A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento enviou essa semana, um documento ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com demandas importantes para o agronegócio do Paraná. Na última década, o agronegócio brasileiro tem sustentado o crescimento econômico do país, com recorde constante de produtividade de produção total, e com pouco aumento de área produtiva.
Em Guarapuava, o presidente do Sindicato Rural, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, fez uma análise dos principais pontos desse documento, e afirmou que esse ganho de produtividade foi possível entre vários fatores, graças à tecnologia e informação aplicadas no campo. “O agronegócio é o principal componente da balança comercial brasileira e além do crescimento econômico tem garantido as reservas cambiais”.
O documento entregue ao governo federal propõe aumento na concessão de crédito para o agronegócio, de R$ 194,37 bilhões na safra passada para R$ 220 bilhões na safra (2019/2020) a partir de julho deste ano. De acordo com Botelho, foi proposta uma redução de meio ponto percentual nas taxas de juros, caindo de 6% para 5,5% aos médios produtores e de 7% para 6,5% para os demais produtores, para as principais linhas de financiamento do agronegócio.
Dependendo do tipo do financiamento e da classe do produtor e objetivo, as taxas dos juros são diferenciadas. Tem taxas para mini e pequeno produtor, para médio produtor, para grande produtor os juros são mais altos, tem taxa diferente de juros para investimentos, então os juros são muito variados. O que está se pedindo é uma redução desses juros para dar mais competitividade ao produtor rural.
Isso é fundamental para o setor porque segundo o presidente do Sindicato Rural, o aumento da produtividade é resultado de um aumento também nos custos, devido a utilização de novas tecnologias, de insumos, adubos e sementes cada vez mais caras que também agregam mais tecnologia.
“Como todo e qualquer setor, o aumento de produtividade passa pelo aumento de investimentos e de custos. O que tem se notado no Brasil de maneira geral, no agronegócio, seja na parte agrícola ou na pecuária é que os produtores tem investido mais. E com isso há uma demanda maior por crédito também”.
E para dar respostas à altura desse investimento, o governo federal precisa cumprir todas as deliberações contidas no plano anual. Segundo Botelho, no plano anterior da safra de (2018/2019) nem tudo foi cumprido, e o déficit dificultou o financiamento para a compra de máquinas e equipamentos. “Faltou um pouco de dinheiro em relação ao que o governo tinha estipulado de crédito para o plano agrícola. Alguns produtores tiveram dificuldade de captação, por terem entrado no mercado mais tarde, ou por terem algum tipo de restrição de crédito”.
Rodolpho Botelho disse que por estarmos em uma região mais fria, os plantios em Guarapuava são sempre mais tardios que o restante do Brasil, por causa do clima e da temperatura e por isso, “andamos sempre da rabeira do crédito agrícola”. Para ele, o aumento de crédito para a agricultura ou para a pecuária, é muito importante para a Região de Guarapuava, já que segundo Botelho, essa é uma das regiões mais tecnificadas do Paraná e também do Brasil.
“Somos campeões de produtividade em milho de verão, estamos muito bem colocados em produtividade de soja também. A produtividade tem aumentado também nos últimos anos com novos materiais genéticos e tecnologia, e temos um diferencial muito grande que é a estabilidade produtiva”.
Se por um lado falta crédito, de outro o produtor da Região de Guarapuava tem uma ajuda na produção proporcionada pelas condições geográficas e climáticas.
Por estarmos numa altitude perto de mil metros acima do mar, os danos são menores, com menos variações climáticas. Mesmo esse ano que teve o problema de temperaturas muito altas na virada do ano e estiagem, não tivemos grandes problemas. Tanto que usamos menos seguro rural, uma necessidade e uma garantia dos bancos e do governo aos produtores.
Sobre a redução das taxas de juros, Botelho disse que essa proposta é fundamental e tem reflexos diretos na economia da Região. De acordo com ele, quanto mais movimentação financeira tivermos, maior será o giro do mercado, não só para o produtor rural mas também para pequenos comerciantes e donos de revendas.
Diferente de uma multinacional, em que os lucros são exportados para os países-sedes das empresas, no caso do produtor rural o lucro normalmente é investido na Região, com a reforma de barracões, com a construção de casa para funcionário, com a compra de um trator novo ou com a troca de implementos. Não é uma tarefa fácil reduzir os juros. Embora os juros controlados pelo governo para maioria dos setores estejam abaixo das taxas de mercado, ainda permanecem acima da taxa Selic.
Ainda sobre a dificuldade de conseguir viabilizar linhas de crédito, o presidente do Sindicato Rural Rodolpho Botelho afirmou que os bancos estão mais seletivos no repasse desses financiamentos.
Teme-se que essa postura se agrave, e eles só atendam produtores tradicionais, e segurem um pouco para novos clientes e novos correntistas. Um dos fatores que eu acho de extrema importância e que está dentro desse projeto de R$ 220 milhões, e que o governo precisa entender isso, são os financiamentos para médio e longo prazo de investimentos. Está se pedindo investimentos de máquinas, que também é interessante, mas o fundamental eu acredito que sejam os investimentos produtivos, que são os investimentos em calcário e fertilizantes para melhorar a capacidade do solo e com isso atingir resultados mais positivos.
Atualmente, o agricultor enfrenta dificuldades para conseguir um financiamento para fazer melhorias das condições de solo químicas como calcário e gesso. “São produtos que vão reagir por dois, três até quatro anos, então o financiamento tem que ser de médio e longo prazo”.
Por fim, Botelho lembrou de outro gargalo do agronegócio: mesmo sendo campeão na produção agrícola, o Brasil é deficitário na capacidade de armazenamento dos produtos.
“É preciso melhorar essa capacidade com silos e armazéns. Nós não temos condições de armazenar toda a nossa safra, o produtor é obrigado a vender na boca da colheita normalmente a um preço mais baixo, falta capacidade de suporte para produtores, cooperativas e cerealistas”, finalizou.