Eles entendem muito de lógica, paciência, raciocínio, persistência, estratégias, emoção, autocontrole e se vem às voltas com termos como flop, trinca, royal e outros comuns entre jogadores de poker. Esse esporte, conhecido mundialmente e cuja origem se atribui à Dinastia Sung China, do século 10, enquanto outros apontam o seu começo com o jogo Persa chamado “As Nas”, do século 16, encontra adeptos em Guarapuava.
“Eu comecei no poker, como coisa de faculdade mesmo. Quando eu cursava Arquitetura em Curitiba, conheci um grupo de amigos que gostava de jogar. Na primeira vez que fui jogar já me apaixonei de cara! Pra ajudar a entender o jogo, fiz uma conta no PokerStars que era novidade na época e hoje é o maior poker online do mundo”, diz a arquiteta Larissa Hauage.
“Comecei a jogar poker aos 16 anos. Era o poker fechado ainda. Depois começou o Texas Holden. Comecei a jogar, gostei, daí logo abriu um clube aqui na cidade [K9] onde tem torneios semanalmente. Também começaram os torneios em toda região e fui participando e não parei mais”, diz Celio Moraes, outro jogador.
Embora Larissa e Celio jogassem em mesas de clubes diferentes, os dois comungam de um mesmo gosto: a paixão pelo poker e agora, ambos, em Guarapuava.
“Depois que voltei pra Guarapuava, perdi o contato com o jogo. O game era uma prática 100% masculina e não tinha espaço para uma lady. Os clubes de poker acabavam não sendo uma opção justamente por eu ser mulher e eram vistos como ambientes hostis e vulgarizados”, diz Larissa.
Segundo a jogadora, somente há pouco mais de três anos, foi convidada para jogar todas as quartas num grupo do Clube Guaíra, onde as mulheres dos jogadores também participavam dos encontros, jogando ou não.
“Foi quando voltei a sentir aquela sensação que tanto gostava. Não bastando os jogos apenas as quartas, resolvi quebrar o tabu e conhecer o Clube de Poker K9 que existe em Guarapuava. Para minha surpresa, o ambiente era muito diferente do que eu imaginava. Lá conheci pessoas que me incentivaram e comecei a jogar fora, nas cidades vizinhas, e fui cada vez mais me inteirando e conhecendo sobre esse mundo do poker, completamente diferente do que todos falam”, disse Larissa.
De acordo com Larissa, hoje o poker é considerado um jogo da mente e está na mesma categoria do xadrez.
“Eu gosto dessas comparações, que mostra onde o poker se encaixa pra mim. Mas até então o poker era totalmente uma distração, um momento de recreação e lazer. Cheguei a ficar um tempo sem jogar porque era alvo de muita fofoca masculina e machista. No início do passado eu resolvi tirar um tempo pra estudos e pensar na vida, passei alguns meses nos EUA e acabei morando em Los Angeles, apenas três horinhas da famosa Disney dos adultos: Las Vegas. Foi lá que eu tive certeza de que eu queria me aprofundar nesse esporte e não me importar com o que iriam pensar! Ao voltar, em setembro de 2017, passei a me dedicar, a estudar e a praticar mais e mais”.
Em 2018, Larissa rodou o CPTH – que é o Paranaense de Poker -, onde conseguiu dois troféus de segundo lugar e segue em 4º lugar no ranking. Neste final de semana, acontece nova etapa em Maringá, onde o primeiro do ranking ganhará um pacote pra jogar em Vegas.
“Também rodei o circuito brasileiro BSOP, onde consegui uma mesa final, algumas premiações, e tive a oportunidade de jogar nas mesas com os melhores jogadores de poker do Brasil, e alguns famosos que também jogam como o Neymar, Guga e Luxemburgo. Nesse mesmo ano, tive a imensa oportunidade de jogar uma etapa do WSOP, que é o mundial de poker, que aconteceu no Rio de Janeiro. Lá eu trouxe muita experiência, duas fichas de ITM (premiação) e participei da mesa final das Ladies”, explica. Neste último campeonato, Larissa ficou entre as seis melhores mulheres do mundo.
Larissa também tem conquistas em outros eventos paralelos, como o Circuito de Pato Branco, o qual ela lidera o ranking, e outros maiores, como 3º lugar no 200k, que ocorreu recentemente em Curitiba no Batel Poker Clube.
A carreira de Larissa é promissora, com 12 troféus já conquistados. “Lembro-me como se fosse ontem, a sensação de conquistar o primeiro deles, veio logo uma tampa (primeiro lugar). Não existem muitas mulheres no game, principalmente disputando torneios maiores. Mas como eu sempre gostei de fazer ‘coisas de meninos’, no poker não seria problema esse convívio. O preconceito é enorme, mas eu confesso que adoro! As pessoas me subestimam por ser mulher e aproveito muito disso”.
Para superar os jogadores Celio, disse que quando senta à mesa vai estudando o estilo de jogo de cada um e tentando montar uma estratégia.
“É um jogo que se conhece muita gente, faz muitas amizades, sempre viajando. É muito bom. E no fim, pode vir uma recompensa em dinheiro”, avalia.
Já Larissa disse que existem duas coisas que aprendeu com um grande amigo, ídolo e considerado um dos maiores nome no poker brasileiro, Bruno Foster. “Poker é estudo e prática, simples assim”. Ela explica:
“Sempre comparo as escolhas e sentimentos num torneio de poker com escolhas feitas na nossa vida. As analogias que consigo fazer são incríveis! Notei também que depois que comecei a jogar bastante, não só evolui e cresci no game, mas observei uma mudança na minha mentalidade. Consegui lidar melhor com os meus sentimentos e também com as pessoas. Sem falar nas pessoas maravilhosas e intelectuais que o poker me fez conhecer”.
Larissa disse que como ‘roda bastante’ pelo Paraná, além de outros Estados e países, as pessoas já conhecem mais seu estilo de jogo.
“Me respeitam mais como jogadora. Acredito que aos poucos eu vou conquistando meu espaço. O que mais eu curto no esporte é o entusiasmo das pessoas me perguntando sobre ele”.
De mesa em mesa, de competição em competição por aí afora, Celio e Larissa são campeões.
“Já ganhei outros torneios e tive outras premiações, a mais recente em Curitiba, em um torneio em que jogaram mais de mil pessoas”, afirma Celio.
“Meu sonho com o poker é ser mundialmente reconhecida como jogadora! E meu objetivo é cada vez mais mostrar o que o poker representa pra milhares de pessoas no mundo inteiro, quebrando todo o preconceito e falsas ideologias, bem como trazer mais mulheres para esse cenário”, disse Larissa.
A última grande partida de ambos pode ser chamada de histórica para Guarapuava. No Master Minds, em Curitiba, Celio ficou em primeiro lugar e foi televisionado pelo SuperPoker, com mesa e baralho chipados. Quem assistia podia acompanhar as cartas na tela, como é feito em Las Vegas. Já Larissa foi considerada a melhor jogadora e ficou em sexto na classificação geral.