Você seria capaz de largar a família, o trabalho, subir numa moto Scooter, 125 cilindradas, portanto, de pequeno porte, e sair pelo mundo, bem no estilo ‘sem lenço e sem documento’?
Pois essa foi a decisão tomada pela psicóloga social colombiana Jenifer Luna, 29 anos. Após ter perdido a avó e o pai, ter tido tumores no seio direito e problemas cardiorrespiratórios causados por estresse, Luna não pensou duas vezes. Se desligou do banco onde trabalhava em Bogotá e pensou em fazer um curso em Buenos Aires. Como o valor da passagem de avião estava muito cara, resolveu ir de moto.
“Eu já tinha a ‘tiquitita’, peguei o dinheiro que recebi da rescisão e fui”. Mas a aventura da viagem, as pessoas que foi conhecendo pelo caminho, a levaram para outros rumos. “Na estrada me falaram sobre Ushuaia, na Patagônia Argentina, que o é Fim do Mundo. Passei pela neve, por desertos, sofri com altas e baixas temperaturas, conheci novos amigos e quando cheguei em Buenos Aires não quis ficar”.
Desde que deixou a Colômbia no dia 18 de março de 2016, Luna já percorreu 80 mil quilômetros, passou quase todas as fronteiras da América do Sul, até chegar em Guarapuava há duas semanas e de onde, nesta sexta feira (11) sairá para Curitiba. Para custear as despesas da viagem como combustível, ela vende bijuterias e souvenirs.
“Já percorri a Colômbia, o Equador, Peru, Bolívia, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e agora estou no Brasil”. Mas a meta é a Europa, a Ásia e a África. “Vou viajar até ficar bem velhinha, com rugas no rosto e de bengala. Não dá para parar. Vou encontrando muitos pais e irmãos que me auxiliam”.
Em cada cidade que chega os contatos pelas redes sociais possibilitam que ela conheça “los hermanos” de motocicleta. São os moto clubes que a recepcionam, a auxiliam no que é preciso numa rede que facilita a vida da motociclista pelo mundo afora.
Em Guarapuava, por exemplo, ela está hospedada na residência do casal Janete e Amaral, que pertencem ao moto clube Rota X de Guarapuava. “Quem nos falou dela foi um parceiro de Cafelândia e fomos recebê-la no pedágio do Candói”, disse Amaral. “Durante duas semanas ela ficou muito à vontade e agora que vai embora o vazio já se apresenta”, diz Janete.
Em Curitiba a rede de solidariedade já está montada. Ela será recebida pelos companheiros do Rota X. “De lá vou para Florianópolis, Rio do Rastro, Rio Grande do Sul e sigo até o Uruguai, e se Deus quiser vou a países europeus, asiáticos até chegar à África”.
O contato com a mãe e a irmã mais nova é feito pelas redes sociais e desperta o orgulho da família. “Minha mãe diz que quando fala de mim para suas amigas enche o peito de orgulho”.
Caindo da moto, como já aconteceu no Chile e na Argentina, ou enfrentando outros percalços, Luna diz que a maior lição até agora, é de que a “humanidade é como é. Não se troca a maneira de ser de uma pessoa. O que precisamos é aceitar as diferenças que temos. Isso é o que levamos quando morrermos. O que é material fica tudo, se perde. Isso é o que aprendi no contato que tenho com tantas pessoas por aí afora”.