Na última semana, a notícia do adolescente que matou a tiros dois colegas de turma e feriu mais quatro em uma escola particular de Goiânia comoveu todo o país. O atentado foi automaticamente justificado por práticas de bullying feitas dentro do colégio. Depois de tomar os depoimentos dos envolvidos, o delegado responsável pelas investigações revelou que o adolescente era motivo de chacota pelo mau cheiro que exalava.
A rápida explicação encontrada para justificar tal fato me fez questionar o quanto a prática de bullying tem sido usada para justificar tragédias como essa. Outro questionamento que me ocorreu é como um adolescente de 14 anos tem livre acesso à arma utilizada pela mãe, membro da corporação da Polícia Militar? Perceba que, nesse caso específico, o suspeito estava na escola desde o início da manhã e os tiros foram disparados apenas por volta das 11h30. Se ambos os pais do adolescente são policiais militares, como nenhum deles percebeu nesse intervalo de tempo que a arma utilizada pela mãe em serviço havia sumido da residência?
O que aconteceu em Goiânia pode ser usado como um ponto de partida para discussões sobre o tema. A culpa dessa tragédia não pode decair sobre a instituição escolar, os pais ou qualquer outro envolvido. O que podemos, e devemos, como sociedade é continuar não aceitando que o assunto seja abafado. Ultimamente temos presenciado o surgimento de diversas leis envolvendo esse fenômeno, mas infelizmente no Brasil ainda não há uma ampla sensibilização da necessidade de criação de políticas públicas efetivas contra o bullying. Há alguns anos, as escolas brasileiras deixaram de ser um ambiente seguro e disciplinado para se transformar em palcos de grandes tragédias como essa.
Toda a sociedade precisa estar envolvida em programas antibullying, pois muitas vezes esse problema decorre do desrespeito e autoritarismo dos adultos que vivem em torno das crianças. Segundo Cléo Fante, educadora e autora do livro “Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”, o bullying é uma das formas de violência que mais cresce no mundo. Precisamos mudar essa realidade. Toda escola deve saber distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão, seja ela física ou verbal. A primeira atitude das instituições ao perceber que um de seus alunos está sofrendo bullying é procurar os pais das crianças envolvidas e conversar sobre o assunto.
Algumas atitudes são fundamentais para conseguirmos mudar esse cenário. É necessário conversar com as crianças sobre o respeito às diferenças e incentivar a solidariedade e a tolerância. Trabalhos didáticos e atividades desenvolvidas em sala de aula também são elementos que ajudam a tornar o ambiente escolar em um local apropriado para a formação cidadã, como deve ser.
Sobre o caso da escola goiana, o foco nesse momento não é encontrar culpados e sim se voltar para a recuperação de valores essenciais como o respeito, a cooperação e a solidariedade.
(*) Esther Cristina Pereira é psicopedagoga, diretora da Escola Atuação e presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR)