Cristina Esteche
Guarapuava – A alteração no sistema de embalagens de produtos hortifrutigranjeiros e de contratações de homens para os caixas em uma rede de supermercado de Guarapuava provoca reclamações do consumidor e do público feminino, respectivamente.
De acordo com o coordenador do Procon, em Guarapuava, Paulo Lima, o órgão está autuando o empresário por ferir o artigo 39, Inciso I, do Código de Defesa do Consumidor por limitar a opção de compra no caso dos produtos embalados e sem a opção de venda fracionada [I – condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos]. “Foi constatada somente a venda embalada e o consumidor tem direito da compra fracionada”, afirmou Paulo Lima.
Nas gôndolas, as embalagens oferecem frutas, legumes e verduras em sacos plásticos de dois quilos. “Esse sistema está nos obrigando a levar uma quantidade que não queremos”, disse o pedreiro Sebastião de Oliveira que é freguês há mais de cinco anos. “Se você pegar uma sacola com tomate tem alguns muito maduros e um muito verde”, aponta outro consumidor.
Se o novo conceito desagrada quatro de cinco pessoas consultadas, um aprova a iniciativa. “Eu gostei, porque já vem tudo limpo e embalado. É só chegar em casa e colocar na geladeira. Mas há quem não goste ou não possa comprar tudo isso”, diz o comerciante Paulo Roberto Ferreira.
De acordo com o supermercadista Ari Dal Pozzo (foto abaixo), o novo sistema atende uma norma da Anvisa e da Associação Brasileira dos Supermercados, para garantir a segurança alimentar e também do próprio empresário “ Há cerca de um mês a Anvisa esteve aqui recolhendo alguns produtos para análise. Graças a Deus estava tudo dentro dos índices aceitáveis de resíduos tóxicos, mas isso nos chamou a atenção”.
De acordo com o empresário, o supermercado compra hortifrutigranjeiros de vários agricultores familiares de Guarapuava e região. Esses produtos são misturados nas gôndolas, não havendo, portanto, uma maneira de identificar a origem. “Se uma caixa de tomate vem com agrotóxico contrabandeado do Paraguai, sem uso permitido no Brasil, e causa algum problema ao consumidor, pelo método antigo, não temos como responsabilizar o produtor porque não sabemos quem é”.
Pelo novo método, a embalagem deve ter uma etiqueta identificando a origem do produto. Porém, isso ainda não está acontecendo. “Estamos em fase de adequação e o produtor também”. Segundo Ari Dal Pozzo, em breve, o consumidor terá à disposição embalagens com pesos diversificados. “É que hoje o produtor não tem embalagens de vários pesos”. Segundo o supermercadista, mesmo assim, o produto está sendo disponibilizado a granel ao lado da embalagem fechado. “Só que o preço é mais alto porque temos que disponibilizar um funcionário para ficar junto para abrir os pacotes”. Hoje, entretanto, nenhum funcionário está desempenhando essa função. “Eu mesma abri o pacote e peguei a quantidade que desejava e somente a maçã e um pouco de tomate estavam soltos”, comentou uma cliente. Outro agravante observado por clientes que entraram em contato com a RSN é que as sacolinhas plásticas não estão mais sendo disponibilizadas na feira.
Com o novo sistema, de acordo com Ari, o consumidor sai ganhando no preço, já que não há quebra do produto. “De 10 mil quilos de tomate, por exemplo, dois mil são jogados fora porque o consumidor aperta o produto e acaba danificando. O mesmo acontece com o pêssego e outras frutas. Alguém tem que pagar essa conta e acaba sendo o consumidor no preço final”.
HOMENS NOS CAIXAS
Quando a empregabilidade estava em alta, há vários anos, as mulheres dominavam caixas de supermercados e outras áreas do setor comercial. “Havia escassez de mão de obra masculino no nosso setor”, disse o empresário Ari Dal Pozzo.
Por ser o que se chama de “atacarejo”, ou supermercado que vende tanto no atacado como no varejo, ele disse que a preferência do Recursos Humanos da empresa sempre foi por homens. “Temos embalagens de produtos com 30 quilos que precisam ser colocados em sobreposição e as mulheres não aguentam”. Segundo Ari, um profissional que trabalha no caixa tem dupla função, já que também atua como repositor. “Como o nosso cliente coloca grande volume de compras em caixas de papelão, as mulheres que atuam nos caixas acabam se machucando e nos levando para o Ministério do Trabalho. Já perdemos muitas ações por causa disso”.