O nome do prefeito Fernando Ribas Carli e a Prefeitura de Guarapuava aparecem na reportagem da edição desta terça-feira da "Gazeta do Povo", que trata de relações sob suspeita envolvendo dois filhos do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Nelson Justus, e o primeiro-secretário da Casa, Alexandri Curi. A Prefeitura de Guarapuava, por autorização direta do prefeito Carli, está vinculada a uma empresa de pregão eletrônico destinada a compra de produtos. A empresa chama-se Bolsa de Licitações e Leilões (BLL) e até o início da divulgação dos "Diários Secretos", com denúncias relacionadas à Assembleia Legislativa, estava em nome de Nelson Cordeiro Justus e Renato Cordeiros justus, filhos de Nelson Justus.
Segundo a "Gazeta do Povo", o prefeito Fernando Ribas Carli incluiu Guarapuava entre as 20 prefeituras do Paraná que movimentam licitações através da BLL. Estima-se que essa empresa tenha arrecadado "ao menos" R$ 40 milhões em pregões eletrônicos nos últimos dois anos. Na Prefeitura de Guarapuava, o Departamento de Compras funciona sob orientação do secretário municipal das Finanças, Leocádio Pupo, que se reporta diretamente ao prefeito Fernando Ribas Carli, seu compadre. As compras da Administração Municipal e suas autarquias estão centralizadas nesse departamento e praticamente todas são feitas por intermédio de pregão eletrônico.
A "Gazeta do Povo" apurou que Rodrigo Maranhão, irmão do deputado Alexandre Curi, era o vice-presidente do conselho fiscal da BLL. Ele e os dois filhos de Nelson Justus também figuram como sócios na Pregnet, uma corretora que trabalha para empresários em licitações on-line, inclusive através da própria BLL. Os sócios deixaram a Bolsa em abril, logo depois que começou a série de escândalos na Assembleia Legislativa.
Um especialista em Direito Público, professor Fernando Vernalha Guimarães, consultado pela "Gazeta do Povo", revela que o sistema de pregão eletrônico, embora amparado por lei, ainda não foi totalmente regulamentado. Essa situação vem favorecendo a BLL, que assim vem cobrando taxas de porcentagens das empresas que representa. Enquanto isso, a BLL não precisa de nenhuma licitação para ser contratada pelas prefeituras, bastando um "termo de acordo", pois o dinheiro não sai do município e sim do empresário que "compra" os serviços da corretora. Porém, sem o acordo autorizado pelo prefeito, a BLL não teria como arrecadar. Foi levantado que num único negócio com uma prefeitura a bolsa teve o direito de receber cerca de R$ 100 mil.
Em meio às questões legais, os especialistas estão estudando até que ponto as relações políticas – neste caso, entre prefeitos e filhos e irmão de deputados dirigentes da Assembleia – contribuem para negócios financeiros milionários. Se isto é apenas uma coincidência, se há fundamentação legal e sustentação no âmbito da moral pública. Os prefeitos e envolvidos consultados consideram as negociações plenamente "normais".
Em seu site (http://www.bll.org.br/bll/index.asp), a BLL se apresenta com a seguinte chamada: "Seja bem vindo à Bolsa de Licitações e Leilões, uma associação civil sem fins lucrativos dedicada ao mercado eletrônico de licitações e leilões. Disponibilizamos o mais seguro e moderno sistema de negociações por meio da internet fazendo da nossa Bolsa a melhor solução para quem procura eficiência tanto nas compras como nas vendas públicas ou privadas."
Veja a reportagem da "Gazeta do Povo" na íntegra: