22/08/2023
Saúde

Entrevista: por que somos um país de sedentários?

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Guarapuava – A última pesquisa divulgada pelo IBGE mostrou que no Paraná apenas 11% das pessoas com idade igual ou superior a 14 anos se exercitam regularmente – o índice nacional é de 10,5% – mesmo com a constante abordagem que o tema recebe na mídia, seja em programas de televisão, rádio, jornais ou publicações especializadas.

O levantamento – cujo critério era se manter ativo nos três meses anteriores a pesquisa, seja freqüentando academias, fazendo caminhadas ou praticando esportes por pelo menos 30 minutos, cinco vezes por semana – apontou ainda que 61,5% do total de habitantes do Paraná assistia à televisão por mais de duas horas diariamente – nacionalmente, o índice registrado foi de 63,5% nessa faixa de assistência.

Para abordar o tema, a TRIBUNA conversou com o professor Wendell Arthur Lopes (foto). Ele é coordenador do curso de Educação Física da Faculdade Guairacá e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisando atividade física para a saúde com ênfase em populações em situação especial de saúde (idosos, crianças, adolescentes, gestantes e doenças crônico-degenerativas).

TRIBUNA: Mesmo com a grande quantidade de informações divulgadas pela mídia, a última pesquisa do IBGE mostrou que poucos brasileiros se exercitam regularmente. É possível dizer que somos um país de sedentários?

WENDELL ARTHUR LOPES: Realmente, hoje, essas informações sobre os benefícios das atividades físicas estão nos meios de comunicação. As pessoas detêm a informação, mas o índice de sedentarismo continua elevado. Há uma ponte ainda que separa o conhecimento da ação. Isso ocorre por uma série de fatores, como por exemplo, a falta de tempo, oportunidade, espaço e projetos voltados para o incentivo da atividade física. Essas são as principais barreiras. Hoje, o sedentarismo está presente em todas as faixas etárias, sendo que as crianças são as mais ativas; os adolescentes se exercitam menos que as crianças, já que os interesses e os espaços se modificam; os adultos são menos ativos que os adolescentes em função de outras obrigações como trabalho e família; e por último existem os idosos, que compõe o grupo mais sedentário que existe, mesmo tendo mais tempo disponível. Esse sedentarismo é associado a uma série de doenças crônico-degenerativas, como obesidade, hiper-tensão arterial, colesterol alto e diabetes do tipo II. Há uma relação direta entre o sedentarismo e a presença dessas doenças nas diferentes faixas etárias. Antigamente era muito comum encontrarmos essas doenças apenas em adultos e idosos, ao passo que atualmente verificamos a presença desses problemas nos jovens, em função não só da alimentação, como da falta de atividade física.

T: Outro dado dá conta de que grande parcela da população passa duas horas ou mais na frente da televisão. É possível conciliar isso com as atividades físicas ou esse número realmente indica o sedentarismo dos brasileiros?

WAL: As pessoas usam seu tempo livre para esse tipo de atividade, ficando a frente da televisão, computador… Os jovens também utilizam muito os games como passatempo. Isso vai na contra-mão da atividade física. Pesquisas norte-americanas demonstram que algumas crianças passam até oito horas por dia em frente às telas, sejam elas televisões, computadores ou vídeo-games. Existe uma relação entre o tempo gasto em frente às telas e o aparecimento de doenças. É necessário reduzir esse tempo, estimulando os jovens a realizarem mais atividades físicas. Por isso, os profissionais de educação física devem ser mais criativos, oferecendo outras alternativas, já que as que estão postas não parecem ser suficientes para estimular e criar interesse em crianças e adolescentes.

T: O que os profissionais podem fazer para que os jovens se sintam estimulados a praticarem atividades físicas?
WAL: Atividades que não são divertidas não atraem crianças e adolescentes, já que os jovens são movidos pela diversão. Não dá para esperar que um adolescente freqüente uma academia ou faça caminhadas no parque, por exemplo. A atividade deve envolver jogos, brincadeiras e competições esportivas, que estimulem a criança à participação. Assim, o divertimento vai ser muito mais prazeroso do que uma atividade monótona.

T: Em algumas cidades existem academia públicas, mas não há profissionais habilitados. Qual a importância de haver nesses espaços pessoas que orientem as atividades?
WAL: Não basta ter o espaço para a atividade física. É necessário também que haja professores habilitados orientando e ensinando a população sobre a forma correta de se exercitar, ressaltando a importância do exercício físico. O profissional deve estar presente em parques, praças e academias ao lar livre, para que o público compareça e se exercita de maneira contínua e não apenas esporadicamente, como acontece muitas vezes.

T: Qual o caminho para quem leva uma vida sedentária e pretende praticar exercícios físicos?

WAL: Independente da presença do profissional, as pessoas devem fazer a atividades físicas. Não é pela ausência de professores que elas devem deixar de se exercitar. Mas quando você pretende atingir um objetivo, seja ele de saúde ou em termos de se transformar em um indivíduo ativo, é importante que em paralelo a pessoa procure orientação. Ela pode caminhar, se exercitar, mas é importante que vá até um profissional para montar uma programação e receber orientação adequadamente. Já a criança ou adolescente devem se engajar em diversos tipos de atividades físicas, seja em brincadeiras, jogos ou clubes de treinamento desportivo. Nessa fase é muito importante que o jovem tenha experiência com a atividade física. As crianças que não tiverem essa experiência serão provavelmente adultos sedentários. As previsões indicam que a prevalência de sedentarismo vai aumentar ainda mais nos próximos anos, por isso há necessidade de ações para evitar um problema ainda maior.

T: Qual a importância do colégio para incentivar crianças e jovens a praticarem atividades físicas?
WAL: Oferecer oportunidades. A escola é uma ambiente singular para discutir a importância da atividade física, para mostrar a diversidade de práticas corporais envolvendo a criança e o adolescente, para que ele possa ter opções na vida adulta.

A obesidade infantil

A obesidade infantil é uma das responsáveis pelo surgimento de diversos problemas como doenças cardiovasculares, diabetes, etc. Torna-se então necessário proporcionar ás crianças hábitos alimentares corretos, além de incentivar as atividades físicas.

Uma dieta saudável e controlada as crianças e adolescentes deve ter com uma supervisão rigorosa para que possa ser bem sucedida. Com uma refeição saudável, substancial e nutritiva, o jovem tenderá a comer menos alimentos como doces e outros itens altamente calóricos.

Exemplos de uma alimentação indicada aos jovens incluem massas, legumes, frutas, alimentos assados, cozidos, queijos, entre outros, substituindo frituras e alimentos com baixos teores protéicos. (Fonte: Obesidade Infantil.Org)

Cleyton Lutz – Rede Sul de Notícias
Foto: Nagel Coelho – Rede Sul

Cristina Esteche

Jornalista

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