22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

Filme roteirizado por guarapuavano chega à TV aberta

Longa de Paulo Esteche narra a história da imigração suíça no Brasil, que completa 200 anos

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Cena do filme (Divulgação)

Depois de exibições em canais fechados no Brasil e no Exterior, o filme “Suíços Brasileiros – Uma História Esquecida”, roteirizado pelo jornalista guarapuavano Paulo Esteche, chega às telas da TV aberta. Nesta última sexta feira (11), o público da CNT assistiu o docudrama que narra a história da imigração suíça no Brasil e a fundação da Colônia Dona Francisca, hoje Joinville, a maior a cidade de Santa Catarina.

A estreia foi antecedida de uma entrevista com a cônsul honorária da Suíça no Paraná, Manuela Merki, e o cineasta Calixto Hakim, diretor do filme, tendo como pano de fundo os 200 anos da imigração suíça no Brasil, que serão completados em 2019.

O longa roteirizado pelo jornalista Paulo Esteche, com base em livro do historiador joinvillense Dilney Cunha, relata a história a partir do ano 1850, quando a Suíça enfrentava a fase mais aguda de sua crise econômica. Esteche dá ênfase ao engodo no qual os agricultores suíços são envolvidos pela Sociedade Colonizadora Hamburgo (maior centro portuário da Europa na época), dirigida por um senador hamburguês, Schoereder, em combinação com o príncipe de Joinville, esposo de Dona Francisca, irmã do imperador brasileiro Dom Pedro II, que recebera as terras da futura Joinville como dote de casamento.

Jornalista Paulo Esteche (Foto: Divulgação)

O documentário tem um forte tom de denúncia ao mostrar que os agricultores suíços foram enganados pela Sociedade Colonizadora. Estimulados por um propaganda enganosa, que anunciava a Colônia Dona Francisca como um “oásis” e a garantia de fartura na “terra prometida”, os imigrantes só descobriram a mentira quando desembarcaram no litoral catarinense após 30 dias de navegação em meio a doenças e mortes. Jamais conseguiriam pagar a terra, viveriam por anos obrigando-se a entregar a produção aos donos da Colonizadora, até serem proibidos de falar a própria língua e perder a identidade cultural. Em pouco tempo, o projeto se esfacelou e as centenas de imigrantes se dispersaram em busca de uma nova vida em outras cidades.

“Os imigrantes até que tentaram sobreviver na Colônia, fazendo sua própria organização, mas a Sociedade Colonizadora não conseguia entender que a questão cultural era basilar na vida daquela comunidade. Ao desconstruir-se a cultura, aniquilou-se com o povo, a base ruiu, perdeu-se a capacidade de unificação para enfrentar os problemas” – explica Paulo Esteche.

MÃO DE OBRA NEGRA PELA BRANCA

O filme também desperta atenção para um período histórico do Brasil, a Abolição da Escravatura, mostrando a pressão dos Europeus em cima do Império Brasileiro para acabar com o tráfico de negros da África. Tanto que o Brasil seria um dos últimos países a colocar fim ao escravagismo.

No roteiro de Paulo Esteche, fica demonstrado que a Abolição foi, na verdade, uma troca dos negros pelos agricultores brancos suíços, com objetivos específicos: retirar os agricultores pobres da Europa, e “brancanizar” a mão de obra negra, substituindo-a por trabalhadores “especializados”.

Embora o longa dirigido por Calixto Hakim não se aprofunde neste tema polêmico, o “Suíços Brasileiros” é uma ponta que pode ajudar a desembaraçar a teia do “positivismo histórico” que reina no Brasil desde o Império até os dias atuais, provoca Paulo Esteche.

Para materializar a rica história dos imigrantes suíços, o jornalista guarapuavano criou dezenas de personagens, o principal deles uma família humilde no pequeno vilarejo de Schleitheim, no cantão de Schaffhausen. Com a mulher esperando um filho, o sapateiro une-se aos agricultores que se sentem atraídos pela propaganda de Paravitini, um propagandista contratado pela Sociedade Colonizadora para conquistar a confiança dos migrantes. Entre outros artifícios, Paravitini falsifica cartas de supostos suíços que já teriam vindo ao Brasil e “descrevem” a Colônia Dona Francisca como “Nova Iorque”, o Paraíso.

A bordo do Navio Colon, passaram um mês com fome, doenças, saindo do frio rigoroso europeu para o calor úmido da Colônia Dona Francisca.

A ambientação do filme foi feita em duas etapas, a primeira em Schleitheim, com atores exclusivamente suíços, e a outra em Joinville, com a participação de elenco brasileiro. Entre eles, o artista visual joinvillense Juarez Machado, mundialmente conhecido.

Radicado há 22 anos em Florianópolis, capital de Santa Catarina, Paulo Esteche também é autor do livro “Mathias Leh – Um Olhar para o Futuro”, que conta a vida do imigrante suábio e a saga deste povo originário do Leste Europeu para o distrito de Entre Rios, em Guarapuava. O jornalista escreveu e produziu um documentário sobre o mesmo tema, que pode ser visto durante visitas agendadas no Memorial Mathias Leh e Elisabeth Leh, na Colônia Vitória.

Cristina Esteche

Jornalista

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