A ideia de fundir os ministérios da Agricultura e Meio Ambiente, inicialmente, cogitada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), não soou bem aos ouvidos de lideranças em ambos os lados. Por esse motivo, Bolsonaro sinalizou um recuo nessa decisão, durante entrevista a emissoras católicas de televisão, na tarde desta quinta feira (1).
“Havia uma ideia de fusão, mas pelo que parece será modificada. Pelo que tudo indica, serão dois ministérios distintos”, afirmou o presidente eleito.
Porém, disse que não quer um ministro “xiita” no Meio Ambiente, afirmando que a preservação da natureza não pode ser um obstáculo para o progresso do país.
“O Brasil é o país que mais protege o meio ambiente. Nós pretendemos proteger o meio ambiente, sim, mas não criar dificuldades para o nosso progresso”, afirmou.
Pouco antes desse anúncio, o Portal RSN entrevistou o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Botelho, e a decisão recém-anunciada vai de encontro ao que o líder rural defende.
A possibilidade de fusão, como vinha sendo divulgada, de acordo com Botelho, teria fatores que poderiam “ser interessantes”. Um deles seria a interação entre agricultura e meio ambiente facilitada por dividirem o mesmo espaço, e, portanto, trocarem informações. Ao mesmo tempo, observou Botelho, a imagem do Brasil no exterior estaria prejudicada.
“Tem que ser separado para não haver conflitos e prejudicar a imagem do Brasil lá fora. Tem que ter bom senso por parte do novo governo”, defendeu.
Quando o presidente eleito diz que a preservação do meio ambiente não pode atrapalhar o progresso do Brasil, a afirmação encontra ressonância no entendimento de Botelho. O presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, e também um dos diretores da Sociedade Rural no município, lembra que o Brasil ocupa apenas 7% da área territorial com a agricultura, quando as reservas indígenas somam 12% e 67% são de florestas nativas remanescentes originais, e , portanto, intocáveis.
“Não existe país no mundo que chegue perto desse número. A Europa tem perto de 1% de reserva nativa remanescente original. As demais nativas são plantadas”.
COMPARATIVO
“O Brasil hoje possui um custo competitivo muito bom em relação aos Estados Unidos e a Europa”. Na Europa, diz Botelho, os agricultores tem garantia de renda por hectare, que é dada pelo governo. Se alguma coisa quebra a safra ou o preço do produto cai, o governo paga a diferença. Com o Brasil sendo um player muito forte no setor agropecuário consegue produzir com preço mais competitivo fazendo com que o preço no mercado externo também caia”.
Outro ponto defendido por Botelho e que caminha no mesmo sentido do desenvolvimento do país está num olhar também para a população que mora nos “fundos” dos estados brasileiros.
“Não podemos condenar quem mora na Amazônia, no Acre a ter uma vida de subsistência. Você pode utilizar 20% da área e 80% tem que ser preservada e não recebe nada para manter a área intacta. Onde existe ser humano, há impacto ambiental. O que precisa ser feito é aprender a fazer com o menor impacto possível. No Brasil, não é preciso desmatar, mas utilizar parte de áreas de pastagem que estão degradadas”.
Para Botelho, os ministérios de Agricultura e Meio Ambiente tem que continuar separados, mas trabalhando com ideias progressistas e de sustentabilidade. “Não podem ser dois ministérios antagônicos. Tem que haver diálogo”.