22/08/2023

Republiqueta de Bananas?

Da redação –  A pedidos, estamos reproduzindo o editorial publicado na edição 301 do jornal Tribuna:

"Republiqueta de bananas?

No que tange aos três poderes básicos da República, Guarapuava é um barco perigosamente à deriva, e sem luz no fim do horizonte. Triste realidade que deve durar pelo menos até o fim da atual gestão do Paço Municipal.
O Legislativo Municipal, depois da escandalosa guinada de quatro vereadores, de uma oposição de brincadeirinha, cheia de dedos, a um adesismo de mão cheia, nada de braçada ao lado desse barco à deriva. Garantido por alentados salva-vidas, evidentemente.
Isso posto, as denúncias, os escândalos, as evidências de irregularidades gritantes que pipocam a todo instante em todos os cantos da cidade, continuam a salvo de contrariedades, olimpicamente garantidos contra qualquer fiscalização, de qualquer dos poderes da República.
No momento, uma CPI sobre irregularidades na terceirização de corte de grama que deveria ser feito pela SURG, está em fase final na Câmara, e deverá ser arquivada pela maioria situacionista, sem discussões. À oposição restará o caminho do Ministério Público.
Se vivêssemos num sistema republicano pleno, restaria um fio de esperança no Ministério Público, em tese representante e defensor dos direitos coletivos perante o Poder Judiciário, e finalmente na ação saneadora e punitiva deste.
Também nessa área, porém, a população tem motivos para dúvidas e desalentos. Além da CPI que poderá ser arquivada pela Câmara e provavelmente enviada pela oposição ao MP, outros procedimentos dormem nas suas gavetas. Um deles, o relativo ao abusivo aumento da Taxa de Lixo. Ante a providencial polêmica surgida em relação a casos semelhantes em outros municípios do Brasil, deve morrer por aí. Mas há outros.
Nesse contexto, a situação do Judiciário é a mais tranquila. Protegido pelo princípio segundo o qual os magistrados só devem se manifestar quando acionados via processo legal – pelo cidadão ou pelo MP (princípio, aliás, constantemente descumprido pelo último chefe maior do Poder, em Brasília) – pode dar-se ao luxo de apenas observar o que ocorre na planície.
Se o MP não agir com o rigor necessário ante a sucessão de denúncias, cumprindo a lacuna vergonhosa deixada pelo Legislativo, o que nos restará? Ante os últimos exemplos de Brasília, valeria a pena recorrer às instâncias superiores lá instaladas? Ou quem sabe tenhamos que recorrer ao Tribunal de Haia?
O que não se pode aceitar é que a impunidade continue vigorando entre nós, num momento em que o Brasil como um todo avança em suas instituições, especialmente no que toca à questão da independência do Judiciário em relação ao Executivo, um dos últimos liames que restavam a ser rompidos para o Brasil sair, efetivamente, da condição de republiqueta de bananas. "

Cristina Esteche

Jornalista

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