Cristina Esteche
Guarapuava – Falar quem é Mercedes Loures de Lacerda é ter que voltar ao tempo e contar 84 anos de história, envolvida pela fé em Nossa Senhora de Belém, pela solidariedade, pelo amor ao próximo. Dona Mercedinha, como é chamada, é também um exemplo de longevidade, cujo segredo ela faz questão de revelar. “Minha filha, é viver de bem com a vida”, diz enquanto corre na esteira na Personal, academia que não deixa de ir há anos. É lá que dona Mercedinha “puxa ferro”, levanta pesos e dança. Mas é na religião, no amor à Nossa Senhora que ele encontra o sentido para a sua vida.
E foi nas conversas quando nos encontramos que tive o interesse de saber um pouco mais sobre a dona Mercedinha. Quando disse, ela perguntou se podia escrever um resumo da sua vida. e, dias depois, me entregou quatro folhas escritas manualmente, onde cerca de 70% do conteúdo fala sobre o seu amor a Deus e à Nossa Senhora de Belém.
Pelo tamanho do conteúdo, pedi licença para resumir. Mas as principais partes estão aí, abaixo, escrita por ela mesma.
"Minha filha, embora a vida nos apresente, muitas vezes, sofrimentos e dificuldades, principalmente para aqueles que tiveram ensino religioso, que herdaram a fé dos seus antepassados, que acreditam num Deus Uno e Trino, parece que estes são os mais provados, porque acreditam na felicidade eterna.
Mesmo diante dos percalços da vida, eu também fui e sou muito feliz. Desde criança, junto com meus pais, depois com meus esposo e hoje junto com meus filhos, netos e bisnetos, eu vivi e ainda vivo no meio rural, numa fazenda. É lá que vivo a realidade do trabalho com os animais, com a lavoura; o silêncio para o descanso; o convívio com os funcionários; o ensino religioso. A contribuição do ensino intelectual às crianças da fazenda; a partilha com os mais necessitados; as celebrações dominicais. É tão belo ouvir o canto dos pássaros, o amanhecer, o por do sol à tardinha.
Mas antes disso, aos nove anos de idade, já como aluna do Colégio Nossa Senhora de Belém, em Guarapuava, recebei uma preparação adequada e profunda da irmãs, para a 1ª Comunhão. Em seguida fui admitida na Cruzada Eucarística, movimento ao Apostolado da Oração, hoje conhecido como Movimento Eucarístico Jovem. Também pertenci ao movimento Pia União das Filhas de Maria e depois que casei entrei para o Apostolado onde permaneço há 75 anos. Fui do Movimento Mariano, que meu esposo também pertenceu. Nosso escudo e nossas armas eram, e continuam sendo, a oração do Santo Rosário, a caridade para com o próximo.
Aos 15 anos de idade me tornei auxiliar da catequese, junto com minha madrinha, Maria de Jesus Taques. Essa evangelização também levei para a fazenda com minha filha Maria das Mercês e meu esposo.
São 70 anos junto das crianças com celebrações da Palavra, catequese, curso para batismo, crisma, coroinhas, anjinhos, pastorzinhos. Pertenço também à Legião de Maria e tenho participação bem ativa na Liturgia. Há 51 anos recebi o encargo tão sublime de fazer parte do primeiro grupo de ministros extraordinários da Sagrada Comunhão. Éramos em sete pessoas chamadas pelo padre Salvador Renna.
Não posso deixar de salientar o Ano Mariano que vivemos. São 300 anos de bênçãos e graças que a Mãe, sob o título de Aparecida nos cumula. São 200 anos de igreja aqui na nossa Guarapuava, sempre confiantes na Mãe Belém e, ainda, 100 anos das aparições da Virgem santa aos pastorzinhos em Portugal."