaro, mas sim o organismo que acolhe e alimenta estes tipos comuns. A única saída é desfazer-nos da organização produtiva em que o país foi inserido para tornar-se produção do poder de alguns bem nutridos geddéis. 

Tudo joga a favor desta cadeia produtiva criminosa, a saber: judiciário, imprensa, mercado e uma legião de impotentes servos voluntários em favor da classe política, prevalecendo a tese do poeta Horácio: "Da maneira honesta se você conseguir, mas de qualquer maneira faça dinheiro". Assim, em um processo de profunda inversão, a virtude passa ser um crime bem-sucedido.

Ao atacar o sistema, poderemos minimizar as oportunidades de seleção adversa nas eleições e de risco moral no exercício do mandato.

E como se faz isto? O primeiro passo seria internalizar a tese sobre o que podemos não fazer ou ainda não assinar, não dar crédito, preferir não comparecer, não assistir, o optar não-realizar e negar todos estes que estão lá, sem exceção.

O segundo passo seria uma invasão às ruas e praças pelo grito de novos constituintes para uma nova constituição.

O terceiro passo seria a formatação de novos fundamentos com uma reforma estrutural nas regras políticas, desestabilizando concretamente  todo e qualquer fórum privilegiado e imunidade transcendental.

Será justo pensar em como eliminar brechas que incentive a propagação da praga política de 2017 e recuperar aquilo que é mais caro para o Brasileiro desde o Brasil Colônia, a saber: nossas instituições com uma diferença elementar, ou seja, o casamento de legalidade com legitimidade.

Cristina Esteche

Jornalista

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