Vídeos gravados pelo policial civil Fábio Rossi Barddal Drummond, que está na polícia há 15 anos e é o atual presidente do Sinclapol – Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná, denunciam a falta de investigadores, de estrutura dentro de uma delegacia da Polícia Civil de Curitiba.
A denúncia foi gravada por volta das 21h30 dessa sexta feira (8), na Delegacia de Triagens e Capturas, que fica no centro de Curitiba. Barddal mostra que apenas um investigador está registrando as ocorrências no plantão. Além disso ele gravou a única cela do plantão com 13 pessoas presas, deitadas no chão. E mais um preso já havia chegado para ser colocado na cela.
O sentimento é de ter sido enganado, né. Quando eu fiz o concurso, eu fiz pra ser policial e depois de 15 anos descobri que sou carcereiro. E a gente vê que o excesso de carga horária que é imposto sobre todos nós, apesar de vir escrito 40 horas no contracheque, trabalhamos 60, 70, 80 horas por semana, sem remuneração.
Nem o banheiro do prédio do plantão da delegacia escapou. As imagens mostram a porta trancada com cadeado porque dentro estava presa uma mulher.
Ao lado do plantão, ele cita também o CT-1 (Centro de Triagem), uma cadeia com várias celas que abrigam presos provisórios e condenados, inclusive fugitivos de delegacias que foram recapturados.
De acordo com Barddal, o espaço deveria servir apenas como casa de passagem dos presos até serem transferidos definitivamente para o sistema penitenciário. “Mas nem os condenados fugitivos o DEPEN quer”.
As delegacias estão com 8, 10 presos para cada vaga”, ele comenta. Segundo o Policial, na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos da capital paranaense, 15 presos dividem uma cela de 4,5m². Ele lembra que a Lei de Execuções Penais estabelece que cada preso deva ter pelo menos 6m². “Quando a polícia põe 15 presos em 4,5m², você imagina o tamanho do problema.
O CT-1 ao lado da Delegacia de Triagens e Capturas está interditado segundo o policial, por causa de um surto de sarna, mas abriga cerca de 160 presos amontoados. Barddal afirma que existe decisão judicial para esvaziar o local e fazer a desinfecção, com a queima de colchões, mas o DEPEN não recebe os presos.
Essa a realidade que nos estamos vivendo. A gente se sente traído pelo Estado e enganado, é frustrante, deprimente. É tão grave que vivemos um quadro de suicídio que em 15 meses, sete policiais civis tiraram a própria vida, num quadro de 3.950 policiais. É uma epidemia de suicídio em razão das péssimas condições de trabalho, como excesso de carga horária, desvio de atribuição. E o Estado não faz nada. E diz na mídia que está resolvendo. Mas nada muda. É muito triste.
Em Guarapuava, o caso mais recente foi o do investigador Edenilson Soares Batista, ocorrido no último dia (23). Ele sofria de depressão.
BARRIL DE PÓLVORA
Atualmente 180 cadeias em delegacias de polícia custodiam cerca de 1/3 dos presos no estado do Paraná. Desde 2016, o Ministério Público do Paraná monitora a situação carcerária no estado como uma frente de atuação institucional específica.
O trabalho é feito por meio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminais, do Júri e de Execuções Penais e também do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp).
No último dia 22, a Justiça determinou prazo de 60 dias para a transferência de todos os presos com condenação definitiva, que estão na carceragem da delegacia de polícia de Laranjeiras do Sul, para unidades prisionais. A ação ajuizada em Laranjeiras do Sul é mais uma das diversas medidas propostas pelo MP em todo o estado por conta de problemas nas carceragens em delegacias, notadamente questões ligadas à superlotação e instalações precárias e insalubres.
A crise instalada sobre o sistema prisional no Estado vem de longa data e atinge municípios em todo o Paraná. Em Guarapuava, não é diferente. Na última quinta (7), um preso foi encontrado enforcado na carceragem da Cadeia Pública de Guarapuava.
De acordo com o Depen – Departamento Penitenciário do Paraná, Crisley Junior Vaz tinha 23 anos e estava preso na carceragem da 14ª Subdivisão Policial de Guarapuava, desde terça (5), quando foi preso em flagrante pelos crimes de corrupção de menor e furto de veículo. Crisley foi encontrado morto na cela em que estava com outros presos, pela equipe de plantão durante a entrega do café da manhã.
Na Cadeia Pública de Guarapuava, as tentativas de fuga são diárias. Só em fevereiro foram registradas uma fuga de 12 presos e outra tentativa no último dia 12, nove dias depois da fuga. Em um ‘bate grade’ feito no dia 18 de fevereiro pelo Setor de Operações Especiais (SOE), do Departamento Penitenciário (Depen) de Curitiba, foram encontrados cerca de 100 aparelhos celulares.
De acordo com informações repassadas ao Portal RSN, cerca de 444 presos estão amontoados numa estrutura construída para abrigar 166 pessoas. Desses, 120 já estão condenados segundo levantamento feito em janeiro deste ano e já deveriam estar cumprindo pena no sistema penitenciário.
A cadeia de Guarapuava convive com situações emergenciais no centro da cidade e é considerada o local com o maior número de presos no Paraná entre as subdivisões policiais. No último dia 27, o então prefeito em exercício de Guarapuava Itacir Vezzaro, sancionou a doação de áreas para as obras do Centro de Socioeducação (Cense) e para a Casa de Custódia, duas unidades que contemplam a área de segurança pública.
Porém, o repasse dessas áreas para o Governo do Estado esbarra na falta de procurador que possa receber e assinar o recebimento das doações. De acordo com o secretário de Habitação e Urbanismo de Guarapuava, Flávio Alexandre, chefes de núcleos regionais exerciam essa função. Porém, ainda não houve nomeação nesse sentido.
O Portal RSN entrou em contato com o DEPEN, por telefone e também por e-mail para saber o posicionamento da Secretaria de Segurança Pública a respeito das denúncias feitas pelo policial civil Fábio Rossi Barddal Drummond, que é o atual presidente do Sinclapol – Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná. Mas até o fechamento dessa reportagem não obteve resposta.
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