22/08/2023
Agronegócio

Sem receber indenização, produtores investem no cultivo da laranja

imagem-14264

Candói – (Por José Luiz  dos Santos) –  Em uma região onde as culturas do milho e da soja predominam, uma comunidade de 60 famílias tenta diversificar a maneira de trabalhar e investe na produção de laranja como principal fonte de renda.
Situada no município de Candói centro oeste do Paraná, em uma península que se formou devido ao alagamento do Rio Iguaçu na década de 1980, para a construção de uma usina hidrelétrica, o local de nome Ilha Península do Cavernoso, desperta atenção pela maneira como vivem seus habitantes.
Oriundos do Oeste do Paraná, onde tiveram suas terras alagadas pela usina de Itaipu, 60 famílias foram remanejadas pelo governo federal para habitarem os cerca de 200 hectares que forma a península.

De acordo com os moradores, muitos não tiveram escolha e a única maneira de continuar trabalhando na agricultura, foi aceitar viver em uma outra região totalmente diferente da que estavam habituados. Os moradores também lembram, que até o momento ainda não receberam a indenização das terras alagadas, nem tampouco possuem o título definitivo dos lotes oferecidos pelo governo na península.
Sem infraestrutura e sem apoio do poder público, o presidente da associação de agricultores da Ilha Península do Cavernoso, Pedro Tavares Pereira, destaca que na época da migração as famílias ficaram desnorteadas e primavam pela agricultura de subsistência. Fator este que ocorre até hoje. Com o uso reduzido de maquinários, as dificuldades em se trabalhar na península são grandes. A maior parte dos trabalhos são desenvolvidos manualmente.
Na década de 1990, segundo Tavares, um projeto da prefeitura de Candói, em parceria com o governo do Paraná, fez com que despertasse o interesse dos agricultores da península em produzir laranja. ”Foram feitas análises, tanto de clima, como de solo e comprovou-se que a produção de laranja seria uma alternativa viável para os moradores”, lembrou o presidente. Tavares também destacou que os agricultores se empolgaram com a perspectiva da nova lavoura e não mediram esforços para que a fruta fosse cultivada. “Em pouco tempo, todos os moradores já tinham seus pomares formados. E o interessante é que junto à lavoura de laranja, outras culturas podiam ser plantadas, como o feijão, o milho e o arroz. A laranja oferece esta oportunidade, a de mesclar as culturas sem prejudicar a terra”, destacou.
Nos primeiros anos da produção da fruta, as expectativas, de acordo com o produtor Ismael Ildefonso Joaquim, eram as melhores. ”A laranja superava todas as outras culturas e compradores vinham de vários lugares, pois tínhamos quantidade e qualidade. Foi uma época muito boa, mas que não durou muito. Foi um ciclo que terminou”, lamentou o agricultor.
A pouca duração do ”ciclo da laranja” em Candói a que Ildefonso se refere, deu-se, segundo agrônomos da prefeitura, pela falta de investimento no setor, principalmente em tecnologia. Para Vânia Lúcia Schiavine Fogaça dos Santos, que é a agrônoma responsável pelo acompanhamento dos pomares na Ilha Península do Cavernoso, os agricultores precisam se unir para que a produção ganhe espaço no mercado. Ela conta que em toda produção agrícola, há oscilações em preços, o que não é diferente com a laranja. Nessas mudanças de mercado, de acordo com Vânia, muitos agricultores que estavam acostumados a ganhar certa quantia, com a diminuição dos lucros, acabaram por desanimar e não tratar os pomares como deveriam, o que, reforça a agrônoma, ocasiona mais prejuízos ainda . 

”A venda da laranja na Ilha é feita individualmente. Os agricultores, por mais que tenham uma associação, é que buscam os compradores e combinam os preços por tonelada. Dessa forma, fica difícil ocupar um lugar de destaque num mercado competitivo como o atual”, contou Vânia que ainda salientou que a cada carga da fruta que sai do município, é feito um acompanhamento técnico por parte da secretaria de agricultura. ”Essa assistência que prestamos, é gratuita. Se os agricultores precisassem pagar, se tornaria inviável para eles continuarem com a atividade. E sem a análise, os produtos não podem sair do município”, lembrou.

Industrialização

Projetos de industrialização da laranja na península, já foram desenvolvidos, porém, segundo Pedro Tavares, foram barrados em questões ambientais. Ele contou que há uma restrição muito grande quando se cogita a existência de uma indústria em uma área como a Ilha Península do Cavernoso, que é protegida pelas leis ambientais. Ele explica que essas restrições e os baixos preços do produto na última safra, estão fazendo com que muitos agricultores pensem em abandonar os pomares e partir para outra atividade. É o caso da família Suotniski, que nos sete hectares de terra, cultiva a planta desde o início do projeto. Segundo Cleonice Vieira Suotniski, o que mantém a família no local é a diversificação das lavouras. Ela conta que a mescla de plantação de fumo e feijão está superando a de laranja. ”Se não tiver um projeto que beneficie os agricultores, muita gente vai parar de plantar laranja. No último ano não tivemos lucro. A falta de estradas adequadas, faz com que a produção fique até por uma semana esperando para ser transportada. Isso faz com que o produto apodreça e a perda seja ainda maior”, reclamou.
Na última safra, a tonelada de laranja foi vendida pelos produtores da Ilha Península do Cavernoso por R$ 130,00, sendo que, no ano de 2008, o preço da tonelada, passou de R$ 200,00. ”A indústria alega que a crise econômica mundial foi a grande responsável não só pela baixa no preço da laranja, mas por reduzir os lucros de todos os setores agrícolas”, lembrou a agrônoma Vânia.
De acordo com o secretário de agricultora de Candói, Valdir Fogaça dos Santos, a prefeitura, em parceria com o governo do estado, tem projetos para melhorias das atividades cítricas na Ilha Península do Cavernoso, bem como para a extensão da cultura para outras regiões do município. ”Temos outras comunidades que também estão cultivando laranja e isso fortalece a atividade. Precisamos que os produtores se unam para que possam se posicionar melhor no mercado que todos sabem, é muito competitivo”, disse. 

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.