Da Redação
Guarapuava – A Lei de Cotas para pessoas com deficiência (PcD), em vigor desde 1991, é o principal incentivo para aumentar a participação desses profissionais no mercado de trabalho. A medida impõe que empresas com mais de 100 colaboradores devem ter de 2 a 5% das vagas destinadas a pessoas com deficiências. A ocupação, porém, encontra entraves. De acordo com o chefe da Agência do Trabalhador, em Guarapuava, Cesar da Malusa, a falta de estudo dos candidatos é uma das maiores restrições para a inclusão no mercado profissional. “A maioria de quem nos procura possui o ensino fundamental incompleto”. Outra dificuldade apontada pelo chefe do órgão é o desinteresse de grande parte das famílias. “O benefício pago pelo governo, de cerca de R$ 1 mil, faz com que a própria família prefira ter o deficiente em casa”. Segundo Cesar, o registro em carteira faz o beneficiado perder o auxílio.
O chefe de Recursos Humanos da Repinho Reflorestadora, Victor Sebastian, compartilha com as observações feitas pela Agência do Trabalhador. Segundo ele, as empresas querem, mas encontram dificuldades para cumprir as cotas. O benefício concedido pelo governo é um dos obstáculos. A “mega proteção” da família e da sociedade também colabora a favor do deficiente. “Tivemos um caso em que contratamos um surdo. A mãe trazia e buscava o filho diariamente, ficando no portão da empresa. Na maioria das vezes, a família pensa que está ajudando, mas acaba atrapalhando”, diz. Há também a emissão de grande número de atestados médicos.
Outra situação citada por Victor Sebastian foi a contratação, por três vezes, de um deficiente mental. “Ele brigava com o encarregado, com os colegas, não ia trabalhar e um dia avançou no próprio pai dentro da empresa”.
A falta de escolaridade não é um problema, segundo o RH. “Aqui, nem olhamos para a escolaridade. O que nos interessa é que a pessoa aprenda o trabalho e não falte”. Porém, a alta rotatividade desses profissionais em empresas, é apontada como fator negativo. Aliado a isso o corporativismo e a escolha pelo local onde querem trabalhar entre esses grupos sociais também é obstáculo. “Hoje quem está buscando a inserção no mercado de trabalho é o jovem. Eles estudam juntos, frequentam os mesmos lugares e querem trabalhar na mesma empresa. Tivemos o caso de um deficiente auditivo que teve que ser dispensado e os demais saíram juntos”, conta Victor.
Se a dificuldade das empresas no cumprimento da cota é grande, as entidades também precisam ter cautela no encaminhamento do profissional. Com trabalho sistematizado de inserção do seu público no mercado de trabalho, a APAE de Guarapuava precisa avaliar o perfil, não só do especial, mas também da empresa onde será encaminhado. “O nosso público possui problemas cognitivos e não é em qualquer emprego que ele se encaixa. Por isso, não atendemos o convite de muitas empresas. Precisamos ter essa avaliação”, disse a pedagoga da entidade, Carla Schipper.
A RSN entrou em contato com o Ministério Público do Trabalho, em Curitiba, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno. Nesta sexta (29) é o Dia de Inclusão do Deficiente no Mercado de Trabalho.