22/08/2023
Educação

Alunos caem em fossa em escola sem manutenção

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 Guarapuava – A falta de manutenção no Colégio Estadual Moacir Silvestri, no Núcleo João Paulo II, quase provocou uma tragédia com três adolescentes que caíram numa fossa, e expôs novamente o nome de Guarapuava em rede estadual. Os alunos brincavam durante o recreio na segunda-feira (22) em cima da fossa quando a tampa cedeu. Eles foram retirados por outros colegas, sem ferimentos graves, e decidiram ir para casa. A direção da escola chegou a notificar o “desaparecimento” dos estudantes no Corpo de Bombeiros, que posteriormente procurou-os para conduzi-los a exames médicos.

O episódio, que foi noticiado pela televisão para todo o Estado, engrossa a série de escândalos que vêm repercutindo em todo o Brasil, relacionando o nome de Guarapuava ao descaso e omissão da Prefeitura Municipal. Neste caso, o prédio da escola abriga dois estabelecimentos de ensino, o Hildegard Burjan, que é municipal, e o Moacyr Silvestri, que é estadual. Pelo acordo entre as duas esferas, ficou estabelecido que o aluguel será pago pelo Estado e a manutenção, pela Prefeitura. Embora o Estado também mande verba para pequenos reparos.

A fossa fica num local bastante frequentado pelos estudantes. Há informações de que outras duas fossas estão construídas sob um campo de areia onde os adolescentes fazem educação física. Após o incidente, a Prefeitura anunciou a construção de uma nova fossa. Enquanto isso, os estudantes devem ficar atentos: a tampa que caiu foi substituída por um tapume de compensado de madeira.

Escola era modelo no tempo das irmãs religiosas
Conversar com pessoas do Núcleo João Paulo II, no Alto da XV, é fazer uma viagem na história. “A Escola Hildegard Burjan já foi modelo em Guarapuava e agora dá uma tristeza”, disse dona Maria Aparecida Soares. O lamento de dona Maria encontra eco na atuação das Irmãs da Caridade Social que viveram no bairro, principalmente nas décadas de 80 e 90.

Em 1967 Irmã Maria Mair chegou em Guarapuava a convite do então bispo diocesano D. Frederico Helmel. Seu primeiro ato, relembra Irmã Lucia, foi na construção do Núcleo Habitacional João Paulo II, com 90 casas. “Eu fui um dos primeiros moradores do núcleo”, lembra Mateus Rodrigues da Silva. Depois disso, iniciou um trabalho com mulheres, criando o Clube de Mães. Irmã Maria sabia que antes de qualquer projeto era preciso melhorar as condições de vida da população.

No início da década de 80 um convênio com entidades da Alemanha e da Áustria possibilitou a construção da Escola Hildegard Burjan e, posteriormente, da Creche João Paulo II, em convênio com a Prefeitura. A metodologia de ensino, que incluía a permanência de alunos no contraturno escolar, foi considerada modelo. “Toda escola pode ser diferente. Naquela época quem fazia esse diferencial eram as pessoas, os professores que tinham a alegria de educar”, comenta uma funcionária da época que não autorizou a divulgação do seu nome.

Tempos depois as Irmãs da Caridade Social deixaram o trabalho e foram atuar na Diocese. A casa onde moravam em frente à escola passou a abrigar as Irmãs Salezianas. Em 1989 Irmã Maria foi eleita Conselheira Geral da Congregação e, por esse motivo, precisou voltar à Europa, onde morreu. Hoje a Congregação está sediada no Bairro Bonsucesso, onde desenvolve um trabalho com famílias. “A nossa missão não é ficar muito tempo num só lugar, e hoje estamos envolvidas com a construção do Centro de Apoio à Família”, disse Irmã Laura.

“Hoje falta segurança, pois há brigas entre gangues; temos esse problema da escola e falta saneamento”, reclama dona Eralda Machado.

Cheiro era forte
Familiares dos estudantes denunciam que antes da queda o local já exalava um cheiro forte, dando indícios de que algo poderia acontecer. “Esta escola é um horror. Meu filho estuda na primeira série e agora tenho medo de levar ele para a escola, pois não há qualquer segurança”, afirmou uma mãe que pediu para não ser identificada, com receio de que seu filho sofra represálias. “A diretora da escola Hildegard é capaz de tudo para defender o prefeito", afirmou.

“Minha filha sempre chega em casa reclamando do mau cheiro da fossa e ninguém nunca fez nada. Foi preciso os alunos caírem para que medidas sejam tomadas. E como esses estudantes vão aguentar as piadas de pessoas do bairro e dos próprios colegas? Sabe como são essas crianças e esses jovens. Eles não deixam passar nada. Será que a Prefeitura está pensando nisso?”, questiona outra mãe.

Foto: colégio onde as crianças sofreram o acidente: fossa estava sem manutenção

Cristina Esteche

Jornalista

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